AMOR ETERNO
AMOR ETERNO
(BRICANDO COM FOGO)
O AMOR É ETERNO
UNTOUCHED
BY HIS DIAMONDS
Lucy Ellis
Ela exigia a única
coisa que o dinheiro russo dele não poderia comprar...
Para
o implacável Serge Marinov, o sorriso enigmático e o corpo de sereia de
Clementine Chevalier podem causar uma rebelião entre os homens! Por ser tão
encantadora é preciso estabelecer regras básicas: ele lhe dará noites de
prazeres infinitos, mas deixará sua cama ao primeiro raio de sol do amanhecer
de São Petersburgo. Serge é a realização das fantasias mais secretas de Clementine,
mas ela não tem o menor interesse em seu dinheiro. Seus preciosos diamantes não
a comovem. Então ela resolve criar regras próprias: não dividiria mais sua cama
enquanto ele não provasse que ela significava algo mais do que o mero
passatempo de um poderoso magnata.
Digitalização: Vicky
Revisão: Bruna Cardoso
Tradução:
Joana Souza
HARLEQUIN 2013
PUBLICADO SOB ACORDO
COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l.
Todos os direitos reservados. Proibidos a
reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte.
Todos os personagens desta obra são fictícios.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Título
original: A DEVIL IN DISGUISE
Copyright © 2012 by Caitlin Crews
Originalmente publicado em 2012 por Mills &
Boon Modem Romance
Título original: UNTOUCHED BY HIS DIAMONDS
Copyright © 2012 by Lucy Ellis
Originalmente publicado em 2012 por Mills &
Boon Modern Romance
Projeto gráfico e arte-final de capa: Núcleo i
designers associados
Editoração eletrônica: EDITORIARTE
Impressão: RR DONNELLEY
Distribuição para bancas de jornal e revistas de
todo o Brasil:
FC Comercial Distribuidora S.A.
Editora HR Ltda.
Rua Argentina, 171, 4° andar
São Cristóvão, Rio de janeiro, RJ - 20921-380
CAPÍTULO
UM
Clementine olhou novamente
através da vitrine enfeitada, quase espremendo o nariz contra o vidro.
Lá estavam as botas dos seus sonhos.
Feitas de camurça, forradas de pele, na altura das coxas. Permaneceria em São
Petersburgo por apenas mais um dia. Merecia algo para se lembrar da cidade.
Cinco minutos depois, estava de pé no
desgastado tapete cor de framboesa, calçando seu sonho de consumo. Sentiu-se
como Cinderela calçando seu sapatinho de cristal. O problema era fechar a bota
acima do joelho. Tinha 1,80m de altura e pernas longas.
Quase deu um grito de alegria quando o
zíper se fechou.
– Podem ir mais alto. Quer tentar? –
perguntou a funcionária ajoelhada diante dela.
Ela falava inglês, nessas lojas de luxo
todos falavam.
Clementine levantou um pouco a saia.
Estendeu a mão e puxou a camurça forrada cada vez mais para cima, até que
tocasse o interior de sua coxa. Suas pernas pareciam incrivelmente longas com a
saia de couro ajustada nos quadris. Observando seu reflexo, captou com o canto
do olho um movimento atrás dela no espelho e encontrou o olhar de um homem de
pé ao lado da porta.
Ele não estava ociosamente na porta, à
espreita. Estava propositalmente ocupando o espaço. Anunciando sua presença.
E olhava diretamente para ela.
Parecia ser quase 20 cm mais alto que
ela e tinha um porte adequado à altura. Clementine apostaria seu último par de
calcinhas de grife que era tudo músculo.
Era uma visão e tanto. Não se fazem
mais homens desse tipo.
Talvez quando os homens russos
batalhavam com mosquetes, ou mesmo antes, quando abatiam animais com clavas.
Ah, sim, podia imaginá-lo seminu e marcado por garras nas costas e no peito.
Mordeu o lábio. Podia imaginar de maneira bem vívida.
Mas, hoje, na era da tecnologia e da
libertação das mulheres, não se precisa mais de homens assim.
Exceto na cama. Uma liberação
inesperada de calor atravessou seu corpo.
Imagina se ele pusesse as mãos em você.
Imagina se fosse ele ajustando suas botas.
Seus olhos se voltaram para o espelho,
percebendo que o cossaco não se movera um milímetro. Instintivamente, porém,
sabia que ele havia movimentado alguns músculos porque aquele olhar espelhava
seu próprio desejo.
Clementine sentiu o olhar sobre si como
uma queimadura lenta, deslizando até o interior de sua perna exposta. Era tão
bom e quase tão excitante quanto sentir um toque.
Devia se cobrir, mas estava gostando da
atenção. Era inofensivo. Se ele quer olhar, que olhe. Afinal, não poderia de fato tocá-la. Eles eram desconhecidos.
Encontravam-se em um lugar público. Estava segura.
Ela estava gostando.
Abaixou-se, lentamente, dobrando uma
aba de pele para revelar a parte superior da coxa e, em seguida, a outra. Então
puxou para baixo o couro enrolado em seus quadris e alongou a saia, centímetro
por centímetro, como tinha visto muitas modelos fazerem para a câmera, até
estar decentemente coberta.
Fim do show.
Hora de voltar para o ninho de ratos
onde estava hospedada e dormir um pouco. Mas quando olhou para o espelho, o
cossaco ainda estava lá. Ele cruzou os braços, e Clementine notou os músculos
contra sua jaqueta.
Seu coração saltou. Ele era a fantasia
de qualquer mulher, mas também um pouco assustador. Parecia claro que a estava
esperando.
Um tremor percorreu seu corpo como um
choque elétrico, mas ela conseguiu se mover, escavando na bolsa o valor
equivalente ao de suas refeições do resto da semana para pagar as botas.
– Você tem um admirador – disse a
vendedora com um olhar discreto na direção da porta enquanto guardava seus
sapatos usados.
– Provavelmente tem fetiche por sapatos
– murmurou Clementine, mas havia um sorriso em seus lábios.
Respirando fundo, ela se virou e se
dirigiu à saída, mas percebeu que ele não estava lá. Diminuiu o passo por um
momento na porta, desapontada.
Saiu para a rua e seguiu para o sul.
Foi quando o viu encostado em uma limusine, polegares nos bolsos, olhando para
ela. Clementine perdeu o fôlego, sua pulsação disparando.
Tudo bem, Clementine. De jeito nenhum você vai lá se apresentar. Ela não queria se envolver com aquele tipo de gente novamente. A
indústria em que trabalhava estava repleta de mulheres que se aproveitaram da
aparência para alcançar certo estilo de vida. Ela não era uma delas e não
passaria a ser agora.
SERGE SE ateve
ao balanço dos quadris dela conforme se afastava, exibindo aquelas coxas
sensacionais através da meia-calça transparente. Sabia o que estava segurando
as meias: uma delicada cinta-liga azul.
Ele saíra da joalheria, onde deixara as
abotoaduras do casamento do seu pai para o conserto, e cruzara o átrio Art Nouveau
que ligava várias lojas do edifício quando a viu através da entrada da loja.
Uma jovem com uma saia de couro
levantada ao redor dos quadris, tão confortável no meio da loja como se
estivesse em seu boudoir. Ele tinha
visto duas tiras de carne pálida antes que o topo de suas meias rendadas as
cobrissem.
Quando ela começou a puxar as botas
para cima, ele sentiu um desejo irradiando através de seu corpo como um
relâmpago.
Se tivesse parado por ali, ele poderia
ter se afastado dali, mas de repente ela levantou uma perna e ele teve um
vislumbre do interior de sua coxa... A curva suave e carnuda no topo da perna
de uma mulher, destacada pelo fecho das meias.
Isso, garota... Um pouco mais alto... Muito bem.
Como se ouvindo seus pensamentos, ela
levantou a cabeça e encontrou seu olhar no espelho. Ela congelou. Esperou por
sua reação e foi recompensado com um pequeno sorriso. Então ela se inclinou,
expondo o topo das coxas. Para ele.
Tudo havia sido para ele. Ela sabia que
ele a estava olhando. Tornando tudo incrivelmente sexy.
Quando a saia deslizou para baixo,
soube que ficaria pensando não apenas naquele ponto no topo da coxa esquerda,
mas também em seu sorriso pelo resto do dia.
Observou enquanto ela desviava a
atenção para a vendedora. Lá não era Amsterdã. Ela não estava disponível e não
fazia seu tipo. O visual de prostituta nunca lhe interessou.
Partiu, mas, enquanto entregava sua bolsa
para o motorista, ficou protelando do lado do carro, esperando para vê-la
surgir. Curioso, interessado.
Ela saiu do edifício naquelas botas
ridículas, como uma pin-up dos anos 1950 ganhando vida. Cabelo castanho-dourado
brilhante, ombros estreitos, seios fartos e quadris curvilíneos. Suas pernas
eram longas, fortes e bem-torneadas.
O realista dentro dele disse que
deveria deixá-la ir. Ele tinha lugares para ir e poderia encontrar outra mulher
para aquecer sua cama.
Então ela se moveu e ele se esqueceu de
todos os planos que tinha para o resto do dia. Ela iria embora em poucos
minutos, perdida na multidão de fim de tarde.
Como que sentindo sua indecisão, ela
escolheu esse momento para virar a cabeça sobre o ombro e lhe dar um sorriso
que Mona Lisa teria invejado.
Sutil, mas estava lá. Venha me
pegar.
Então ela se foi com um farfalhar de
seu longo cabelo.
Serge se impulsionou para longe do
carro e com uma instrução brusca para o motorista segui-lo, saiu atrás dela.
CLEMENTINE NÃO pôde
evitar. Tinha lançado um último olhar sobre o ombro e quando viu que ele ainda
olhava para ela, sorriu. Aparentemente, isso foi suficiente, porque agora ele
estava vindo atrás dela.
Instintivamente, ela acelerou o passo,
seu corpo inteiro tenso de ansiedade.
Quando ela verificou novamente ele
ainda estava lá, mais alto que qualquer outra pessoa, um homem magnificamente
lindo, com cabelo castanho caindo rebelde sobre as têmporas, enrolando na base
do largo pescoço.
Não deveria encorajá-lo dessa maneira.
Devia virar e confrontá-lo nessa rua lotada. Mas não o fez. Diminuiu o passo,
colocou um pouco mais de balanço nos quadris e continuou andando.
Verificou novamente. Ele a acompanhava,
mas estava se aproximando. Sentiu-se relativamente segura.
SERGE DIMINUIU seu
ritmo momentaneamente e observou-a cruzar o tráfego esquizofrênico, ganhando
alguns assobios e gritos de motoristas, provavelmente por causa daquelas pernas
longas, não por qualquer infração de trânsito.
Ela possuía uma energia em seu corpo
que se traduzia no caminhar mais sexy que já tinha visto em uma mulher. E o que
chamou sua atenção foi o fato de que ela parecia totalmente alheia ao caos que
causava ao redor.
Ele não queria perdê-la.
CLEMENTINE ARRISCOU outro olhar sobre o ombro, mas não
conseguiu vê-lo. O desapontamento com a realidade prosaica voltava a cada
passo. Fim do jogo. Droga.
Mais à frente estava à passagem
subterrânea. Ela odiava aqueles túneis sujos, nunca se sentia completamente
segura, mas era a única rota que conhecia. Sem a distração de sua ridícula
fantasia sexual, as preocupações do dia começaram a povoar sua mente.
SERGE CONTINUOU na
calçada e observou enquanto ela começava a descer o túnel sozinha. Viu o perigo
se formando em torno dela e no mesmo momento, sem pensar duas vezes, começou a
correr.
Bozhe, esta mulher se arriscava. Ela sabia
que ele estava em sua cola e agora dois homens estavam de olho na bolsa
balançando em seus quadris pródigos e ela simplesmente continuava andando,
perdida em seu próprio mundo.
Ela não devia sair por conta própria. O pensamento cruzou sua mente antes do mais selvagem Derrube-os! Se intrometer e ele pulou para a
passagem subterrânea, visando o homem que já estava a ponto de puxar a alça da
bolsa.
Ele agarrou o assaltante pelo cangote e
empurrou-o para longe.
Era gratificante usar seu corpo para
alguma coisa além de sentar em um avião e um carro. Ele era atlético por causa
da prática de boxe e corrida, mas lutar estava em seu sangue e ele não tinha
uma briga há muitos anos.
Não que estivesse sendo um grande
desafio. O primeiro assaltante lançou um soco que ele bloqueou.
Em vez de agir inteligentemente e dar o
fora do caminho, viu a mulher lançar um ataque contra a nuca do agressor mais
próximo com sua bolsa.
Ela o distraiu e o primeiro cara
acertou um golpe de sorte, esfolando seu rosto. Serge o golpeou de volta e em
seguida concentrou a atenção no segundo bandido, que se moveu rápido, pegando a
bolsa que ela agitava como se fosse um porrete.
Pelo menos ela não era estúpida. Soltou
a bolsa e o homem começou a correr. O que estava no chão se pôs de pé e partiu
cambaleante, deixando Serge flexionando os dedos e só com Clementine.
– Você o deixou ir!
Ela estava lá naquela saia curta,
olhando de maneira indignada.
Para ele.
Serge deu de ombros, esfregando o
queixo. Não queria explicar que a segurança dela estava em primeiro lugar em
sua mente. Em vez disso optou pelo óbvio.
– Você está bem?
– Eles levaram minha bolsa! – a
lamentou.
Estrangeira. Britânica? Sua voz tinha
um tom baixo, ligeiramente rouco.
– Você tem sorte que tenham levado
somente isso – respondeu ele em inglês. – Essas passagens subterrâneas não são
seguras. Se lesse o seu guia, moya krasavitsa, saberia disso.
Ela olhou para ele com olhos
cinza-claros cheios de reprovação.
– Então a culpa é minha?
Ela mantinha as mãos nos quadris agora,
esticando a blusa de cetim branco pelos seios, tencionando os botões. Bozhe,
uma renda preta brotava sob o branco. Esta menina parecia incapaz de se manter
vestida. Ela era um estímulo ambulante à libido masculina. O que esperava que fosse
acontecer com ela andando por aí vestida desse jeito?
Estranhamente, ele queria arrancar o
casaco e envolvê-la com ele, o que arruinaria sua visão.
De perto, ela não era exatamente o que
ele esperava.
Era melhor, mais feminina, e quanto
mais a olhava, mais outras coisas começaram a saltar para além do óbvio. Era
mais jovem do que ele imaginava, mais próxima de 20 do que 30. Era toda aquela
maquiagem. Ela não precisava. Sua pele era macia como um pêssego maduro.
Ela xingou criativamente, empurrando a
franja para fora da testa.
– O que vou fazer? – perguntou ela,
ferozmente.
Ele tinha a resposta para isso, mas
esperaria que ela sugerisse.
Mãos ainda firmemente nos quadris, ela
caminhou alguns passos em outra direção, em seguida, virou-se e olhou-o adequadamente
pela primeira vez. Parte da agitação havia sumido. Tinha espessos cílios
castanho-claros, olhos claros e acinzentados e nariz salpicado de sardas.
Era realmente adorável.
– Sinto muito – disse ela com
sinceridade. – Fui muito rude com você. Obrigada por assustá-los. Foi muito
gentil de sua parte.
Ele não esperava aquilo. Deu de ombros.
Não precisava ficar sentimental por salvar uma menina no centro de São
Petersburgo. Teve apenas que olhar ligeiramente para ela para se lembrar de que
não era flor que se cheirasse.
– De onde você vem os homens não cuidam
das mulheres, kisa?
– Imagino que sim. – Ela deu de ombros
estranhamente, em seguida, mais um daqueles pequenos sorrisos. – Mas obrigada
novamente.
Com isso, ela partiu, os saltos finos
das botas estalando nas pedras. Estendeu os braços rigidamente, como se
estivesse se equilibrando, um gesto que lembrou-lhe que ela experimentara uma
situação desagradável.
Não podia acreditar que ela estava indo
embora.
Droga.
– Espere.
Ela olhou por cima do ombro.
– Posso lhe dar uma carona para algum
lugar?
Ela hesitou, olhou para ele com aqueles
olhos de coelha.
– Não, acho que não. Mas obrigada.
E continuou andando.
Clique, clique, clique.
CAPÍTULO
DOIS
Inacreditável...
Clementine mancou sobre uma poça, em direção
à luz no fim do túnel, xingando baixo. Tentou se concentrar nos aspectos
práticos. Teria que encontrar a embaixada, pedir dinheiro emprestado para seu
amigo Luke, telefonar para seu banco em Londres. Ela faria tudo isso após
sentar-se e chorar um pouco.
Sua bolsa era sua vida.
Era sua própria culpa. Normalmente era
muito mais atenta. Ficara tão envolvida em sua fantasia com o cossaco que não
prestara atenção. E tinha arruinado isso também. Ficou muito abalada para fazer
qualquer coisa além de tentar bloqueá-lo, mesmo depois que ele correu para
salvá-la.
Ele foi magnífico. Não se encontrava
caras como aquele em Londres.
A luz atingiu seu rosto e, andando
desajeitadamente com sua saia, subiu os degraus. Emergindo para a rua, ela
mancou até um quiosque próximo e se sentou. Estava realmente tremendo agora e
não tinha muito a ver com a pouca roupa que vestia. Supôs que fosse um choque
tardio, mas ela também se sentia nua sem sua bolsa... Vulnerável. Estava
acostumada a depender de si mesma e a bolsa tinha tudo o que precisava para se
manter segura. Começou a desejar que não tivesse mandado o cossaco embora.
Era inútil voltar para seus aposentos.
Precisava voltar ao centro da cidade, encontrar Luke.
Foi quando ela viu a limusine parada do
outro lado da rua com uma das portas abertas; em seguida, ela o viu caminhando
em sua direção.
Ele havia tirado o casaco e tinha as
mãos enfiadas nos bolsos, de modo que o tecido superfino da camisa azul estava
esticado pelo peito e abdômen musculosos. Parecia poderoso e não era apenas seu
tamanho. Era a maneira com que se portava, com tremenda confiança.
Clementine sentiu o interesse se
intensificando. Disse a si mesma que ela podia lidar com homens, mas todos os
seus instintos femininos diziam que não poderia lidar com aquele homem.
Ele era tão masculino que parecia ser
de outra espécie.
Ombros largos, braços grandes, coxas
rígidas... Longas e esguias e vindo diretamente para ela.
Ele esmagou ossos por ela, partiu pele,
derramou sangue.
– Vamos, entre. Vou levá-la aonde você
quiser – disse abruptamente, sua voz profunda e cautelosa.
Ela apenas ficou lá, olhando para cima,
tentando lidar com suas sensações.
Ele ergueu as mãos.
– Sou um cara legal. Não farei mal
algum. Você precisa de ajuda, certo?
– Certo – disse Clementine suavemente,
distraída pela intensidade de seus olhos verdes.
– Está hospedada longe daqui?
Clementine sabia que não deveria dizer
nada e recusar o passeio, mas ele a ajudara. Tinha se colocado em risco por uma
desconhecida. Ele era um
cara legal. E muito, muito sexy. Isso daria a ela um pouco mais de tempo com
ele. E estava tão cansada de cuidar de si mesma. Não faria mal aceitar uma
carona.
– Você sabe onde fica a embaixada
australiana?
– Vou encontrá-la.
E ela acreditava que encontraria.
SERGE DEU instruções
ao seu motorista observou aquelas pernas longas dobrando-se para dentro de seu
carro, deslizou para o lado dela. Então ela se inclinou para frente.
Estava tirando as botas.
Puxou um pé para fora, depois o outro,
revelando pernas longas em meias finas pálidas que brilhavam como seda. Sua
atividade parecia inconsciente, como se ele não pudesse estar interessado, mas
é claro que ela precisava saber o que estava fazendo.
Ela mexeu os dedos do pé e lhe lançou
um olhar curioso.
– Desculpe querido – disse ela. – São
novas e estão incomodando.
Ela pressionou os joelhos e formalmente
cruzou as mãos no colo, totalmente elegante.
Ela era incrível.
– Você é australiana? De Sydney?
– Melbourne.
Ela sorriu seus olhos não encontrando
os dele. Era um sorriso sutil. Ela manteve os lábios franzidos, como se
estivesse guardando um segredo.
– Tão longe. O que você está fazendo em
Petersburgo? Negócios ou lazer?
– Ambos. Eu estou aqui trabalhando. –
Ela deu de ombros como se não fosse importante. Os lábios se separando em um
sorriso mais aberto. – Mas sempre sonhei em visitar São Petersburgo. É tão
romântica, tão cheia de história.
– Gostou do que viu até agora?
– Muito.
Ela lhe deu um olhar sorrateiro,
deixando claro que não estava falando sobre a cidade... E não estava ficando quente
ali no carro? Ela virou a cabeça, olhou para fora da janela, expondo o pescoço
pálido, coberto pelo cabelo dourado.
Ele decidiu ir direto ao ponto.
– Quando você vai embora?
Ela encontrou seu olhar, deixando-o ver
aqueles olhos cinzentos, mais escuros do que quando ele os viu pela primeira
vez.
– Meu contrato acaba amanhã.
Dois dias. Perfeito.
– Que pena.
– O que você faz? – arriscou ela. –
Quero dizer, você deve fazer algo... Está passeando em uma limusine... – Riu de
nervoso. – Deve ser rico ou algo parecido.
Ele riu baixo e viu a pulsação no
pescoço dela se intensificar.
– Algo parecido – murmurou ele, o que
claramente a deixou intrigada.
– Você não é um daqueles que ficam
milionários da noite para o dia, é?
– Nyet, desculpe desapontá-la. Eu trabalhei
muito para conseguir meu primeiro milhão.
– Certo.
Aquelas mãos esguias vibravam em seu
colo.
Ela estava obviamente atraída por ele,
mas o dinheiro ajudava, quisesse ela ou não.
– Este seria o momento de lhe perguntar
se caso você não tivesse outro compromisso, jantaria comigo hoje à noite.
Ele a viu engolir em seco. Ela umedeceu
o lábio inferior, arrastando a atenção dele para os contornos de sua boca.
– Você é rápido. Tenho de admitir.
– Você não me deu muito tempo.
– Ah, não imagino que isso o impeça.
– Nada me impede kisa.
Ela deu de ombros negligentemente, um
brilho travesso em seus olhos cinzentos.
– Tudo bem, vamos ver como você se sai.
E ele não adorava um desafio?
Levantando a cabeça de prazer, ele fez
um julgamento rápido. Essa menina claramente gostava de jogos. Era razoável
imaginar com quantos outros homens ela havia jogado esses jogos.
Ele hesitou.
Será que isso importava?
Este era o seu tipo favorito de mulher.
Uma mulher com um brilho nos olhos e uma vontade de apenas se divertir. Sem
laços, sem drama. Nada de “felizes para sempre”.
No entanto, lembrou-se de que precisava
ser gentil e atencioso, como seria com qualquer outra mulher.
Cuidaria dela até que se despedissem em
alguns dias.
ELA TERIA um
encontro com o cossaco.
A imaginação de Clementine voava, mas
antes disso devia esclarecer algumas coisas. Mas o que diria? Eu não
costumo fazer shows sensuais para estranhos? Concordei em jantar, mas é só
isso. Sou uma boa garota.
Mas ele a convidou para jantar, certo?
E ele a resgatou.
Aquilo foi importante. Ainda estava se
sentindo um pouco sem fôlego.
E, honestamente, quão boa menina realmente era?
Sem a menor dúvida, ele deveria ser
recompensado.
Um pequeno sorriso se formou em seus
lábios.
Ela precisava pensar nisso. Tinha
percebido o jeito com que ele a olhava, como se fizesse um inventário sexual
das partes que gostava. Ela sabia aonde aquele caminho levava e não queria
percorrê-lo novamente.
Nem mesmo por um cossaco cujos
incríveis olhos verdes deixavam seus joelhos bambos e mamilos enrijecidos.
Serge colocou o braço ao longo da parte
superior do assento, para que sua mão ficasse a poucos centímetros do ombro
dela. Ele se posicionou de modo que estivesse inclinado para ela, pernas longas
e musculosas esticadas.
Sem o casaco, ela podia ver a largura
de seus ombros e a barriga plana delineada por baixo da camisa azul escura. Ele
realmente era de dar água na boca.
Pelo amor de Deus, tinha que parar com
isso agora! Nem sabia o nome dele e vice-versa. Ela podia resolver isso, pelo
menos.
– Eu sou Clementine Chevalier, a
propósito – disse, estendendo a mão.
– Clementine.
Seu sotaque era maravilhoso. Ele pegou
sua mão e levou até os lábios, e Clementine sentiu o formigamento brotar em
suas partes femininas, enquanto ele transformava o esforço dela para manter a
interação formal em um gesto à moda antiga. O tipo de gesto que tocava bem onde
sua princesa interior vivia.
– Eu sou Serge... Serge Marinov.
Serge, ela pronunciou silenciosamente,
praticou algumas vezes. Era sexy demais. Ela era um caso perdido.
Expectativa faiscava no ar. O carro
parou, e ela pegou suas botas.
– Obrigada pela carona. – Ela parecia
sem fôlego até mesmo para seus próprios ouvidos. – Devo dar o meu endereço ou
devo encontrá-lo em algum lugar?
– Eu vou buscá-la – disse ele, como se esta
fosse a única resposta lógica. – E eu acho que você devia me deixar lidar com a
embaixada.
Certo. Ela não ia discutir sobre isso.
– Você realmente quer este encontro –
observou Clementine, enquanto ele abria a porta.
Ele deu um sorriso impenetrável.
– Como estou me saindo?
– O que você acha?
Ela jogou um balanço feminino nos
quadris e partiu para o edifício, divertindo-se com a situação.
Pessoas olhavam para eles,
provavelmente se perguntando o que uma menina como ela estava fazendo com um
cara como ele.
Ela estava se fazendo a mesma pergunta.
Clementine tinha imaginado filas,
espera infinita, formulários a serem preenchidos, mas aparentemente Serge
Marinov não vivia nesse mundo. Vivia em um universo paralelo onde se era levado
ao andar de cima e lhe ofereciam chá ou café ou algo mais forte e onde uma alta
funcionária se virava em um terno de negócios e saltos baixos, com olhos
iluminados ao ver Serge. A mulher era tão equilibrada e elegante que deixou
Clementine enjoada. Ela sabia que as mulheres deviam bajulá-lo o tempo todo.
No entanto, ele a salvara de sabe-se lá
o quê naquela passagem subterrânea, a convidou para jantar e agora estava
fazendo uma situação difícil evaporar. Ele estava fazendo todo o trabalho. E em
meia hora Clementine já tinha tudo resolvido: passaporte visto, conta bancária.
– Quem diabos é você? – Ela deixou escapar enquanto
desciam as escadas de mármore do prédio da embaixada.
– Tenho alguns contatos na cidade –
respondeu ele, neutro. – Aonde posso levá-la agora?
Para onde você quiser, uma voz cantava. Sua parte chata deu o endereço a ele e
registrou sua desaprovação.
– É muito longe do seu percurso?
– Não é uma área particularmente
agradável.
– Tenho certeza de que o seu carro vai
ficar bem, quero dizer, você pode simplesmente me deixar em algum lugar e ir
embora.
– Estou preocupado que uma mulher
esteja vivendo sozinha neste edifício. Quem providenciou isso para você?
– É uma coisa de trabalho. – Clementine
deu de ombros, sentindo-se desconfortável sob seu escrutínio. – Tudo bem mesmo.
Já sou crescidinha, Serge.
Foi a primeira vez que ela disse seu
nome e ficou elétrica. Ele também pareceu gostar, pois se inclinou um pouco
mais perto e disse baixinho:
– Você é bonita demais para ficar lá
sozinha.
Clementine sentiu os joelhos cedendo.
Viu que olhava fixamente na linha de sua boca. Era tão implacável, mas havia
certa suavidade em seu lábio inferior. Ela queria pressionar o polegar nele,
ver se poderia arrancar um sorriso. Só para ela.
– Você realmente sabe como agradar uma
mulher – disse o mais levemente que pôde.
Ele se inclinou a respiração suave em
seu ouvido.
– Você precisa de agrados?
– Um pouco – murmurou ela,
envergonhando-se com a reação de seu corpo.
Ele deu um sorriso malicioso.
– Vou me lembrar disso.
Este encontro não era apenas um jantar.
Ela havia sido um pouco lenta nesse aspecto. Estava planejando seu vestido e
imaginando luz de velas e garçons trazendo champanhe quando provavelmente devia
pensar em lingerie e preservativos.
Era estúpido se sentir decepcionada.
Serge estava ali agora, e tudo começou por causa de sexo. E ele esperava que
acabasse em sexo. Clementine era uma garota crescida, entendia como tudo
funcionava. Tinha aprendido da maneira mais difícil que caras como aquele não
saíam com garotas como ela pensando em um futuro. Precisava tomar uma decisão
sobre como lidar com isso antes que seguisse em frente.
Não que ele tivesse tentado algo. Além
do breve gesto de levar sua mão aos lábios, não tinha colocado um dedo nela.
Serge era todo educado. Sentia-se completamente segura com ele e enormemente
grata... E terrivelmente consciente porque, de repente, estava se perguntando
se ele a olhava e via o que o outro homem tinha visto em seu passado infeliz:
uma certeza.
O EDIFÍCIO Vassiliev. Ele não deixaria nem um cão
lá. No entanto, era onde esta menina calorosa e vibrante estava dormindo.
Se não havia recursos, devia ficar em
um desses hotéis de concreto que abrigava turistas. Não eram atraentes, mas
pelo menos eram seguros. Bem, essa seria a última vez que ela dormiria ali.
Serge a acompanhou até a escada, ainda
sentindo-se mal por deixá-la ali. Clementine parecia envergonhada, como se o
ambiente terrível de alguma maneira fosse culpa dela.
Ficara quieta durante toda a viagem
desde a embaixada. Ele esperava um pouco de flerte, mas ela voltara a
pressionar os joelhos e não tirara as botas. As mensagens ambíguas não o
incomodavam tanto quanto observá-la entrar naquele quarto.
Ela era incrivelmente confiante. Havia
entrado em seu carro, dado a ele os seus detalhes. Provavelmente abriria a
porta para qualquer um.
– Mantenha isto trancado – disse ele,
batendo no batente da porta com o lado de seu punho. – Não abra a porta para
ninguém que você não conheça.
Ela quase fechara a porta para que ele
não pudesse ver dentro. Ou isso ou ela estava preocupada que ele fosse fazer
uma investida agora que estavam a um passo de uma cama. O que não fazia
sentido. Ela estivera mais exposta na limusine. Mas ele não tinha a intenção de
apressar nada. Algumas horas não fariam muita diferença, e ele pretendia cuidar
de Clementine Chevalier de modo que ela não se esquecesse de São Petersburgo
tão cedo.
Seria extremamente agradável para os
dois.
Ele lhe entregou seu cartão.
– Este é o meu número. Ligue-me se
tiver qualquer dificuldade. Estarei aqui às 20h.
Ela assentiu os olhos cinzentos
cautelosos. Então aquela doce curva no canto de sua boca apareceu, e Serge
lutou contra um impulso de se inclinar e beijá-la, porque uma vez que fizesse
isso, criaria um cenário mais suave do que o que tinha planejado.
Sexo direto, nada de sedução. Era o que
estava no cardápio para essa noite e a seguinte.
Guardaria a sedução para uma mulher que
precisasse.
CAPÍTULO
TRÊS
Clementine permaneceu no seu buraco de rato miserável o suficiente para tirar as botas e
colocar um jeans, então partiu para o Grand Hotel Europe.
– Você vai o quê?
Luke deslizou os óculos até a ponta do
nariz depois de ouvir a história.
Que os óculos fossem apenas enfeite
tornou o gesto ainda mais simpático. Eles se conheciam desde a adolescência,
quando foram vizinhos. Encontrar-se com ele novamente em um pub em Londres fora
acidental.
Sem Luke, Clementine duvidava que teria
durado mais do que alguns meses em Londres naquele primeiro ano. Ele conseguiu
para ela o trabalho com a agência Ward.
Clementine se sentou na ponta da cama
dele.
Como chefe de relações públicas na
filmagem da Verado, Luke tinha um quarto inteiro no Grand Hotel Europe.
– É só um jantar, Luke.
– Não, viu você em uma loja de sapatos
e seguiu você até o Nevsky...
– E me salvou.
– Salvou você... Certo. – Luke era todo
cinismo. – Um cara roubou sua bolsa.
– Dois... Dois tipos bem nojentos. E
então ele simplesmente resolveu tudo. Levou-me em sua limusine.
– Apenas garanta que seja só isso.
Jantar.
Clementine soprou ar acima de sua franja.
– Sim, mamãe.
Luke sentou-se ao lado dela.
– Querida, esse não é o cara.
– Que cara?
– Que você está procurando.
– Eu não...
– Ei, Clem, lembre-se com quem está
falando. Eu estava lá no ano passado, lembra? Para catar os pedaços. Esse cara
é rico, certo? Impressionante? Soa familiar. Você é o tipo dele, querida, mas
ele não é seu.
Não, ela não acreditaria. Não deixaria
que uma única má experiência alterasse o curso de sua vida. Mas com o lembrete
de Luke a realidade começou a alcançá-la.
– Não sei o que vai acontecer, mas
realmente quero descobrir. – Podia sentir seu rosto esquentando.
Luke balançou a cabeça.
– Eu vou dar o número do meu celular
para você, tudo bem? Pode me ligar a qualquer hora. Aonde quer que ele leve
você, arranje o endereço, e se ele quiser levá-la a qualquer lugar fora da
cidade, diga não... Entendeu?
– Ele não é um assassino.
– Provavelmente não, mas ele sabe que
você é uma turista. Eu não posso acreditar que deixou que ele ficasse olhando
para você em público. Essas suas pernas deviam ter seguro.
– Não são tão boas.
Clementine beliscou uma das coxas.
– São sensacionais, princesa. Agora,
escute o tio Luke... E a proteção?
Clementine piscou.
– Caramba, Clem, eu sei que você não
sai há um tempo, mas nada mudou meu amor.
– Nunca confie no cara – entoou
Clementine, querendo saber o que Luke diria se soubesse que ela nunca tinha
feito sexo casual na vida.
– Boa menina... Mas você não vai dormir
com ele, não é?
Clementine deu de ombros,
despreocupada, e Luke jogou a cabeça para trás e riu.
– Adoraria ser uma mosca na parede
quando esse cara perceber que vai para casa sozinho.
– Talvez ele só queira me conhecer
melhor.
– Continue pensando assim, querida, e
verá um boi passar voando, minha pequena puritana.
PURITANA. DIFICILMENTE.
Ela namorou. Só não nos últimos 12
meses. Mas, principalmente, ela trabalhava. Trabalhava desde os 17 anos,
mantendo-se com qualquer tipo de trabalho braçal, estudando à noite. Não
sobrava muito tempo para relacionamentos. Mesmo amizades. Tinha um monte de
conhecidos, mas apenas alguns amigos verdadeiros. Ela sabia a diferença, assim
como sabia que o encontro com Serge Marinov era um pouco de diversão para
comemorar o final de seu contrato com a Verado.
O que a lembrou... Pegou os
preservativos e jogou sobre o criado-mudo.
Ela só fazia sexo em relacionamentos,
independentemente do que Luke pensasse.
Dadas as circunstâncias de seu
encontro, ela deixou de lado a pilha de saias curtas e blusas apertadas e tirou
o vestido de cetim verde pálido, que embalara para saídas à noite com seus
colegas de trabalho.
O corpete plissado cobria seus seios
modestamente e prendia-se em torno do pescoço, deixando seus ombros expostos.
Ela prendeu o cabelo em um coque,
destacou a boca com batom rosa e então calçou sandálias douradas.
Da janela, viu um carro esporte,
prateado e rebaixado, entrar no pátio. Tinha que ser ele. Não queria que
subisse novamente. Era muito íntimo, deixando-a com certo desconforto.
Quando chegou ao pé da escada, viu
Serge caminhando em sua direção. Registrou o momento em que ele a viu, e que
tinha, literalmente, ficado paralisado.
– Oi – disse ela, um pouco sem fôlego.
Ele usava calças sob medida, a camisa
aberta na garganta era cara, e a jaqueta escura gritava dinheiro. Ele não
tirava os olhos de Clementine e não havia nada de amigável no olhar que lhe
lançava. Por um momento tudo o que ela viu foi um lampejo de quase selvageria
naqueles belos traços tártaros, enquanto Serge cobria a distância entre eles em
alguns passos.
Clementine puxou a bolsa até a cintura,
dobrou os cotovelos em uma pose clássica e esperou por ele.
– Você está deslumbrante.
Sua voz profunda guardava o mesmo
apreço que ela via em seus olhos e, por um momento vertiginoso, pensou que ele
poderia se inclinar para beijá-la. Mas ele simplesmente a pegou pelo cotovelo
para guiá-la.
Ele irradiava força e confiança. O que
havia naquele homem que deixava seu sangue vibrando pelo corpo? Estava tudo
errado, porque isto não poderia ser nada mais que um jantar.
ERA MUITO mais
que jantar. Se pudesse, a levaria direto para casa.
Ele não podia deixar de admirar sua
habilidade de deslizar para dentro de um carro rebaixado. Ela transformava o
ato em arte. Como quase tudo. Percebeu que ela provavelmente tinha muita
prática. Mulheres como essa exigiam carros de alto desempenho... Vinha junto
com o corpo que tinha a oferecer e Clementine era uma peça estrategicamente
projetada de fêmea.
E Serge a tinha exatamente onde queria.
Em menos de um minuto, ele estava ao
lado dela, colocando o carro em marcha, verificando discretamente seu corpo.
– Pronta?
– Como nunca.
Ela estava nervosa? Um pouco
entusiasmado por esse pensamento, ele deixou o motor pulsar, e ela pulou.
– Faça de novo – a encorajou.
Sorrindo com seu divertimento, ele
voltou para a estrada com a experiência que tinha construído com esse carro,
consciente de que estava se exibindo. Ele fez uma nota mental. Ela gostou do
carro. Ela gostava de surpresas.
Clementine abriu a boca e liberou um
pouco daquele belo sotaque.
– Então, onde estamos indo?
– Há um lugar no Neva que acho que você
vai gostar.
Ele não queria tirar os olhos dela.
– Este carro é incrível – comentou-a.
– Você gosta de carros rápidos, kisa?
Ela deu de ombros.
– Gosto de velocidade.
– Não posso andar muito rápido no
centro da cidade. Por que você não relaxa e desfruta do passeio?
– Farei isso.
Ela inclinou seu corpo para que uma
perna ficasse escondida atrás da outra, exibindo a longa e bem-modelada linha
do seu corpo, do ombro ao peito e, em seguida, a curva do quadril e das pernas
longas até o fecho de suas sandálias.
Clementine estava lhe olhando, e ele
podia sentir seu olhar curioso. Serge quase rosnou quando ela disse:
– Eu gosto do couro vermelho. Parece
caro.
Eles encontraram uma retenção no
trânsito e, em vez de procurar uma maneira de sair dela, ele se inclinou para
trás e seguiu o comprimento de seu braço fino, a curva de seu peito, ergueu os
olhos para o sorriso em seus lábios. Seus olhos brilhavam de malícia.
Tudo indicava que ela era experiente em
ser provocante, mas o sorriso e o olhar deduravam o quanto estava se
divertindo.
– Você gosta de coisas caras, kisa?
– Eu realmente gosto que você seja rico
– respondeu ela, piscando os cílios postiços para ele escandalosamente.
– E eu realmente gosto de uma mulher
que aprecia couro. Gostei da sua saia esta tarde.
– Fica bom sobre a minha pele. – Suas
bochechas estavam começando a ficar coradas.
Ele teve que perguntar.
– O que mais você gosta na sua pele?
Ela riu.
– Calor.
– Bom saber. Vou garantir que você não
passe frio esta noite.
– Vai me emprestar o seu casaco? – Seus
olhos estavam cintilando. Seu sorriso tinha florescido. – Que cavalheiro.
Ele a olhou, então olhou novamente...
Como se quisesse verificar se o que tinha visto pela primeira vez não fora
alterado e, em seguida, seus olhos ficaram especulativos. Especulação
masculina.
Clementine se recostou um pouco mais no
assento. Talvez fosse hora de conter o flerte.
Concentrou-se no lado de fora, dizendo
a si mesma que poderia lidar com esse cara. Ele lhe fez algumas perguntas sobre
sua estada em São Petersburgo, e a atmosfera do carro se amenizou.
Sentindo-se um pouco mais confiante,
ela correu secretamente o olhar por ele. Do cabelo curto rebelde até o rosto,
que revelava uma ascendência do sul da Rússia, a sensual saliência da boca, as
linhas limpas e sólidas da mandíbula, o grande corpo bruto que fazia suas
bochechas arderem. Era uma visão de levar mulheres à loucura.
Ele olhou para ela novamente, e seus
olhos lhe disseram que sabia exatamente o que ela estava fazendo.
– Gostei da sua jaqueta – disse ela,
sinceramente.
Ele sorriu, formando vincos atraentes
ao redor de sua boca que o faziam parecer mais jovem, mais relaxado, como se
estivesse gostando da companhia. Ele entendeu a piada. Serge se comportaria
bem. Decidiu, então, que podia relaxar.
O tráfego diminuiu quando passaram pela
ponte. Uma de suas mãos descansava no volante, a outra, passava marchas,
enquanto manobrava o carro desviando de obstáculos. Atravessou, por fim, a
cidade com uma habilidade que a hipnotizou.
Outras imagens começaram a povoar sua
cabeça e foi difícil censurá-las. A maneira como ele tinha investido contra
aqueles homens... Toda aquela agressão e ossos quebrando... O jeito como ele
havia apanhado por ela e assustado aqueles caras. Ele fizera isso porque por
baixo de toda a polidez e cortesia que mostrara a ela, era um cara grande,
forte e violento... E aquilo não fazia todas as suas partes femininas
formigarem? Simplesmente não faziam mais homens como aquele.
– Você ficou quieta – disse ele.
– Estava admirando a vista.
Era hora de puxar as cortinas sobre a
paquera. Ela estava se divertindo muito, como antigamente, antes de ela
aprender como sua provocação poderia ser mal interpretada.
– Eu estava pensando como é claro.
– As noites brancas estão quase
chegando. Não há nada como elas.
– É uma pena que eu não vá estar aqui
para vê-las. Mas parece lindo agora. A luz parece abrandar tudo.
Ele olhou para ela.
– Eu também acho.
ELE TINHA escolhido
um lugar não convencional... Pequeno, acolhedor. Havia uma chance de Clementine
não gostar. Ele levou algumas mulheres ali antes, observou-as tropeçar na
cozinha tradicional russa, ouviu enquanto repudiavam o entorno exótico. Mas só
estava na cidade por algumas noites e amava o lugar. Era familiar e barulhento
e depois das 20h havia ciganos.
Nessa noite, o local não importava. Era
apenas um meio para um fim. Ela estava com ele porque gostava de dinheiro; fora
muito honesta quanto a isso com todos os seus pequenos comentários.
Correspondentemente, seus sentimentos sobre essa garota eram sujos e básicos.
Ele tinha o que ela queria e ela definitivamente tinha o que ele estava procurando.
Clementine inclinou a cabeça para trás
enquanto ele a escoltava até o interior, observando o teto baixo de vigas. Ela
esquadrinhou o local, já lotado com clientes. A decoração era simples, mesas
redondas, piso de madeira, murais nas paredes de cenas históricas da Rússia.
Ela sorriu.
– Isso é incrível. Você é
surpreendente. Eu esperava uma adega.
O prazer em seu rosto o pegou
desprevenido. Homens viravam as cabeças quando eles caminharam entre as mesas e
ele sentiu um pingo de possessividade não familiar.
Clementine parecia ignorar aquilo
enquanto o proprietário do restaurante, Igor Kaminski, os levava até a mesa.
Isso o lembrou de sua perseguição a ela no Nevsky e ele reconheceu que, apesar
de encurralá-la para um jantar, nada havia mudado. Ela ainda estava um passo à
frente, evasiva como sempre, e ele estava gostando.
Ela soltou uma exclamação de prazer
quando eles chegaram à mesa e ele observou Igor contar a ela uma breve história
do restaurante. Igor ficou lá com um grande sorriso em seu rosto largo e feio,
observando-a. Eu deveria bater nele ou fazer o pedido? Perguntou-se Serge, não
inteiramente brincando. Ele quebrou o feitiço perguntando o que Clementine gostaria
de beber.
Ela lhe deu um daqueles sorrisos doces.
– Vou deixar isso com você.
Ele pediu vinho georgiano, e Igor
voltou com os cardápios, ladeado por três homens que Serge sabia serem seus
filhos. Clementine estava gostando, então ele se sentou e deixou que as
provocações se desenrolassem enquanto zakouski era
servido e os homens encorajavam Clementine a provar cogumelos em conserva
mergulhados em creme de leite, diferentes variedades de caviar, ikra fresco do Cáspio, sevruga salgado. Ela empurrou tudo com vinho,
e Serge observou-a tentando entender o inglês enrolado e dando a todos igual
atenção.
A mesa estava lotada e o restaurante,
barulhento. Não era o que ele tinha planejado para a noite. Comida, álcool, um
pouco de conversa e Clementine ofegando seu nome por algumas horas agradáveis
era o plano.
Então Clementine se inclinou para ele e
disse:
– Quando começa nosso encontro?
Serge acenou para Igor, embora mantendo
os olhos nela, e murmurou algo para o proprietário. Ele imediatamente deixou-os
sozinhos.
– Todo mundo é tão amigável – confidenciou-a
sobre a borda do copo. – Eles certamente conhecem você.
– Eu acho kisa,
que você foi quem os manteve aqui.
– Não seja bobo – disse ela,
provocando-o com os olhos, enquanto mexia na sopa.
As pequenas velas vermelhas nas bacias
de vidro sobre a mesa lançavam um brilho irresistível sobre ela. A pele exposta
levemente bronzeada que podia ver tinha o tom pálido do mel, estendendo-se da
curva dos ombros pelo comprimento delgado dos braços até aquelas mãos de dedos longos
e as pulseiras de ouro que tilintavam em seus pulsos.
Uma menina assim, com o nível de
independência de Clementine, sabia exatamente o que estava fazendo. Ela
precisava entender o que essa noite representava. Ela iria para casa no sábado,
o que significava que tinha que ser essa noite ou na próxima.
A expectativa estava começando a
queimar.
– Então, o que traz você aqui,
Clementine?
– Hora de conhecer um ao outro? –
brincou ela, desejando que sua barriga não estivesse vibrando.
Ele se inclinou em direção a ela.
– Só se você quiser kisa.
Pelo olhar que ele lhe deu, ela teve
certeza de que estava corando. Tentando se recompor, decidiu disparar algumas
perguntas sobre ele.
– Então, você vem sempre aqui?
– Quando estou na cidade.
– Uma mulher diferente a cada vez?
– Sou conhecido por vir sozinho.
Serge percebeu a maneira como o dedo
indicador de Clementine parara de acariciar o copo e ela agora estava
agarrando-o. Qual era o problema? Mulheres diferentes? Será que ela precisa
saber se ele tinha o hábito de pegar as mulheres na rua?
Na verdade, aquela era a primeira vez,
mas ele não queria chamar atenção para isso, lembrá-la que tinham se conhecido
naquela tarde.
– Então, diga-me por que você está em
Petersburgo?
– Estou aqui pela Verado... A empresa
italiana de bens de luxo.
– Dã, eu os conheço.
– Eles estão promovendo sua loja no
Nevsky. Trabalho com relações públicas.
Serge se recostou, absorvendo seu
orgulho no trabalho. Relações públicas. Claro. O que mais uma garota como esta
faria se não seduzir e influenciar pessoas como ganha-pão?
– A inauguração é amanhã à noite. Em
seguida, voltarei para Londres.
Serge tinha perdido o interesse em seu
trabalho. Estava muito mais interessado nas diferentes luzes que ele conseguia
ver em seu cabelo... Douradas e vermelhas e marrons. Era natural? Provavelmente
não.
– Imagino que você seja muito boa em
relações públicas.
– Acho que sou. Gosto de pessoas.
Clementine notou que ele estava
prestando mais atenção na sua aparência do que no que ela falava. Isso a deixou
agitada.
Serge ficou tentado a comentar que o
buraco de pulgas que ela estava hospedada dizia mais sobre seu trabalho do que
palavras.
– O que mais você faz Clementine, além
de influenciar pessoas?
– Você realmente quer saber?
Havia algo na maneira como ela perguntou,
dobrando o queixo, mas com um toque de vulnerabilidade em seus olhos. Ele não
esperava isso.
– Sim, quero – disse, surpreendendo-se.
Ela lhe lançou um olhar curioso.
– Tudo o que faço é trabalhar.
– Você é uma mulher bonita. Nenhum
namorado sério?
Ela encontrou seus olhos candidamente.
– Não sairia com você se tivesse.
Serge se recostou na cadeira, revirando
os ombros como um grande homem russo preguiçoso.
Honestamente, pensou Clementine, o que era aquilo sobre homens e
concorrência?
Ele tomou um gole de conhaque, seus
olhos quentes sobre o rosto e os ombros nus dela.
– E você?
Ela jogou o cabelo para trás, dando-lhe
um sorriso eletrizante.
– Por que um cara rico e lindo ainda
está solteiro?
– Lindo? – Parecia estar se divertindo.
– Bom saber, kisa.
Ele não tinha respondido à pergunta. O
sorriso de Clementine desapareceu. Será que ele era casado ou tinha uma
namorada?
– Então, ninguém está esperando por
você em casa?
A pergunta soou tão canhestra que ela
poderia ter chutado si mesma.
– Não, ninguém.
Ele colocou o copo sobre a mesa.
– O que lhe deu a ideia de que eu era
casado? – perguntou subitamente tenso.
– Cuidado nunca é demais – disse ela
levemente.
Dã, ele poderia imaginar uma fila
interminável de caras dando em cima dela. Casados, solteiros... Gays. Qualquer
homem vivo.
Ele tinha uma aversão pessoal por
adultério. Não saía com mulheres casadas, nunca. Então por que diabos o assunto
o irritou tanto?
Era a ideia de um homem casado dando em
cima dela.
Qualquer homem.
Porque ele a queria. Para si mesmo.
Exclusivamente.
E por que diabos ele sentia que a
qualquer momento ela podia se levantar, desculpar-se e nunca mais voltar?
Clementine sabia que havia algo nela
que atraía caras como aquele. Bonitos, confiantes, que pensavam que poderiam
arrastá-la para a cama. E eles sempre tinham dinheiro. Luke mencionou que era a
sua personalidade, mas ele quis dizer sua confiança. Ela era uma mulher que
gostava de se vestir e flertar. Intimidava um monte de bons rapazes que estavam
com medo de se aproximar dela, ou que, como Serge, queriam saber por que ela
não estava em um relacionamento.
Ela estivera. Em dois curtos e
insatisfatórios relacionamentos com caras legais, mas que no final a tinham
entediado. Ela reconhecia agora que a haviam feito sentir-se menos como ela e
mais como a menina que ela imaginava que deveria ser. Clementine com as luzes
apagadas.
Serge observava as emoções zunindo pelo
rosto expressivo de Clementine. Seus olhos cautelosos de repente o fizeram
sentir-se desconfortável com o plano grosseiro de um par de noites de diversão.
– Você ainda não me disse o que faz –
disse ela.
Ela realmente queria conhecê-lo e algo
apertou seu peito.
– Faço gestão desportiva – respondeu
ele, brevemente.
– É interessante?
– Às vezes.
O coração de Clementine afundou. Ele
não queria dar qualquer informação sobre si mesmo. Por um momento, ela foi
jogada de volta naquele turbilhão estranho de meses atrás, quando fora
perseguida por outro homem rico que tinha se esquivado de perguntas pessoais e
a sufocava em atenção romântica sem precedentes.
Depois de sua última separação, ela
voltara a sair casualmente, até Joe Carnegie. Ele tinha sido um cliente, o que
significava que estava fora dos limites pelo próprio código pessoal. Mas no
minuto em que o trabalho terminou ele estava ao telefone, rosas foram entregues
à sua porta. Ele a incentivou a aceitar seus “presentes”, fornecendo-lhe
vestidos espetaculares nos quais poderia exibi-la. Eles chegavam embalados
antes de cada encontro. Ele a havia preparado para um papel e ela aceitou.
Tinha sido tão ingênua.
Ele a bajulava levava para jantar e a
tratava como uma princesa. Ela se abriu para ele tão rapidamente, tão
facilmente. Até a noite em que a tinha levado a um restaurante, à noite em que
ele decidira que a relação devia ir além da porta do quarto e a presenteou com
uma propriedade. Ele havia comprado um apartamento para ela, um lugar onde ele
poderia visitá-la enquanto estivesse na cidade.
Alguns dias depois, ela lera no jornal
sobre seu noivado com uma estrela francesa, que também era filha de um grande
industrial. Uma mulher de seu próprio estrato social. Ele sempre a quis apenas
como amante.
A memória ainda queimava. Prometera a
si mesma que não deixaria isso estragar sua noite, mas já estava tentando
adivinhar as motivações de Serge. Ele fora um perfeito cavalheiro, mas Joe
Carnegie, também.
Ela olhou ao redor para a luz ambiente,
as risadas dos outros clientes e os cheiros maravilhosos da velha culinária
russa e percebeu que havia desembarcado em mais uma de suas estúpidas fantasias
românticas.
– Desculpe-me – disse ela abruptamente,
colocando-se de pé. Serge se levantou. – Toalete – murmurou incapaz de
olhar-lhe.
O espelho do banheiro refletiu sua
pálida maquiagem e amaldiçoou o uso do rímel, porque essas lágrimas salpicadas
em seus olhos deixariam rastros.
Ela não estava triste. Sentia-se
extremamente irritada. Consigo mesma.
Como diabos ela conseguia se colocar
naquelas situações? Será que tinha a palavra “otária” tatuada na testa?
Duas outras mulheres se juntaram a ela
nas torneiras, e Clementine enrolou ao lavar as mãos, verificando o cabelo.
Ela olhou para cima e reconheceu uma
das garotas como sua garçonete, uma das filhas de Kaminski.
– Serge Marinov – disse a menina. –
Sorte sua.
Sim, sorte minha. Clementine deu um puxão no vestido e sacudiu a cabeça. Estava
sendo uma idiota. Ela possuía um homem incrível esperando lá fora e estava se
escondendo no banheiro. Era hora de seguir com sua vida. Se Serge Marinov tinha
algum plano masculino estúpido... Bem, ela também tinha o seu.
Quando Clementine se aproximou da mesa
e ele a avistou, algo parecido com alívio tomou conta de seu rosto.
Bem, que surpresa, adivinha quem estava
no comando. Uma onda de confiança a encorajou.
– Saudades de mim? – ela não pôde
resistir à pergunta.
– A cada minuto, kisa.
– Ainda vamos comer?
– Café?
– Chá.
Quando o samovar veio, os ciganos já
tinham invadido o restaurante. Ficara impossível ser ouvido acima da música.
Clementine se encantou com a
performance. Quando o restaurante explodiu em palmas, ela se juntou,
cantarolando inconscientemente.
Quando os artistas deram a volta para
coletar moedas de ouro, ela se atrapalhou com a bolsa.
Ele estendeu o braço e colocou uma das
mãos sobre a dela, jogando um pouco de dinheiro para as saias da menina.
Clementine sacudiu um dedo para ele.
– Eu posso pagar Senhor Milionário.
– Você está comigo – respondeu ele,
como se aquilo dissesse tudo.
A princesa interior de Clementine
suspirou, mas a mulher capaz, independente e trabalhadora bateu em seu braço.
– Vamos lá, riquinho, vamos sair daqui
e eu compro um sorvete para você.
Houve uma agitação quando partiram.
Clementine causou uma impressão sobre os Kaminski, o que era bom, mas na
próxima vez que viesse ali sem ela haveria perguntas. Ela era desse tipo de
garota.
Inferno, ele tinha suas próprias
perguntas. Nada saíra como planejado. Serge devia estar atravessando a cidade
até sua casa agora, depois de uma refeição trocando gracejos sexuais. Em vez
disso, passara a noite observando-a se divertir com exceção do momento bizarro
em que pensou que ela se levantaria e sairia do restaurante.
Mesmo agora, ele queria pegar na mão de
Clementine, mas ela mantinha uma distância clara entre seus corpos, segurava a
bolsa com as duas mãos, com aquela tradicional pose complementando o balanço em
sua caminhada.
Embora já passasse das 22h, ainda havia
luz. Estavam próximos das noites brancas de junho. Serge tirou a jaqueta
enquanto passeavam. A vontade de deslizar um braço ao redor dela era muito
forte, mas ele se conteve. De certo modo, isso se transformou em um encontro
real.
Um primeiro encontro.
Clementine olhou para Serge.
– Obrigada por me convidar. Tenho
apenas trabalhado ultimamente. É bom colocar um vestido e ser levada a algum
lugar divertido.
Bozhe, ela era tão sincera. E ele engolindo.
Isso provavelmente tornava Serge um fraco, mas havia algo que fez com que ele
acreditasse nela.
– Você é uma mulher muito fácil de
agradar, kisa –
disse ele, finalmente. – Mas a noite mal começou, não?
Clementine escondeu um sorriso.
– Talvez para você, mas estou cansada e
acordo cedo amanhã.
E aquilo simplesmente amarrava todas as
suas expectativas e as atirava no rio?
– Certo – disse... E tudo se encaixou.
Ela sabia que essa noite não terminaria
na cama, o que significava que a pequena encenação no carro foi para sua
própria diversão. Lembrou-se do brilho em seus olhos, o convite para rir junto
com ela.
O que significava que essa noite tinha
sido uma oportunidade perdida... Para ambos. Ela estava indo para casa no
sábado, deixando-o com uma decisão a tomar.
Será que ela valia à pena? Ou melhor,
será que deveria estar brincando com ela? Aquela boa menina? Toda doce e
sincera? E isso não o instigava na parte masculina tradicional russa que ele
habitualmente não mostrava? De onde ele tirou a ideia de que ela não precisaria
de sedução? Por que ela não deveria fazê-lo
se esforçar?
Instintos que Serge não tinha muita
familiaridade diziam que ele precisava lidar com isso delicadamente. Outro
instinto, mais familiar, lhe dizia para tomá-la nos braços e tirar todo
pensamento que ela pudesse ter sobre outros homens de sua cabeça... Pelo menos
até amanhã. Tinha que ser amanhã. Porque ela voltaria para Londres no sábado.
E se ele não a tivesse em seus braços
essa noite, ficaria louco.
Ele pegou a mão de Clementine, algo que
estava querendo fazer a noite toda. Ela se virou para ele com uma expressão de
expectativa, divertida. Serge se aproximou e levantou a outra mão para tirar um
de seus cachos de cabelo do rosto. O sorriso dela desapareceu, os olhos ficaram
um pouco mais redondos, e a boca se suavizou.
– Você está me matando, Clementine –
disse ele em russo e moveu-se para sanar sua angústia.
Nesse momento, ela fez um som suave de
consternação e, para sua surpresa, afastou-se.
– Eu ainda quero comprar sorvete – disse
ela sobre o ombro.
Sorvete. Não sexo. Nem mesmo um beijo.
Não essa noite. Ela começou a andar, balançando um pouco sobre os saltos, e ele
ficou ali, imóvel, contemplando-a.
Clementine lançou um olhar para trás.
– Você vem?
Ela estava indo para o caminho errado.
Os vendedores de sorvete ficavam na outra direção. Mas a sua pergunta se
dissolveu em um sorriso provocante, e sem pensar duas vezes ele foi atrás dela.
CAPÍTULO
QUATRO
Serge passara a manhã
ouvindo a discussão que eclodiu entre o presidente de sua empresa e o homem em
que mais confiava: Mick Forster. Enquanto assistia à transmissão na sala de
reuniões do edifício Marinov, em Nova York, para a tela na frente dele, tomara
uma decisão.
– Estarei no JFK amanhã na hora do
almoço – disse ele brevemente, fechando seu laptop.
Estivera fora do país menos de um dia e
já tivera problemas com um jovem lutador, Kolcek, que estava sofrendo acusações
de agressão e recebendo grande publicidade negativa. Mais importante, estavam
atrasados na construção do estádio em Nova York.
No entanto, tudo o que podia pensar era
que, por causa de empreiteiros atrasados e um lutador que precisava ser solto,
ia perder Clementine Chevalier.
Sexy, tentadora e cautelosa Clementine.
Qual era seu jogo?
Ele a levara de volta para aquelas
acomodações funestas na noite anterior e insistira em acompanhá-la até a porta.
Havia pensado mais em sua segurança do que em infiltrar-se em suas defesas,
quando permaneceu à porta. Ele tinha visto mais uma vez o quarto monótono e, em
seguida, seus olhos repararam nos preservativos sobre a mesa de cabeceira dela.
Para uma mulher que não beijava no
primeiro encontro, ela estava bem preparada.
Estaria dormindo com outra pessoa? Qual
era o problema?
Ela disse que não tinha um namorado, o
que não quer dizer que não fosse sexualmente ativa. Na verdade, seria um crime
contra a natureza se não fosse.
Exceto que agora só a queria
sexualmente ativa com ele.
Serge reconheceu que tinha ficado
excepcionalmente decepcionado com a descoberta de que ela não era bem o que
parecia. Por algumas horas, ele desfrutou da fantasia: homem e mulher em um
encontro, a simplicidade e honestidade de sua interação.
Garotas legais não existiam em sua vida
pessoal. Ele não estava à procura de uma esposa, e a mulher que Clementine
pareceu ser por uns instantes esperaria todo o pacote romântico.
Ele não fazia romance. Ele fazia sexo.
E o que uma garota como Clementine
estava oferecendo em toda a sua glória voluptuosa era simplesmente sexo.
Perdição entre suas coxas exuberantes. A promessa naqueles olhos brilhantes no
início da noite. A completa falta de amarra emocional. O tipo de garota que
podia ser comprada.
Certa ocasião, uma ex-amante o acusou
de ser frio. Por isso ele escolhia suas parceiras com muito cuidado. Mulheres
por quem, em nenhuma circunstância, ele se apegaria.
Ele tinha visto o que ligações
emocionais podiam fazer... A bagunça que criavam a destruição que ocasionavam
em vidas inocentes. Ele vira isso na vida dos pais.
Seu pai amara a sua mãe
completamente... Transformando suas vidas em uma ópera barata. Quando ele
morreu, Serge tinha 10 anos, e sua mãe havia ficado devastada. Praticamente
incapaz de lidar com a situação. Ele vira a intensidade do amor e o caos que
causava quando dava errado ou simplesmente era arrancado. Sua mãe se casara
novamente por razões financeiras. Seu segundo marido batera nela por sete
longos anos antes de uma fuga habitual com uma overdose de comprimidos.
Ele estivera afastado durante seu
período de internato e, mais tarde, nas forças armadas. Não sabia nada da vida
de sua mãe até vê-la no túmulo com parentes distantes que gastaram um bom tempo
enchendo-o de detalhes sobre seu desastroso casamento... Detalhes que ninguém
achou apropriado de dar a ele durante a vida triste dela.
Distanciamento emocional era fácil para
ele.
Então, ontem à noite, quando Clementine
tinha visto a direção de seu olhar e corado, ele ficara curioso para ver como
ela agiria. Ela manteve a calma e olhou para baixo, antes de tagarelar. Ele
tinha de ir agora. Ela possuía o seu número, e ele, o dela. Talvez pudesse
ligar da próxima vez que estivesse em Londres.
A princípio, Serge pensou que ela o
estava dispensando. Ele não conseguia se lembrar da última vez que isso
acontecera. Então, tudo fez sentido. Ela estava esperando ser convidada para
sair novamente. Seu corpo dizia que sim, mas sua mente se tornara fria como
pedra. Garota estrangeira em um hotel barato, contendo qualquer contato sexual,
esperando que ele faça daquilo mais do que um encontro de uma noite.
Ele não tinha nascido ontem. Não ia
acontecer.
Serge não tinha escolha a não ser
partir sem fazer quaisquer planos definidos com ela, mas conforme ele se
afastava pelo corredor úmido e pouco iluminado, olhou para trás e descobriu que
ela o estava espreitando pelo corredor, recuando quando ele a pegou e fechando
a porta.
E foi isso.
Só que Serge ainda estava pensando
sobre ela depois de uma conferência, uma hora olhando projetos complicados e um
monte de xícaras de café. Não dormira bem. Frustração sexual podia fazer isso.
Tomara dois banhos frios. Havia outras mulheres que ele poderia chamar, mas era
em Clementine que estava interessado.
Bebeu outro gole de café.
Onde ela estava agora? Trabalhando?
Relações públicas para Verado. Ele conhecia Giovanni Verado. De bens de luxo
masculinos de alta qualidade. Clementine conheceria um monte de homens naquele
trabalho. Homens com dinheiro, o que provavelmente era o objetivo.
A boa moça havia evaporado quando ele
viu os preservativos. Se ela não estava dormindo com ele,
estava dormindo com alguém... Ou planejando.
Sua boca torceu cinicamente. Ela
gostava de dinheiro. Provavelmente tinha vários caras com os carros certos, o
estilo de vida certo. Mulheres como Clementine, com esse nível de independência
e confiança, nunca estavam solteiras. Havia sempre algo acontecendo.
No entanto, havia algo mais nela. Ainda
podia vê-la batendo palmas, cantando junto com a música na noite anterior,
embora não conhecesse as palavras. Lembrou como tinha ficado consternada por
sua tentativa de beijo e, em seguida, se coberto.
Queria telefonar para ela e ouvir sua
voz.
Queria vê-la. Mais basicamente, queria
aquelas pernas compridas em volta dele e seus sons de prazer estimulando-o.
Mas ele estava indo para Nova York e
tempo era o que não tinha. Ela disse algo sobre uma inauguração. Ele poderia comparecer
arriscar.
Um sorriso irônico tocou sua boca. Por
que arriscar se a vida não era feita de sorte? Era sobre ir atrás do que
queria, com obstinada determinação, e não parar até conseguir. Nos negócios e pessoalmente.
Não, melhor ligar e marcar um encontro.
Ele não quer dar a ela muita escolha e em plena luz do dia Serge seria um pouco
mais persuasivo do que tinha sido na noite anterior. Respeitara os limites de
Clementine, mas isso não o levara longe. Ele não havia transformado uma
academia em um negócio de um bilhão de dólares sem saber quando pressionar.
CLEMENTINE SE sentou
a uma mesa de calçada, agradecendo o garçom que lhe trouxe um café. Do outro
lado da rua estava a loja da Verado, onde ela passou a manhã e a maior parte da
última semana.
Ela concordou em se encontrar com Serge
naquele café por causa da proximidade com o trabalho. Quando ouviu a voz dele
algumas horas atrás, seu mundo parou. Ela se afastou do grupo em que estava e
disse ofegante:
– Serge.
E literalmente ouviu-o inspirando. Sua
voz estava grave, obscuramente sedutora. Ela fechou os olhos e apenas ouviu
perdida no feitiço sensual.
Ela realmente não achou que ele
ligaria.
Mas Serge ligou, e agora ela estava lhe
esperando porque ele queria vê-la, falar com ela, provavelmente organizar um
segundo encontro. Ele teria que ser rápido. Seu avião partia às 16h. Ele fez
questão, no entanto. Já havia se passado, aproximadamente, 12 horas desde que
eles se despediram.
Ele pode lhe pedir para ficar mais um
pouco, e uma grande parte dela estava considerando dizer sim... Ah, céus, sim.
Imaginar que ela o perdera na noite
anterior há deixara um pouco mais imprudente que o normal durante a manhã. Ela
ficara acordada repassando cada minuto do encontro, isolando tudo o que lhe
dizia que Serge não era como Joe Carnegie. Todos os seus instintos diziam que
ele era um cara legal. Ele não a pressionara quando estava suficientemente
claro que esperava mais.
O que a incomodava era que ela deixara
Joe Carnegie entre eles em um momento crucial. Queria beijar Serge, mas o medo
a deteve. Medo de ser apenas algum tipo de conquista sexual da parte dele, de
se abrir para outro homem só para ter sua sensibilidade despedaçada. Era só um
beijo, lembrou, mas nunca se sentiu tão atraída por um homem na vida e
precisava ter certeza antes de seguir em frente.
Pensando nisso, ela tentou não ter
qualquer arrependimento. Serge não se afastou e queria vê-la. Parecia ansioso.
Gostava dela e estava se esforçando.
Só que ele estava atrasado.
Ela olhou para o relógio. Vou lhe dar
mais cinco minutos, pensou.
Ele está apenas 15 minutos atrasado.
Talvez fosse o trânsito. Mas definitivamente cinco minutos. Talvez dez...
– Olá, linda.
Ele estava parado à frente da mesa de
Clementine, com toda sua altura, músculos e testosterona. Ela reparou no jeans,
na camiseta branca e na jaqueta marrom de couro. Estava recém-barbeado, cabelos
despenteados. Seu coração começou a bater, impossibilitando-a de ouvir qualquer
ruído graças ao som da pulsação em seus ouvidos.
– Ah, oi. – Ela se esforçou para
parecer casual.
Ele gesticulou abruptamente para o
garçom.
– O que você gosta de comer, kisa?
– Ah, eu não posso ficar. Tenho que
trabalhar e você está atrasado, então eu só posso lhe dar cinco minutos.
Ele se sentou em uma cadeira próxima.
Como ele sentou à frente de Clementine, ela deu um salto involuntário. A súbita
proximidade física tornava muito difícil se conter e seu primeiro instinto foi
recuar. Ele sorriu conscientemente, como se sua reticência fosse exatamente o
que estivesse procurando.
– Dê-me cinco minutos, então.
Inexplicavelmente, ela lembrou como a
noite anterior terminara. Mesmo agora, seu rosto ficou quente quando pensou nos
preservativos de Luke, como sinais de neon pulsando em sua mesa de cabeceira.
Ele provavelmente não pensara em nada disso, mas ela corou e ele, certamente,
reparou. Passara a noite convencida de que ele tinha visto nela a menina tímida
que às vezes ainda se sentia.
Ele estava estudando seu rosto, suas
bochechas rosadas, demorando-se em sua boca.
– Você é uma mulher linda, Clementine.
Já tinham lhe falado isso antes, mas
não era rigorosamente verdade. Estava longe de ser bela. Seu nariz era um pouco
grande, seu queixo um pouco pontudo e ela possuía sardas demais...
– Sou? – Obrigou-se a sustentar seu
olhar. – Foi o que você veio me dizer?
– Eu não parei de pensar em você.
Ah, ela gostava disso.
– Sinto-me lisonjeada.
Estavam jogando algum tipo de jogo, ela
reconheceu, porém ela não conhecia as regras.
– Eu tenho uma proposta para você, kisa.
Clementine deu um suspiro interno de
alívio. Certamente ela podia reservar algumas horas antes do vôo, quando o
trabalho estivesse terminado, e ela havia planejado
tirar um cochilo e se preparar para a noite.
Ela realmente, realmente,
queria passar mais tempo com ele.
Serge estudou sua expressão de
expectativa e o resto dela, gostando do que viu. Ela estava vestida para o
trabalho, mas conseguia parecer escandalosamente sexy. Aquele olhar bagunçava
seus hormônios de uma maneira que a saia de couro apertada não fazia. Ele
gostava dela toda coberta. Tornava mais desafiador imaginar o que estava por
baixo.
– Tenho que ir para Nova York amanhã a
negócios. Gostaria que você fosse comigo.
Clementine sentiu como se tivesse sido
jogada contra uma parede.
– Vou ficar na cobertura do Four
Seasons por uma semana. Acho que você vai gostar de um pouco de mimo, alguns
bons restaurantes, comprar alguns vestidos bonitos, assistir a um show... De
mim.
Dele. Clementine sentiu-se enjoada. Foi
levada de volta para a entrega suave de Joe.
– Mas não quero que você me compre um
lugar para morar. Tenho onde viver.
E ele franziu a testa e disse-lhe que
não ia gastar seu tempo livre em Londres transando com ela em um apartamento
compartilhado.
Brutal assim. E tão rápido que ela
perdeu todas as suas ilusões femininas.
– Eu entendo que é presunçoso, mas
preciso ir para lá e acho que há algo entre nós, Clementine. Gostaria de
explorar isso.
– Gostaria? – Sua voz saiu como um caco
de gelo.
Estava acontecendo tudo de novo.
Ele oferecia coisas como se ela
estivesse à venda. Como se seu corpo estivesse à venda. Porque “venha comigo para Nova York, querida” não era
um convite para desfrutar de sua hospitalidade sem se servir de bandeja para
ele.
Tudo o que ela queria era um encontro.
A chance de passar mais algum tempo com ele, conhecê-lo. Tão ingênua.
Bem na frente dela estava à razão para
ter tentado encontrar rapazes que não eram movidos por sua libido... Homens
agradáveis e suaves que no final a deixavam indiferente. Homens como Serge
estavam na outra extremidade do espectro... Excitantes, desafiadores, mas
alimentados pela testosterona, confiantes em sua capacidade de mandar no mundo
e, por extensão, mandar nela.
Aprendera a lição. Não era brinquedo de
homem rico.
Levantou-se tão abruptamente que sua
cadeira quase caiu sobre a calçada.
– É uma ótima oferta, Serge, mas eu
acho que você escolheu a garota errada – disse com veemência.
Ele estava de pé, parecendo indeciso.
Podia vê-lo pensando. Provavelmente considerando qual era a próxima de sua
lista para convidar para uma voltinha em Nova York. Deus, homens podem fazer
você se sentir um lixo.
– Clem?
Ela se virou enquanto as mãos de Luke
se fechavam em torno de seu braço.
– Você está bem, querida? – Ele olhava
Serge de cima a baixo. – Você a está perturbando, companheiro?
Em qualquer outra situação, a postura
repentinamente agressiva de Luke teria sido engraçada. Era como um suricato
enfrentando um tigre siberiano.
O olhar de Serge se estreitara nas mãos
de Luke, e ela não podia acreditar no que estava presenciando. Será que
realmente acreditava que ela agora pertencia a ele? Um encontro apenas e seu
corpo era dele de modo que pudesse levá-lo à sua cobertura para seu uso? Ele ia
agredir Luke? Porque ela não achava que seu gentil amigo ia sair com a cara
muito intacta!
Ela balançou a cabeça para Luke.
– Está tudo bem, querido. Vamos voltar.
– Ela lançou um olhar congelante a Serge. – Vamos parar por aqui.
Serge gelou. O que
diabos tinha acontecido?
Ele não tinha sido suficientemente explícito
em tudo que ofereceu a ela? Era um negócio muito lucrativo além do sexo. O que
estava acontecendo? Ela esperava algo mais?
Tudo bem, talvez ele tivesse sido um
pouco arrogante sobre isso. Mas estava convencido de que ela diria sim.
Ela disse que não. Ela disse que não?
E agora Clementine estava com esse cara
metrossexual que parecia um cão de guarda.
Como se ele fosse machucar uma mulher.
De repente, o que parecia simples e direto tornou-se um grande erro.
– Entendi sua resposta, Clementine –
disse ele, formalmente. – Perdoe-me se a ofendi. Não era para ser assim.
Aproveite o resto da sua estada.
Suas boas maneiras paralisaram
Clementine. Os últimos minutos eram uma confusão em sua cabeça. Talvez ele não
a tivesse abordado. Talvez fosse uma oferta para passar um tempo com ele, seu
melhor esforço para ajustá-la em sua agenda. Serge disse que tinha negócios em
Nova York. Não era uma viagem de lazer para ele. Provavelmente só quisesse
conhecê-la...
Ela o tinha interpretado mal? Era
apenas um convite inocente de um homem muito ocupado?
De repente, o mundo inteiro parecia se
estreitar, inclusive a visão que ela possuía acerca dos ombros musculosos de
Serge, enquanto se afastava.
Será que o veria novamente?
Você nunca vai encontrar alguém como ele novamente, uma pequena voz sussurrou em sua cabeça. Você sabia disso
ontem, no momento em que bateu os olhos nele. Sabia que ele era especial.
E talvez ele esteja se sentindo
exatamente como você, e você disse aquelas coisas terríveis para ele.
O que ela fez?
O que ela fez?
Seus pés estavam se movendo. Ela podia
vê-lo a uma longa distância agora. Queria correr, mas seria inútil. Podia vê-lo
entrando no carro. Clementine abriu a boca para chamá-lo, mas sua garganta se
fechou e então ela apenas parou morta no meio da calçada, enquanto seu carro
partia.
Ainda tinha o celular de Luke. Tinha o
número de Serge. Começou a procurar em sua bolsa. O que diria a ele? Mudei de
ideia. Quero ir. Quero ver aonde isso me levará... Aonde você me levará...
– Clem, o
que é está acontecendo?
A realidade da voz de Luke a fez
colocar o telefone de volta em sua bolsa, o frenesi de sentimentos
retrocedendo. Luke a ajudou a recolher os pedaços quando o incidente de Joe
Carnegie explodiu. Ela dormira no quarto extra dele e de seu companheiro Phineas
por uma semana, e ele cuidou dela com toda a bondade e ternura que nunca tinha
encontrado em nenhum dos caras que namorou.
Serge Marinov não era diferente.
Imaginou-o como seu herói, mas sua história dizia que não funcionaria.
Seu melhor amigo Luke era um lembrete
de que ela merecia mais.
Havia trabalho a fazer e ela se manteve
ocupada durante toda a tarde bajulando a representante esnobe de uma grande
revista de moda que estava hospedada no Grand Hotel Europe, em vez de no hotel
Astoria.
Tente o edifício Vassiliev, pensou,
enquanto tagarelava sobre a história incrível do Grand Hotel. Ironia dolorosa
que ela só soubesse dessas histórias porque Serge havia dito a ela durante seu
encontro mágico. Ela deve ter sido convincente, pois a mulher, amolecida, reservou
uma suíte maior no hotel.
Eu consigo, pensou, caminhando pelo
átrio. Passaria a noite com Luke, incapaz de enfrentar mais uma noite no buraco
de pulgas. Seu vestido estava lá em cima e pretendia tomar um longo banho
quente.
Tinha uma festa para ir. Podia ir a
festas. Seu problema era com homens.
NA INAUGURAÇÃO, Clementine cumprimentou diversas
pessoas distraidamente. Adorava esse vestido de veludo preto. Era elegante e
lisonjeiro, e Verado emprestara a ela um colar de diamantes. Era um anúncio
ambulante aquela noite, o que parecia conveniente. Era boa em seu trabalho, o
que a fazia se sentir bem consigo mesma.
Se os homens pensavam que poderia ser
comprada, provavelmente fosse hora de começar a afirmar sua independência
financeira.
Ela ganhava razoavelmente bem. Só tinha
o hábito de comprar roupas caras. Mas tinha 25 anos. Era hora de parar de viver
como uma adolescente e começar a olhar para o seu futuro. O marido de contos de
fadas e três filhos poderiam nunca se materializar e, dada sua história romântica
e o desastre de hoje, pareciam mais longe do que nunca. Precisava cuidar de si
mesma. Proteger-se. O que significava se estabelecer em sua carreira.
Estava se afastando de um grupo de
compradores quando o viu.
Era difícil não notar 1,95m de masculinidade
russa. Vestia um smoking, seu cabelo rebelde estava penteado. Parecia
devastador, um homem poderoso entre muitos homens menores e por um momento ela
apenas olhou. Até que percebeu que o cavalheiro mais velho com quem ele falava
era Giovanni Verado.
Por que ele estava ali? Sabia que esse
era o seu trabalho. Clementine certamente falara mais do que devia na noite
anterior. Ela disse algumas coisas indiscretas sobre Verado. Serge não tinha
mencionado uma conexão com o proprietário. Aliás, ele não falava muito sobre
sua vida.
De repente, sua boca ficou seca e as
palmas das mãos, úmidas.
Ela não acreditava que ele fosse
dedurá-la. Por que o faria? Por que Verado se preocuparia com suas opiniões,
desde que ela fizesse seu trabalho?
Não, o que a preocupava era que ela de
repente percebeu que não sabia nada sobre ele além do fato de que fazia seus
sentidos rodopiarem cada vez que olhava para ela.
Agora seu coração estava pulando na
boca porque ele estava lá, e não poderia ser uma coincidência.
Serge viera por ela.
O nervosismo borbulhou em sua barriga
como champanhe. Todas as histórias que disse a si mesma sobre Serge Marinov ser
apenas um cara qualquer se desintegraram quando considerou a possibilidade de
ter uma segunda chance com ele.
Clementine puxou seu vestido, ajeitou
seus ombros e ergueu a cabeça. Não ia tornar seu encontro mais difícil do que
precisava ser.
Havia um monte de pessoas entre eles e,
em seguida, houve uma abertura no meio da multidão e ela viu o que tinha
perdido antes. Havia uma mulher com ele, uma morena esbelta em um vestido azul
cintilante. Ela era bonita, talvez em torno dos 30, e tinha a mão em seu braço.
Clementine parou.
Quase. Ela quase se fez de boba.
Outra mulher. Bem, foi rápido. Mas o
que esperava? É claro que era exatamente o que ela esteve pensando de manhã.
Não “estou desapontado porque Clementine não virá
comigo”. Simplesmente, “qual é a
próxima da fila”?
Seus ombros caíram. Sentia como se
estivesse recebendo um curso intensivo de padrões de acasalamento masculino.
Era mesmo tão fácil para Serge? Ela se abrira para uma conexão entre eles na
noite anterior e não podia fechá-la tão facilmente. Isso não significava nada
para ele?
Clementine suprimiu a forte dor no
peito. Ela era uma idiota. Ele e Joe Carnegie... Ambos mereciam um castigo.
Exceto que agora reconhecia que Serge
realmente não era nada parecido com Joe. Ele não tinha escondido nada.
Provavelmente em seu mundo era assim que essas coisas eram feitas. Ele
dificilmente seria seu namorado. Não conseguia imaginá-lo, em uma noite
de sexta-feira, passando em seu apartamento com uma pizza e deitando-se no
sofá, esfregando seus pés.
Ele virou a cabeça de repente e
examinou a multidão. Clementine congelou. Sabia que ele havia lhe avistado
porque sentiu um choque da cabeça aos pés. Ela reconheceu a dilatação daqueles
olhos verdes, os seus próprios provavelmente estavam enormes em seu rosto
congelado. Ela esperou que Serge a repudiasse, mas ele parecia determinado.
Virou-se antes que visse algo que
pudesse fazer picadinho de seus sentimentos e caminhou cegamente em direção ao
bar. Ela precisava de uma bebida e rápido.
Chegou ao bar e pediu um Bloody Mary.
Não era algo que normalmente bebesse, mas ela precisava de algo desconhecido
para sair daquele humor. Antes que ele chegasse, ela o sentiu, em vez de vê-lo.
A solidez de seu corpo, o giro da cabeça de outras pessoas. Havia gente em
todos os lugares, esbarrando cotovelos, mas ela sabia que era ele.
Ela gravitava em direção a ele como um
planeta ao sol, e olhou em seus olhos.
– Sim – disse suavemente, depois
completou desesperadamente. – Gostaria de ter dito sim. Devia ter dito sim.
Ele parecia atordoado. Eu sou
louca, pensou Clementine. Por que disse isso? Ele não se importava.
Serge experimentou a onda de frustração
familiar ligada a ela. Qual era seu jogo?
Conforme Clementine abriu caminho
através da multidão, seu primeiro instinto foi persegui-la. No entanto, tudo o
que podia fazer era vê-la desaparecer na multidão.
Pode fugir. Você não vai muito longe.
Tinha que lidar com Raisa antes de
tentar algo mais ousado com Clementine e isso requereria tato, mas uma vez que
estivesse livre, iria atrás dela.
Era melhor que Clementine fosse capaz
de correr rápido, porque ela havia acabado de se declarar a ele.
CAPÍTULO
CINCO
– Querida, pode se
animar? Está assustando os outros passageiros.
– Desculpe, não consegui dormir muito.
Estavam na fila para despachar as malas
no aeroporto e, às 4h da manhã, sentia-se praticamente uma morta-viva.
Os últimos dias fizeram-na querer
colocar sua vida de volta no rumo. Era hora de seguir em frente. Permitiu que
sua experiência com Joe Carnegie atrapalhasse o que quer que pudesse ter tido
com Serge Marinov. Ele também era culpado. Se tivesse sido menos enérgico, ela
poderia ter sido capaz de considerar seu convite. Em vez disso, ambos haviam
batido em uma parede de expectativas. E ele seguiu em frente.
– Ainda pensando no bruto lindo? –
comentou Luke detrás dela, apoiando o queixo em seu ombro. – Pensei que ele
fosse me arrebentar ontem.
– Sinto muito por isso. Não queria
envolver você.
– Ele parece muito interessado em você,
Clem.
– O quê? Não, está tudo acabado.
– Tudo bem. Mas eu não sei se ele
concorda.
Ela franziu o cenho e avançou na fila.
Por que Luke falava no presente?
– Clementine – disse uma voz russa
profunda e masculina.
Serge. Tão perto que não sabia para
onde olhar. Então olhou para cima e mergulhou em seus olhos novamente.
Acontecia toda vez e não sabia por quê. Sua respiração ficou presa. Não sabia o
que dizer.
Ele sorriu.
– Venha comigo agora para Nova York, kisa.
Ir com ele?
– São suas malas?
Para sua surpresa, um jovem de terno e
gravata pegou sua mala e bolsa de viagem.
– Só um minuto, essas são as minhas
coisas!
Serge gesticulou, e o rapaz parou no
meio do movimento.
– Você mudou de ideia? – perguntou
sorrindo.
– Não, eu...
Ela olhou ao redor para encontrar Luke
acenando loucamente.
Clementine revirou os olhos.
– Talvez você queira dizer adeus ao seu
amigo e então se juntar a mim.
Os olhos de Serge se estreitaram em
Luke. Clementine já reconhecia aquela expressão.
Ele estava com ciúmes. O que a
lembrou...
– E sua namorada?
– Sto?
Ele parecia genuinamente intrigado.
– Noite passada. Lembra? Sua
acompanhante. Ou há tantas que você se confunde?
Luke riu.
– Raisa é uma amiga, nada mais.
Ele, na verdade, soou um pouco
ofendido, como se não pudesse acreditar que estavam tendo essa conversa.
A senhora à frente dela olhou para
Serge.
– Não confie nele, querida. É bonito
demais.
Bonito demais. Era um eufemismo. Ele
era um cossaco grande, forte e lindo.
Clementine mordeu o lábio. Era
engraçado e, tinha que admitir extremamente emocionante.
Ela merecia um pouco de diversão...
Sentira-se como uma menina novamente em vez da mulher cautelosa que tinha se
tornado.
E ele estava lá. Fora atrás dela. Era
ridículo considerar isso romântico, mas considerava. Era a coisa mais romântica
que já tinham feito por ela.
– Tudo bem – disse, jogando-se do
trampolim emocional. – Por que não?
Serge olhou satisfeito, e Clementine
notou, um pouco sem fôlego, que o olhar dele passeou por seu corpo, mas ela
decidiu ignorar. Agora ela só queria se divertir em seu momento romântico.
Ele ofereceu a mão e ela aceitou,
sentindo-se completamente íntima.
– Eu ligo quando chegar – disse ela a
Luke, que estava sorrindo e olhando para Serge.
– Faça isso, Clem. Divirta-se.
Andaram somente algumas centenas de
metros quando ela percebeu que estavam se afastando do terminal público.
– Onde estamos indo?
– Meu avião, kisa.
– Seu o quê?
– Jatinho particular.
Serge olhou-lhe e recebeu um olhar de
completo espanto.
Ela afundou em seus saltos quando
deixaram o terminal e chegaram à pista. Nervos à flor da pele. Ela puxou a mão.
– Serge, preciso esclarecer algumas
coisas antes.
Ele olhou para ela com impaciência.
– Podemos discutir a bordo.
– Não, precisamos discutir isto agora.
Eu tenho...
Não sabia como se expressar.
– Eu tenho alguns termos e quero me
certificar de que você concorda com eles. Eu não quero quaisquer
mal-entendidos.
Ele lhe deu um olhar de descrença
absoluta.
– Você não pode estar falando sério?
Seu coração saltou. Será que ele
quebraria o acordo?
– Falo sério – disse ela mais irritada.
– Não quero ser tratada como uma garota qualquer.
Ele fez um som de profunda frustração.
– Eu não tenho nenhuma intenção de
tratar você como nada que não uma lady. Francamente, Clementine, na Rússia não
fazemos as coisas assim.
Confusa, olhou para ele. Serge iria
tratá-la como uma
lady? Não deveria ele considerá-la uma lady?
De repente, tudo parecia muito difícil,
e ela decidiu deixar para lá. Estava deduzindo demais sobre tudo o que ele
dizia por que tinha dificuldade de confiar em alguém. Não era justo com Serge e
não queria estragar as coisas antes de sequer começarem.
– Podemos discutir os seus termos
quando estivermos sozinhos, kisa –
disse ele secamente. – Mas posso garantir que não haverá nenhum
“mal-entendido”.
Ela colocou a mão suavemente em seu
peito. Era tão rígido, e podia sentir a movimentação dos músculos quando ele
respirou fundo. Ela o afetava e isso a excitou, porque correspondia ao seu próprio
desejo por ele.
Deu um suspiro quando Serge deslizou o
braço em torno de sua cintura e pegou-a nos braços.
– Serge!
A súbita proximidade física a envolveu
e ela derreteu em uma confusão de hormônios e desejo.
Ele a carregou como se ela não pesasse nada.
Algo há muito tempo adormecido dentro de Clementine saltou em resposta à sua
ostensivamente masculina exibição de força física e domínio. Ele estava
assumindo o controle dela e nitidamente seu corpo gostava.
Serge experimentou uma satisfação
primitiva em tê-la em seus braços. Estava trabalhando para isso desde que a
seguiu no Nevsky. A ardilosa Clementine, que era tão retraída, só o fazia
querer mais.
Esses termos dela... Nenhuma mulher
fizera uma demanda assim. Será que ela imaginava que ele não iria cobri-la de
presentes? E quão alto era o preço de seus favores? Não que isso realmente
importasse; nesse ponto, ele estava disposto a pagar qualquer preço.
– QUANTO CUSTA tudo
isto?
Clementine estacou e fez um 360 quando
adentrou o saguão do hotel. Adicionando a limusine do aeroporto JFK e os
seguranças os seguindo em outro carro, sem esquecer-se do avião particular, o
mundo estava começando a se parecer com o do Mágico de Oz.
Serge esperou, os escuros olhos verdes
sobre ela, a mão estendida em um gesto para se juntar a ele.
– Tudo bem, desembuche. – Ela deslizou
a mão na dele como se acompanhasse homens ricos e poderosos em hotéis todos os
dias da semana.
– Esta gestão esportiva... Quem você
gerencia?
– Não quem, kisa,
o quê.
Ele parecia se divertir
– Tenho uma empresa que transmite e
promove lutas de boxe e MMA.
– Uau! Isso é... Uau.
– Estou recebendo uma vibração
impressionada de você, Clementine.
Durante as 12 horas de vôo, Serge fora
um anfitrião exemplar, cuidando das necessidades dela antes de se voltar para
trabalhar em seu laptop. Mas Clementine estava definitivamente percebendo um
Serge mais brincalhão agora que estavam em terra firme.
Ele a conduziu até o elevador e as
portas se fecharam para o resto do mundo.
– Isso explica muita coisa.
E lá estava aquele sorriso particular
que ele estava esperando.
Ele gentilmente jogou o cabelo dela
sobre o ombro e disse em voz baixa, perto de seu ouvido:
– E o que isso explica Clementine?
Ela se arrepiou em resposta.
– Toda a testosterona. É por isso que
você foi capaz de repelir aqueles caras. Você sabia o que estava fazendo.
Sua voz estava abafada.
– Desde que conheci você, kisa,
tem sido a única coisa de que tenho certeza.
Sua confissão, feita apenas para
provocá-la, de repente parecia um fato absoluto.
Ela piscou lentamente.
– Você não tem certeza sobre mim?
– Clementine, tenho a sensação de que
nenhum homem jamais teve.
A mão dele se moveu em torno de sua
cintura. Ele se inclinou e lhe deu um momento para aceitar que ia beijá-la,
então de repente sua boca estava quente e se movendo rápido contra a dela,
saboreando-a, dando-lhe pouco tempo para recuar.
Serge a puxou contra ele e Clementine
se derreteu. Ela gemeu e deslizou os braços ao redor do pescoço dele, impotente
contra os sentimentos que ele estava alimentando nela.
As portas se abriram, e Serge
interrompeu o beijo. Durara apenas alguns momentos, mas parecia uma eternidade,
e Clementine não podia acreditar que ficou tão arrebatada com um beijo. Boca
trêmula, mamilos enrijecidos pressionando contra a renda do sutiã. Seu vestido
de seda se levantara sobre as coxas e sentiu o cabelo emaranhado e confuso
pelas mãos dele.
Ela o viu usar um cartão-chave na
porta, tentando limpar a cabeça. Serge conduziu-a para dentro com a mão em suas
costas. Precisava manter a cabeça limpa, se fosse navegar por essas águas.
– Uau – disse inadequadamente, enquanto
adentrava no quarto absolutamente luxuoso. – Isto é incrível.
A extravagância da suíte do hotel era
outro lembrete de quem Serge era exatamente. Um homem rico. Que poderia comprar
qualquer coisa para estar feliz.
Sem dúvida, incluindo as mulheres.
Mas não aquela mulher. Ela precisava
deixar isso muito claro para ele. De alguma maneira.
– Não estou tão impressionada, sabe?
Dinheiro não me impressiona.
– O que impressiona
você, Clementine? – Ele estava sorrindo para ela, aquele grande e preguiçoso
sorriso masculino russo, como se soubesse algo que ela não sabia.
– Honestidade – respondeu ela. –
Sinceridade.
O sorriso desapareceu. Ela o tinha
surpreendido.
Seu pulso estava acelerado quando
atravessou os ambientes... Sala de estar, sala de jantar com capacidade para 24
pessoas, além do piano meia cauda.
– Você toca kisa?
– De ouvido. – Ela ergueu o olhar para
sua expressão aquecida, uma onda de doce excitação banhou seu corpo.
Clementine se afastou do piano,
percebendo que Serge a media com o olhar. Precisava se controlar diante desse
homem. Precisava continuar com as brincadeiras, segurá-lo um pouco mais até
retomar o controle. Acenando para ele com um dedo, sorriu.
– Vamos ver o que mais podemos
encontrar.
Seu coração estava martelando quando
ela entrou no quarto, sabendo que seu tigre siberiano a seguia.
Bochechas rosadas, respiração rápida,
ela colocou a cabeça na porta do banheiro da suíte.
– Agora, aquela é uma banheira grande.
– Gostaria de fazer uso, Clementine? –
perguntou ele, atrás dela.
– Não agora.
Ficou espantada com a firmeza em sua
voz.
Ela sentiu o corpo dele a centímetros
do dela e ficou tensa. Precisava ficar atenta.
Sentiu suas forças desmoronarem e, de
repente, sabia que não podia fazer isso. Entrou em pânico e se afastou.
Há alguns dias se perguntou se podia
lidar com ele. Estava descobrindo rapidamente que sua resposta era não. Um
sonoro não.
Levantou a mão como se fosse
interromper o tráfego.
– Espere um minuto, acabamos de chegar.
– Sua voz soava ridiculamente feminina. – Que tal um jantar e um filme
primeiro?
Ela podia sentir o calor vindo do corpo
dele, sua respiração, enquanto o peito subia e descia a apenas alguns
centímetros do dela. Ele deslizou uma das mãos em torno de sua cintura,
puxando-a para ele, sorrindo maliciosamente, e ela percebeu que Serge não ia
levá-la a sério.
– Ei. – Ela empurrou seu peito com uma
das mãos e puxou seu braço com a outra. – Não estou brincando, cavalheiro. Pode
tirar a mão.
Ela não podia estar falando sério. Ele
franziu a testa. Por tudo que era mais sagrado, ela estava falando sério. Serge a soltou
lentamente, mas Clementine recuou tão rápido que colidiu no batente da porta,
batendo a cabeça.
Trazendo a mão para esfregar o local
dolorido, piscou para ele com cautela.
– Eu disse jantar e filme – repetiu
teimosa.
Manteve os olhos nos dele,
desafiando-o.
Clementine não era novata, mas Serge
Marinov era mais experiente que ela. Simplesmente não se sentia pronta para
perder o controle e o beijo no elevador fora bastante significativo. Esse homem
poderia sem a menor dificuldade aniquilar toda a sua inibição e,
definitivamente, ela não queria acordar na manhã seguinte com um bilhete sobre
o travesseiro agradecendo, dizendo que entraria em contato.
Não era uma mulher ingênua. Tinha a
impressão de que Serge a via como muito mais sofisticada do que realmente era,
e ela precisava falar com ele sobre isso. Jantar era uma excelente ideia.
– Jantar e filme? Estes são seus
termos, kisa?
Clementine queria dizer que sim, mas
ficara abalada com o que acontecera e não era justo com Serge continuar com o
flerte quando ela claramente não seguiria adiante.
– Não são termos. Eu apenas pensei que
seria bacana – disse ela. – Normal.
Bom. Normal. Serge estava tentando
entender o que estava acontecendo. Uma hora ele era atraído por uma sereia para
o quarto, e na seguinte, naufragava nas rochas.
Ele foi jogado de volta para aquele
café em São Petersburgo, sentindo-se como um bandido por perturbar Clementine.
Ou ela estava jogando de modo muito inteligente ou ele entendera tudo muito
errado. Se havia entendido errado e a Clementine insegura que continuava
aparecendo em momentos inoportunos era a real, o homem tradicional russo
escondido não muito abaixo de sua sensibilidade moderna ia ter um dia cheio.
De qualquer maneira, não ia apressá-la.
Faria a ambos um desserviço. Especialmente se o que estava entre eles se
revelasse tão incendiário como suspeitava que seria.
CLEMENTINE DEPOSITOU suas roupas em um dos quartos de
hóspedes, perguntando o que diabos pensava que estava fazendo. Serge se trocou
e disse que passaria algumas horas na academia. Voltaria para levá-la para
jantar às 19h.
Ela possuía a esperança de passar um
tempo em sua companhia antes, mas por suas ações nessa tarde, não se sentia em
condições de tentar dissuadi-lo. Ele disse algo sobre ter algum excesso de
energia para liberar.
Guardando a última de suas camisetas,
ela se estatelou na cama de hóspedes e alisou a colcha de cetim dourado. Estava
definitivamente na terra do luxo, com um homem que mal conhecia. Porém havia
uma grande parte dela que gritava, enquanto se jogava da ravina rochosa que
sabia que essa semana com Serge seria. Ele quase a jogou consigo na corredeira
essa tarde, mas ela empacou no último minuto.
Clementine, a cautelosa. Ela fez uma
careta para o apelido que Luke lhe deu e olhou o relógio. Serge saíra há uma
hora. Sorrindo para si mesma, começou a se despir.
SERGE REPETITIVAMENTE martelou a luva no saco, saboreando o
impacto. Ele não podia acreditar na cena que teve com Clementine. Levara-o de
volta aos 17 anos, quando não tinha certeza se estava tudo bem colocar a mão
sob a blusa de uma menina, se ela não havia explicitamente dado permissão.
O suor o cegou, e ele interrompeu os
socos. Afastou-se do saco e pegou uma toalha, esfregando-a no rosto. Em
seguida, atirou-a sobre o ombro e procurou sua garrafa de água.
– É isto que você está procurando? –
Clementine apareceu na frente dele, oferecendo a garrafa com um pequeno
sorriso.
Ela usava um minúsculo calção vermelho
e um top branco, e seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo.
– Obrigado.
– Posso tentar? – Ela indicou o saco de
pancada.
– Pode ser um pouco difícil para você –
respondeu ele, tentando não espiá-la. Clementine estava ciente disso, a julgar
por seu sorriso.
A Clementine provocativa estava de
volta.
– Apenas me dê uma luva.
Ele foi buscar um par menor e a ajudou
a vesti-las, observando sua expressão enquanto ela tentava não acariciá-lo tão
obviamente com o olhar. A vontade de puxá-la contra ele era muito forte.
– Chegue perto – instruiu ele. –
Pequenos socos. Mantenha os cotovelos levantados. Isso... Não recue.
Sua concentração era absoluta. Ela
estava levando realmente a sério. O olhar dele caiu momentaneamente na curva
superlativa de suas nádegas. Ela descera para desfiar as últimas fibras de seu
autocontrole?
Ela deu um oomph quando o saco oscilou para trás e a
acertou nas nádegas. Deitou-se no tapete rindo, olhando-o. Enquanto
observava-o, ele tirou a camiseta suada que estava trajando e ficou apenas com
o short largo que mal se segurava em seu quadril magro. Algo mais estava
acontecendo e fez o riso de Clementine virar um profundo suspiro de satisfação
feminina. Seus ombros, peito e costas eram musculosos, e havia uma névoa de
cabelo abaixo do umbigo que ela desejava acariciar com as mãos. Mas depois de
sua atuação no início do dia, não se sentia no direito.
Ele ofereceu a mão e ela aceitou. Com
um braço, Serge literalmente tirou-a do chão. Como exibição de força, foi
impressionante. Mas o que realmente a tirou o fôlego foi ficar de pé tão perto
de seu corpo. Ele correu aqueles olhos verdes por seu rosto e, em seguida, para
onde seus mamilos estavam claramente aparecendo.
– Vamos realmente esperar até depois do
jantar e do filme, dushka?
Sua voz passou por cima de Clementine
como veludo áspero. Ela lambeu os lábios. Não estava na ponta de sua língua
quando outras vozes surgiram e Serge virou-se xingando.
– Ops, academia pública – murmurou
Clementine.
– Vou tomar um banho – disse Serge. –
Você pode subir, mas mantenha a pouca roupa.
Ela estreitou os olhos e lhe deu um
empurrão no braço.
– Jantar. Mas vou perdoar o filme.
Ela tomou banho e colocou um vestido
vermelho e dourado. Era simples, mas poderia vesti-lo com sandálias de salto
alto. Colocou os cílios postiços e pintou os lábios de vermelho-rubi.
Ouviu a bolsa esportiva de Serge cair e
correu para encontrá-lo. Ele deu uma olhada em sua roupa e levantou as mãos.
– Eu me rendo Clementine. Jantar.
Ela sorriu.
CAPÍTULO
SEIS
Não jantaram no hotel,
mas em um exclusivo restaurante no Upper East Side. O cardápio era cozinha
francesa contemporânea, mas francamente, pensou Clementine, podia estar comendo
sushi e não teria notado.
O homem à sua frente, de terno e
gravata, todo elegante, fixava toda a sua atenção. Ele não a levara
imediatamente para a cama, não a pressionara, e agora estavam jantando no
ambiente mais civilizado possível. A conversa variou sobre sua vida em Londres,
a dele em Nova York, eventos atuais. Mas cada vez que olhava para ele, o
imaginava seminu, pingando suor e testosterona naquela academia.
Uma onda de calor se concentrou em sua
pélvis e ficou lá durante grande parte da refeição. Suas bochechas ficaram
rosadas, e seus olhos brilharam ao ouvir a voz profunda acariciando-lhe os
sentidos, observando a mudança das cores em seus olhos verdes. Sabia que tinha
tomado a decisão certa em ir para Nova York com ele.
Eles poderiam ter alugado um carro, mas
ela queria a “diversão” de andar de táxi em Nova York. Quem era ele para
estragar a diversão de Clementine?
Metade do prazer que estava tendo com
ela vinha de observar suas reações às coisas pequenas. Ela possuía o rosto mais
expressivo que ele já tinha visto, e por causa disso ele sabia que seu
nervosismo anterior não tinha sido parte de uma estratégia para alimentar seu
desejo por ela. Realmente não estava pronta. Mas estava pronta agora ou sua
leitura de excitação feminina encontrava-se completamente fora de forma.
Então eles estavam de volta à estaca
zero quando o elevador subiu para o 53º andar, mas não tentou tocá-la. Queria
ter certeza de que Clementine seguiria com a programação. Ele também pretendia
discutir alguns termos. Não queria que houvesse qualquer tipo de
“mal-entendido” quando tudo acabasse; e acabaria em algum ponto.
Com outra mulher, ele teria discutido
isso há muito tempo, mas com Clementine postergara. Agora havia certa
necessidade no momento de levá-la para a cama e esquecer o resto.
Serge hesitou em chamar isso de
romantismo, mas Clementine introduzira certo elemento disso na situação (não
chamaria de relacionamento), quando se fez tão esquiva em São Petersburgo. Ele
queria que tudo corresse bem.
Abriu a porta, recolhendo-a em seus
braços e desfrutando de seu suspiro de surpresa. As mulheres gostavam de ser
carregadas, e Clementine não era exceção. Ela lançou os braços ao redor do
pescoço dele. O diferente era como era bom segurá-la assim. Provavelmente por
ela ser tão elusiva. Ela não podia fugir, e todos os músculos de seu corpo
pareciam dissolver-se conforme se rendia à sua força superior.
As luzes da suíte, ativadas por sensor,
os banharam enquanto ele a levava pela sala de estar. Ela, contudo, escapou de
seus braços. Sua intenção era pegá-la desprevenida ao beijá-la e deixar as
coisas correrem de lá. E a julgar pelo endurecimento de seu corpo, corriam bem
rápido.
– Vamos fazer um café e conversar um
pouco – sugeriu Clementine, puxando sua mão e dando alguns passos para trás,
com o intuito de puxá-lo com ela.
– Não vamos.
Serge a puxou de volta com uma das
mãos, e ela olhou para ele, com uma fraca apreensão por trás daqueles firmes
olhos cinza. Em seguida, seus cílios se abaixaram, enquanto ela parecia se
decidir.
Aos poucos, com cautela, ela estendeu a
mão e lançou os braços ao redor de seu pescoço. Mas antes que pudesse
pressionar os lábios contra os dele, Serge mexeu no laço em sua cintura,
soltando-a apenas para retirar o tecido que amarrava o vestido. Vinha estudando
aquele laço a noite toda e valeu a pena conforme Clementine deu um pequeno
ganido.
Mas ela não tentou se cobrir, e quando
ele começou a puxar o vestido cuidadosamente para fora de seus ombros, ela se
contorceu para ajudar, pressionando o corpo contra o dele, com nada além da
roupa de baixo. Ele a sentiu tirar os saltos.
De repente, ela se sentiu muito menor e
menos segura em seus braços. O vestido deslizou e caiu no chão. Ele passou a
mão ao longo de sua coluna vertebral, descansando em suas nádegas deliciosas.
– Estou me sentindo um pouco nua aqui –
disse ela, mas foi o riso nervoso que o pegou desprevenido. Ele não esperava
que ela estivesse incerta. – Não podemos fazer isto no quarto, como pessoas
normais?
– O que é esse “normal” que você diz? –
brincou ele, a voz rouca de excitação. – Isto parece normal para mim, kisa.
– Nem todos fazemos sexo selvagem –
desconversou ela, mas ele percebeu que ela começou a tirar a jaqueta de seus
ombros e a ajudou. Então Clementine puxou a barra da camisa dele, mas Serge
queria ver seu rosto.
Enfiou um dedo sob o queixo de
Clementine, trouxe os olhos dela até os seus. Os olhos cinzentos ficaram
incrivelmente amenos, o rosto expressivo irradiando um calor e confiança que
ele sabia que não merecia. Distraiu-se com o pensamento de que a mulher em seus
braços estava levando tudo isso muito a sério para seu conforto.
Mas o seu sangue estava bombeando e, se
ele não conhecesse cada centímetro do corpo dela aquela noite, iria explodir.
Clementine lançou os braços em volta de
seu pescoço. Ele abriu caminho para o fluxo do desejo que tinha de possuí-la.
Ela o ouviu murmurar algo em russo, e
suas mãos se estenderam sobre os quadris dela, movendo-se até as nádegas,
conforme ele a puxou para beijá-la. Sua boca era tudo o que ela se lembrava,
quente, mas tenra dessa vez, roubando o ar e qualquer livre arbítrio restante.
Ele a seduziu com a boca, até que ela começou a explorar seu corpo rígido e
musculoso.
Ela estendeu a mão para o botão, abriu
sua calça e escorregou a mão para dentro, dando um pequeno murmúrio de
surpresa. Gentilmente estudou seu tamanho e forma, enquanto Serge respirava
pesadamente, seu peito subindo e descendo intensamente.
– Continue assim, kisa,
e isso pode acabar antes que percebamos – murmurou ele, a voz profunda em seu
ouvido.
– Não acredito nisso – sussurrou ela,
mas ele a levantou e, finalmente, a levou para o quarto e a deitou no cetim
branco. Depois metodicamente começou a desabotoar a camisa.
Clementine se deitou, mordendo o lábio
enquanto via seus ombros emergirem, seguidos pelo peito largo e musculoso,
depois seus braços poderosos, sua cintura fina e definida.
Então ele tirou as calças e pernas
longas, musculosas e peludas ficaram à mostra. Serge, enfim, veio para a cama
com ela.
Sua mão segurou o rosto de Clementine,
beijando-a em seguida, lenta e sensualmente.
Outra mão grande e violenta se enrolou
na parte de baixo do joelho esquerdo dela, acariciando-a, movendo-se por suas
curvas exuberantes.
Clementine tremia enquanto os dedos
dele acariciaram a seda delicada de suas calcinhas, esperando cada movimento de
Serge. Mas quando a mão dele continuou a explorar o quadril, mergulhando em sua
cintura e alisando suas costelas, cobrindo seus seios, não pareceu familiar.
Ele não estava apressado.
O polegar fez uma lenta inspeção em seu
mamilo e a boca novamente apanhou a dela em um beijo doce e lento como ele
gentilmente tratava seu corpo.
– Eu sabia que você teria um corpo
incrível – disse apreciativo. – E é mais belo do que eu imaginava.
Ela alcançou suas costas e abriu o
sutiã, mostrando seios e tentando não demonstrar a ansiedade que estava
sentindo.
– Fica cada vez melhor – murmurou ele,
queimando-a com o olhar. Ele emoldurou um seio com a mão, explorando a forma
dela, inclinando a cabeça para tomar o mamilo em sua boca.
Clementine fez um barulho inevitável e
arqueou as costas. Ela sabia como fazer isso ou pensava que sim, mas Serge
parecia conhecer seu corpo melhor que ela.
Quando estava quase chorando de desejo,
ele levantou a cabeça, apenas para roçar o mamilo levemente com a pele de sua
mandíbula, observando-a estremecer. Clementine nunca sentira nada assim... O
desejo, a mágica de ter cem por cento da atenção de um homem em seu prazer. A
atenção desse homem experiente e habilidoso estava além de sua experiência.
Sua mão deslizou sobre o quadril e
enganchou um polegar sob a calcinha, e então ele foi deslizando pela cama,
alojando-se entre suas coxas, e com uma piscadela colocou a boca em seu âmago.
Clementine jogou a cabeça para trás e
gemeu conforme pequenas explosões de sensações turvavam sua visão. Ela se
sentiu inchada e ultra-sensível e, quando ele passou a língua sobre seu monte intumescido,
ela se deixou levar, seus gritos enchendo a sala.
Serge se deslocou sobre ela, parando
apenas brevemente para pôr um preservativo. Então, de repente, ele estava
dentro dela. Ele só lhe deu um momento para se ajustar antes de entrar em
movimento, e as sensações começaram a se elevar novamente. Ela o segurou pelo
pescoço, e ele moldou sua boca na dela em profundos beijos que misturavam as
respirações e as línguas com palavras russas que Clementine sabia que
retratavam o quão bom era. Seus olhos estavam escuros de prazer e ele continuou
fazendo contato visual com ela, como se testando a profundidade de seu prazer,
mas também deixando-a ver o dele.
Ela podia ouvir sua respiração áspera,
o martelar pesado dos batimentos, sentir o cheiro almiscarado da pele
masculina. Um brilho de suor aparecera no amplo espaço de suas costas, e ela
amou a intensa masculinidade. Por fim aconteceu. Uma inesperada série de
ondulações intermináveis atravessou sua pélvis, espalhando-se até os dedos dos
pés, fazendo os cabelos se arrepiarem.
– Serge!
– Da... Serge.
– Em resposta, ele empurrou mais e mais rápido.
Seu orgasmo a encontrou. Ela se
contraiu em torno dele e com um profundo gemido ele se liberou dentro dela.
Quando ele retrocedeu, ela se afundou no colchão, tendo-o pesadamente em cima
de si, amando a sensação de ser totalmente consumida por ele.
Ela fechou os olhos e respirou. Seu
cossaco.
Clementine sentiu a ausência de seu
peso, mesmo que ele tivesse ficado em cima dela tão brevemente. Ele tinha os
olhos fechados e respirava profundamente, como se se trazendo de volta à
realidade.
Sabia como ele se sentia. Mal se
reconhecia na mulher que o agarrou e choramingou, encorajando-o a fazer mais,
fazê-la sentir mais.
Ela se virou e olhou para ele.
Linda. Ele a chamou de linda.
Sentia-se linda.
Ela tocou seu ombro. Ele virou a cabeça
e seu olhar verde se enroscou no dela. Seu coração bateu mais rápido.
Serge rolou para ela e acariciou seu
rosto, sua boca.
– Eu pensei que eu tinha sonhado com
você naquela loja – disse ele com uma voz grave. – Mas aqui está você. Toda
minha.
Olhos de Clementine se suavizaram. Ele
não sabia o que queria dela, mas não era isso. Proximidade... Conexão. O que
diabos impelia suas palavras suaves?
– Serge, faça amor comigo – convidou
ela, cílios baixando, boca suave, seu corpo deitado debaixo dele, separando as
coxas em um convite explícito. Ela era uma fantasia que ele nunca soube que
tinha. Até agora.
Isso, pelo menos, ele entendia. Isso
ele podia fazer. Infinitamente.
– Com prazer – disse ele, e moveu-se
sobre ela.
ELA ACORDOU e
encontrou-se sozinha.
Por um momento, Clementine pensou que
tudo tivesse sido um sonho erótico, antes de rolar para o espaço onde ele havia
dormido e enterrar o rosto em seu travesseiro, buscando os restos de seu
perfume.
Nenhum sonho. Tudo real. Garota mais
sortuda do mundo.
Havia uma dor suave entre as coxas. Na
verdade todo seu corpo estava um pouco dolorido. Memórias a assaltaram... Suas
mãos sobre ela, aquelas mãos hábeis. Um grande sorriso se espalhou por seu
rosto. Onde ele aprendera a fazer aquelas coisas? Quando fariam isso de novo?
Ela se sentou e fez uma careta. Talvez não esta manhã.
Ela deveria se levantar e procurá-lo? O
que diria? Talvez ele não fosse matutino. Ela definitivamente não era... Com
exceção dessa manhã. Afundou de volta na cama. Nada poderia arruinar sua
felicidade.
Espreguiçando-se, sentiu sua mão encostar-se
a algo duro e frio ao lado do travesseiro. Curiosa, rolou, colocando a mão em
uma pequena caixa vermelha.
Enquanto abria, um arrepio foi se
espalhando através de seu peito.
Diamantes brilhavam em uma base de
veludo preto. Não conseguiu sequer tocá-los. Havia um bilhete.
Use-os esta noite. Eu estarei de volta
às 19h. Se vista.
Clementine não sabia quanto tempo ficou
lá, de pernas cruzadas na cama, às jóias abandonadas ao seu lado, à nota
gritando com ela: Ele comprou você; ele pensa que você está à venda.
Demorou um pouco, mas a tempestade de
sentimentos dentro dela diminuiu, até começar a pensar mais racionalmente.
Serge não tinha ideia de seu passado.
Não podia saber o efeito que uma jóia como aquela teria nela. Disse a si mesma
que esse era provavelmente seu modus operandi. Da mesma maneira que outros
homens compravam flores.
Ah, flores teria sido ótimo.
Ela deu um sorriso irônico.
Serge Marinov podia ser um cara rico,
mas isso não era tudo o que ele era. Tinha visto o suficiente para saber que
era um homem realmente bom. Nunca teria dormido com ele na noite anterior se
não fosse.
Ele tinha sido tudo... Sensível,
apaixonado e romântico.
Ela pegou a caixa de jóias e enfiou na
mesa de cabeceira, em seguida, saiu descalça do quarto. Longe da vista, longe
do pensamento.
DURANTE TODA a
manhã, ele esteve pensando sobre ela. Seus pensamentos tinham continuamente
retornado para a menina que havia deixado dormindo ao amanhecer.
Várias vezes ele quase ligou para o
celular dela. No minuto que telefonasse, estaria abrindo um canal de
comunicação entre seu trabalho e a mulher em sua cama. Nunca fizera isso e não
começaria agora.
– Serge, você não está com a gente.
A voz de Mick interveio, arrastando-o
de volta para o escritório.
Não, ele não estava com eles. Serge
encurralou seus pensamentos sobre uma mulher de 1,80m nua em sua cama e olhou
para as estatísticas que Alex lhe entregou. A palavra de Mick era boa o
suficiente, mas Alex Khardovsky, presidente da Marinov Corporation, sempre
vinha com números desanimadores, e Serge sabia que no final do dia você podia
confiar em números. Ao contrário das pessoas, nunca deixavam você na mão.
– Então, você vai descer e olhar a
criança? – perguntou Mick.
Jantar com Clementine. Teria que
adiá-lo.
– Eu encontro você lá às 19h.
Daria uma passada no hotel... Desfrutar
de uma rapidinha com a menina bonita que ele havia deixado em sua cama.
– Eu passaria estes números com você,
Serge. Podemos fazer um lanche e encontrar Mick na academia?
– Não, eu preciso passar no hotel. Vou
levar estes comigo.
Alex sorriu.
– Mulher? Você parecia excepcionalmente
otimista.
Normalmente Serge não teria hesitado em
afirmar ou negar uma pergunta de Alex. Era seu mais velho amigo. Estiveram no
quartel juntos. Além de Mick, era a única pessoa em quem confiava. Casado por
três anos, Alex brincava dizendo que a única emoção que tinha esses dias era observar
a política de porta giratória com as mulheres de Serge.
Mas a memória dos olhos suaves de
Clementine enquanto a abraçava o atingiu quando ele abriu a boca, e ele a
fechou. Sacudiu a cabeça brevemente.
– Nós ainda precisamos falar sobre
Kolcek – disse Mick categoricamente. – Você precisa de mais do que uma
conferência de imprensa, filho. Precisa colocar o seu rosto na marca.
Serge cruzou os braços.
– E eu sou o garoto-propaganda para uma
vida limpa?
Alex bufou, mas Mick balançou a cabeça.
– Publicidade é tudo neste jogo, vocês
sabem disso. Sua imagem dificilmente é o que as mães em casa estão aplaudindo e
é isso que esse conluio político sobre Kolcek visa. Os apostadores gostam de
vê-lo com uma cabeça de vento diferente a cada dia nos papéis, mas não o público
em geral. Você precisa ser visto com uma mulher decente ao seu lado. Meu Deus,
eu não devia ter que dizer isso a vocês.
– Eu não vou entrar no jogo da mídia,
Mick – afirmou Serge. – O negócio é uma coisa, minha vida privada é outra.
– O problema é que não há nada privado
nisso. E aquela mulher que confessou sobre “Minha vida com o promotor de lutas
Serge Marinov: os altos e baixos de um playboy milionário”?
Mick jogou a revista que estava
carregando sobre a mesa.
Serge a ignorou.
– Eu mal conhecia a mulher... Dormi com
ela duas vezes apenas.
Alex pegou a revista.
– Vou mostrar isto para Abbey. Ela vai
adorar.
Serge sorriu. A esposa de Alex lhe
perguntava sobre seu estilo de vida cada vez que se encontravam.
Só depois que Mick e Alex foram embora,
ele teve a oportunidade de telefonar para Clementine. Prometeu estar no hotel
em meia hora.
Ele estava a ponto de perguntar se ela
teve um bom dia, mas sabia que no minuto que fizesse aquilo estaria alimentando
a fantasia de que ela estava em sua vida de outra maneira que não em sua cama.
Sua mente voltou para a revista e a morena que vendeu sua história por cinco
dígitos. Não conseguia imaginar Clementine vendendo nada.
Tinha razão em não mencionar seu nome
para Alex.
– Até logo.
A voz dela estava em seu ouvido e ele
estava apenas se sentindo extremamente cansado ou ouviu um tom de saudade?
Sorrindo, desligou.
A COBERTURA parecia tranqüila quando Clementine
entrou, mas todas as luzes estavam acesas. Pegajosa de suor após um longo dia
de turismo, ela queria tomar banho e se trocar. Seu coração, contudo, começara
a remar como um caiaque subindo um cânion, quanto mais perto chegava do hotel,
sabendo que Serge estaria lhe esperando.
A intimidade que tinha se construído,
culminando na noite passada, parecia a um milhão de quilômetros de distância.
Não estar com ele hoje, após sua incrível noite, há deixara um pouco nervosa,
mas também animada.
Ele estava em pé na varanda. De costas,
era todo graça masculina, com sua altura e a propagação poderosa de seus
ombros.
Ela parou no limiar da varanda.
– Oi – disse ela, tentando soar casual.
Ele se virou e a intensidade de seu
olhar estava cheia de tudo o que tinham compartilhado. O pulso de resposta em
seu corpo trouxe uma cor suave para suas bochechas.
– Oi – respondeu ele.
– Dia ocupado?
– São sempre ocupados, kisa.
– Sorriu lentamente. – Você está atrasada – disse ele, sem animosidade.
– Estou? – Sabia que sim.
Serge caminhou para dentro, fechando as
portas de vidro atrás dele, e casualmente estendeu-lhe a mão.
Conforme suas grandes mãos deslizavam
sobre os quadris dela, trazendo-a contra ele, Clementine experimentou um surto
de desejo que não tinha nada a ver com a resistência em sua cabeça.
Esperou que ele dissesse algo sobre a
manhã que passaram juntos, mas ele apenas abaixou a cabeça e a beijou.
Clementine colocou as mãos em seu peito
e suavemente se separou.
– Não tão rápido.
Ele soltou, desconcertando-a, afagando
suas costas.
– Pode ir, então. – Ela olhou para ele,
hesitante. – Vou apenas me trocar. Tenho que sair em vinte minutos.
Ela hesitou, sentindo-se um pouco
tímida.
– Vamos a algum lugar chique?
– Houve uma mudança de planos. Eu tenho
que ir ao centro. Não posso levá-la para jantar.
– Você vai sair?
– É trabalho, Clementine. Acontece o
tempo todo.
Sua expressão dizia acostume-se
com isso.
– Tudo bem – respondeu ela,
decididamente alegre. – Vou com você.
– Você vai... – Parou, franzindo a
testa para ela. – Não, não é um lugar para você.
Sua mão encontrou seu quadril.
– O que é? Uma mesquita?
– Uma academia – disse ele brevemente.
– Um monte de suor e testosterona.
– Então, bem parecido com a noite
passada? – respondeu ela, correndo atrás dele enquanto ele se dirigia para o
bar.
Serge parou e se virou sorrindo.
– Talvez, mas sem a adição importante
de um pouso suave.
Foi o sorriso que a pegou. Ela
estreitou os olhos.
– Você acabou de me descrever como um
pouso suave?
– Você forneceu o pouso suave,
Clementine. Eu a descreveria como um milagre da engenharia natural.
De alguma maneira, não foi um elogio.
Não era o que se dizia para a mulher com quem se tinha feito amor pela primeira
vez e depois abandonado na manhã seguinte. Sim, Clementine, uma voz incomodou.
Abandonada.
Também não gostou do jeito que ele
catalogou seu corpo, como se examinando as partes que mais gostava. Homens
faziam muito isso com ela. Fazia sentir-se menos que uma pessoa. Ela queria que
ele visse a mulher inteira... Imaginou que ele tivesse feito isso na noite
anterior. Mas parece que não.
– Cuidado com a bajulação, vai derreter
minha calcinha.
Ele sorriu. Gostava dela assim. A outra
Clementine, suave, um pouco insegura, colocava pensamentos errados em sua
cabeça. Pensamentos de cuidar dela.
Esta Clementine podia cuidar de si
mesma.
Ele relaxou.
– Vou me refrescar – disse ela, temendo
que, quando voltasse, ele tivesse partido. – Foi um dia longo.
Serge não tentou detê-la. Ela possuía o
direito de ficar irritada. Ele não seria capaz de fazer justiça ao seu belo
corpo essa semana com tanta coisa acontecendo no mundo exterior. Mas poderia
compensá-la agora... Acalmar o temperamento dela de modo mutuamente
satisfatório.
Clementine se satisfez xingando-o de
todos os nomes que conhecia, entrando no chuveiro e deixando a água quente
fazer o seu trabalho calmante. Onde estava o homem doce e atencioso que a
escutara durante o jantar, que fora tão romântico na noite anterior?
Seguindo o caminho das fadas,
Clementine. Porque ele nunca existiu. Agora que ele a teve, ele esfriou. Ela
ouvira falar de caras desse tipo. Uma vez que a caçada estava acabada, também
estava o romance. Ela bufou. Fora tão idiota. O romance que esperava nem sequer
saiu do chão, porque nunca houve qualquer romance.
SERGE BATEU uma
vez, para manter as aparências, em seguida, abriu a porta do banheiro. Lá
estava ela. Clementine e seus 1,80m, completamente nua, com água correndo pelo
corpo, pele pálida, graciosos seios rosados, a cintura fina que só fazia o
extravagante alargamento dos quadris e nádegas ainda mais dramático, e aquelas
pernas longas, longas.
Clementine se virou, sentindo-o, e
aqueles olhos encantadores dela se estreitaram.
– Nem tente Marinov.
Mas ele sabia quais batalhas poderia
ganhar. Essa era uma delas.
Completamente vestido, ele entrou
embaixo da água, mãos deslizando ao redor dela. Quando ela abriu a boca para
protestar, tomou como um convite para abaixar a cabeça e beijá-la.
Clementine lutou contra seu desejo por
pelo menos cinco segundos antes de estender as mãos sobre seus ombros e
apertar-se contra ele. Com os braços ao redor dela, todo o resto desapareceu.
Apreciou a maneira como a fez se sentir. Linda, querida, segura.
Tantas experiências novas pensou ela mais tarde enquanto se sentava na cama, enrolada em
uma toalha grande e quente, sabendo que precisava se vestir.
Serge sequer tirou as roupas... Apenas
abriu o zíper e já acontecia. O que estava errado com ela? Devia ter gritado
com ele, não ter feito sexo.
Ele a tratava como uma conveniência.
Ficou evidente quando ele saiu do
banheiro secando o cabelo, olhou para o relógio digital e xingou suavemente em
russo.
Mais decepcionada a cada minuto, ela
disse rispidamente:
– Vai chegar atrasado, Serge?
Esqueça... Apenas diga a seus amigos que você não conseguiu manter o zíper
fechado. Tenho certeza de que não é a primeira vez.
Ele deixou cair à toalha ao seu lado.
Parecia verdadeiramente chocado.
Ótimo. Por cinco segundos inteiros
tinha dado o troco.
– São os negócios, Clementine.
Bem-vinda ao meu mundo.
Ele jogou a toalha em uma cadeira e
abriu uma gaveta.
– E, a propósito, essa atitude não
combina com você. Preferiria que continuasse a se comportar como a lady que é.
– Exceto quando estiver com as pernas
em volta da sua cintura no chuveiro – disparou de volta, magoada.
Ele abriu um sorriso carismático.
– Exatamente.
Nossa! Uma corrente de raiva
purificadora atravessou seu corpo. A semana de prazer dela acabara de ser
encurtada para uma noite. Quando voltasse, ela teria ido embora.
Mas mesmo enquanto formava o pensamento
de fuga, cavou os dedos um pouco mais firmes no tapete. Ah, sim, Clementine,
olhe para você correndo. Como se isso fosse
acontecer. Você nunca esteve com um homem como este e é emocionante, e apesar
de tudo, quer pelo menos tentar e ver se isso pode ir a algum lugar melhor.
Além disso, ele tem total controle sobre você e sabe disso.
Por que deixaria você ir? Enquanto ele
quiser, você vai ficar.
E com isso toda a raiva se foi, e tudo
o que ela sentia era confusão.
O que estava acontecendo? Ela estava de
mau humor? Serge vestiu uma calça jeans e olhou para ela novamente.
Clementine o tratava como se ele
tivesse feito algo para desapontá-la. No entanto, ela chegou ao clímax em torno
dele no chuveiro. Certo?
Qual era o problema? Ela estava
fingindo?
O pensamento o deixou frio.
Orgulhava-se em dar a uma mulher o prazer que ela merecia em troca do dom de
seu corpo, e a noção de que ele não tinha correspondido às expectativas de
Clementine varriam qualquer outro pensamento que não remediar isso.
Ele se aproximou e caiu de joelhos os
pés dela. Clementine olhou para ele com espanto.
– O que você está fazendo?
– Melhorando as coisas. Deite-se, kisa.
Ele tinha que estar brincando.
– Não se atreva.
Um desafio? Um sorriso malicioso
iluminou seu rosto, mas nenhum convite veio de Clementine.
Ela olhou para ele.
– Você precisa trabalhar seus modos,
amigo.
O sorriso se foi. Em seu lugar estava a
incredulidade.
– Você ama isso, kisa.
A arrogância do homem!
– Amo o quê? – Sua voz tremeu um pouco
com a raiva e a confusão que ela estava sentindo... Acordar sozinha durante a
manhã, ser abandonada novamente agora. – Sexo não é apenas físico, Serge. Ainda
não percebeu?
Um músculo pulsava em sua mandíbula, e
ela olhou com raiva para ele.
– E falando nisso, da próxima vez que
você decidir entrar no banheiro, pergunte primeiro.
Serge levantou-se lentamente.
– Talvez você devesse ter mantido os
gemidos em um nível razoável, kisa, e então eu teria ouvido o não.
Visivelmente tensa Clementine disse com
voz rouca:
– Eu não disse não. Só disse que você
poderia ter perguntado antes de invadir a minha privacidade.
– Anotado – respondeu ele, abrindo uma
gaveta. Não levaria a discussão adiante. Sabia aonde isso os levaria, e ele não
suportaria mal humor feminino. Ela estava sendo difícil porque ele a deixaria
sozinha. Novamente.
Agarrou uma camisa. Tudo bem, não era o
comportamento de um cavalheiro. Mas não era disso que se tratava. Puxou a
camiseta sobre a cabeça.
Do que se
tratava?
Ele olhou para Clementine enquanto ela
se sentava na ponta da cama, puxando a bainha da toalha.
Sua consciência deu um solavanco
desconhecido. Não queria deixá-la assim. Talvez devesse cancelar? Ficar com
ela? Bozhe,
não deveria ser assim. Onde estava aquela garota divertida e feliz?
Havia algo mais suave, mais incerto
sobre ela, e parecia realmente chateada.
– Você está bem? – disse ele
asperamente. – Eu não a machuquei? Não está ferida?
Sua cabeça se levantou, e ela fez um
pequeno som que soava suspeitosamente como um grito estrangulado. Segurando a
toalha, ela se pôs de pé.
– Você é um príncipe, sabia? – gritou
ela, e com esse comentário enigmático, saiu.
Ele nunca a tinha visto perder a
paciência. Ocorreu a Serge que ele poderia ter lidado melhor com a situação.
VOCÊ NÃO está
ferida?
De todas as coisas humilhantes que ele
poderia dizer... Aquilo dizia muito sobre como ele à via. Uma menina boba que
não podia cuidar de si mesma. Bem, ele teria uma surpresa. Ela cuidou de si
mesma a vida toda e poderia lidar com esse tipo de homem egoísta.
Vestiu-se rapidamente. Ela veria esse eu tenho
que ir ao centro.
Clementine esperava que ele tivesse ido
embora quando ela voltasse, mas ele não havia ido a lugar algum, e a minúscula
esperança que guardava por esse homem queimou um pouco mais brilhante.
– Se você quer que eu fique, vou com
você – atirou ela, enterrando as mãos nos bolsos.
Serge interrompeu o movimento de vestir
a jaqueta de couro, sua atenção não atraída pela declaração, mas pelo que
vestia. Um suéter azul esfiapado que em outra mulher seria casual, mas de
alguma maneira as curvas extravagantes de Clementine o transformaram em algo
completamente diferente. Algo muito inapropriado para a academia de Forster.
Ela parecia uma antiga pin-up.
Era uma mulher que podia trabalhar os ângulos. Que sabia de seus pontos fortes
e os usava a seu favor... Pontos fortes dos quais ele ainda não estava
satisfeito. Ainda não.
– Nem tente discutir comigo, Marinov.
Neste ponto você realmente não quer me irritar – intimidou, então franziu a
testa, desconfiada. – Por que você está rindo?
Quase por reflexo seus olhos foram
atraídos para a garganta dela, onde o pingente de diamante não estava em
exibição. Provavelmente inadequado dado o que ela vestia, mas não pôde deixar
de notar o pequeno medalhão sobre a lã azul macia do suéter.
Era um medalhão de menina, algo
claramente com valor sentimental e ela parecia estar sempre usando. Ele tinha
notado que ela o puxava quando estava agitada, como agora. Aquilo o irritou.
– Aparentemente, falhei em fazer você
feliz, Clementine, e isso é um problema.
Com certeza, pensou
ela. E não diria que estava tudo bem, porque não estava. O sexo não devia
tê-los aproximado? Ela sabia que era uma visão ingênua.
Era hora de alguma franqueza.
– Eu não tenho certeza do que está
acontecendo, Serge – disse ela, desconfortável. – Você me convidou para passar
um tempo com você, mas não passamos tempo algum juntos...
Ela parou.
O sorriso dele desapareceu e, pela
primeira vez, Clementine viu o homem forte que vislumbrara uma ou duas vezes em
São Petersburgo.
– Você sabia no que estava se metendo
quando veio comigo, Clementine – disse ele, quase formalmente. – Não vou me
desculpar por isso. Eu trabalho duro. No que você achou que estava se
inscrevendo?
Ela balançou a cabeça em confusão.
– Inscrição? Não sabia que estava me
inscrevendo em nada.
Então o significado do que ele disse a
acertou e duas coisas aconteceram. Sua barriga afundou e a corrente em volta de
seu pescoço estalou.
Clementine deu um suspiro de desânimo,
olhando para o medalhão em sua mão mesmo quando sua cabeça girava com a
revelação de que isso era um tipo de encontro sexual para ele.
– Mandarei consertar – disse Serge,
voluntariando-se, incapaz de superar o quão chateada ela estava ficando ou quão
desconfortável ele a fazia se sentir.
– Posso levá-lo a um joalheiro sozinha.
O coração dela martelava. Sabia que
estava sendo muito emotiva, mas sexo nunca era algo casual para Clementine. No
fundo, ela sabia o que aquilo era, mas não pensara nas conseqüências.
Ele não a levava a sério. Podia até não
gostar realmente dela. Só queria dormir com ela.
Silenciosamente, Clementine fechou a
porta que dava caminho à sua parte que desejava ser cuidada e acarinhada, que
acreditava que ela possuía o direito de ser amada, a menina idealista que se
arriscou em subir a bordo do jato com ele. Em vez disso, ela trouxe à tona a
Clementine que estivera no mundo por conta própria há vários anos, a Clementine
que sabia como fazer uma situação funcionar.
Havia duas pessoas no jogo. Se teria
uma aventura, certamente faria do seu jeito.
– Eu vou – insistiu, com as mãos nos
quadris. – Eu me inscrevi para estar com você, não para ficar sentada em um
quarto de hotel. – Era bom jogar suas palavras de ódio de volta para ele. –
Estou surpresa que você tenha encontros, Serge, se esta é a maneira como você
trata as mulheres. Embora acredite que o dinheiro ajude.
Em um instante, a sua herança tártara
aflorou, enquanto seus olhos se estreitavam e sua expressão endurecia.
– Da, kisa, o dinheiro ajuda.
De certo modo, ele devolvera o insulto,
e ela endureceu, apertando os lábios. Tudo estava descendo pelo cano e ela não
sabia bem como salvar.
– Então, o que vai ser? – disse ela ferozmente.
– Posso ir?
Serge guardou o telefone, seus olhos
viajando sobre ela. Era uma menina bonita e capaz de defender a si mesma. Ele
gostava quando ela arranhava. Não se importaria se arranhasse mais forte. Mas
era a declaração que ela estava fazendo com aquele suéter apertado que tocou
algo mais suave dentro dele. Até onde sabia Clementine realmente não tinha a
menor ideia.
Ele deu um sorriso enterrado.
– Desde que você use um casaco.
CAPÍTULO
SETE
A Academia era um
edifício de tijolos simples. E Serge estava certo sobre o suor e a
testosterona. Ele a apresentou a um homem chamado Mick Forster, um cara
atlético na casa dos 50, que foi educado, mas não prestou mais atenção nela.
Todos os outros homens no ambiente viravam seus pescoços conforme ela passava e
Clementine nunca se sentira tão evidente em sua vida. Ela ficava feliz por
estar usando roupas neutras.
Optou por não segurar na mão de Serge.
Não seria a mulherzinha em seus braços.
Ela cruzou os braços e caminhou mais
para dentro da academia, observando os atletas, tentando não olhar muito tempo
para qualquer cara em particular. Estava mergulhada em território masculino.
Era assim que Serge começara.
Interessante.
Ela voltou e encontrou Serge
conversando com um grupo de homens. Sentou-se em um banco. Um jovem baixo e
forte escorregou sob as cordas e para dentro do ringue. Um cara maior o
defrontou e Clementine assistiu com interesse, enquanto eles começaram as
fintas e jabs. Era uma espécie de balé masculino.
Ela notou que ninguém se sentou ao lado
dela. Não havia nada amigável sobre qualquer um desses caras, mas suspeitava
que não era pessoal. Sua atenção voltou para Serge. Ele falava em voz baixa com
Mick Forster e os dois estavam concentrados na disputa.
Então Mick disse alguma coisa, e tudo
aconteceu de uma só vez. Os golpes eram para valer. Clementine estremeceu
quando os corpos dos homens colidiram. Ela desviou os olhos, mas os sons
continuavam chegando.
– Clementine, gostaria de esperar no
escritório? – Serge estava debruçado sobre ela, bloqueando sua visão do ringue.
Sem discutir, ela assentiu. Sentiu-se
envergonhada e vagamente culpada.
– Por que diabos você trouxe ela aqui?
– disse Mick quando Serge retornou.
Serge sentiu uma onda incomum de
irritação.
– Minha vida pessoal não é da sua
conta, Mick.
– Ela é uma distração. Você precisa
tirar os olhos dos peitos dela, rapaz. Um movimento político contra essa
organização e estádios vão fechar como ratoeiras em todo o país.
A expressão de Serge permaneceu branda
enquanto dizia, mas com ênfase letal:
– Se mencionar os peitos de Clementine
novamente, nossa conversa acaba por aqui, Mick.
– Bem, bem... – Foi tudo o que disse.
Então, em voz mais baixa, continuou: – Você acha que ela está disposta a ser
fotografada segurando sua mão em alguns eventos de caridade?
CINCO MINUTOS depois,
Serge emergiu. Clementine se levantou.
– Já terminou?
– Vamos embora, kisa.
Não era o mesmo que estar terminado,
mas eles entraram no carro, e ela disse baixinho:
– Desculpe-me. Você estava certo. Eu
não devia ter vindo.
Inesperadamente, ele a puxou e beijou
seus lábios surpresos, um gesto de conforto.
– Não, você não devia ter vindo, mas
foi culpa minha.
– Quem era ele? O lutador?
– Jared Scott. Vamos contratá-lo.
– Isso é bom?
– Conto com isso, kisa.
Estamos investindo bastante nele.
– Como funciona? O que gera o dinheiro
além da venda de ingressos?
– Apostas – disse Serge
categoricamente. – Era só isso inicialmente. Mas a organização ganhou
patrocinadores. Quando os rapazes entrarem no ringue daqui a duas semanas aqui
em Nova York, vão estar cobertos de logotipos.
– Haverá uma luta?
– Nós chamamos de eventos. Nem pergunte kisa.
Clementine desviou o olhar.
Ele não sabia por que, mas sentia o
desejo de tranqüilizá-la. Estava acontecendo desde que Clementine se sentara na
cama envolta na toalha, parecendo perdida. Mas seu instinto de autopreservação
o segurou. Não queria criar esse tipo de dinâmica no seu relacionamento.
Sua mão apertou a coxa dela, que olhou
para cima.
– É muito difícil para uma mulher andar
naquele ambiente. Você esteve muito bem.
Era desconcertante perceber que ele
tinha lido seus pensamentos. No entanto, ela estava começando a antecipar os
dele.
– Vou ver você durante o dia?
– Você sabe por que eu precisava voltar
para Nova York, kisa. É um momento agitado do ano.
Serge se esforçou para manter seu tom
razoável. Sabia que aquela pergunta estava por vir. Todas as mulheres que ele
saía queriam um tempo que não tinha para oferecer.
– Nós temos apenas uma semana.
Devia estar relaxado. Devia ser um
terreno familiar. Não era.
– Que tal você ficar após o fim da
semana?
– Ficar?
– Depois de ontem à noite e hoje,
Clementine, eu estaria comprovadamente louco se a deixasse ir.
– Ah. – Estava falando do sexo.
Ele notou que ela tentou puxar o
medalhão que não estava lá por reflexo.
– Não está interessada? – perguntou por
mera formalidade, é claro que ela estava.
– Eu tenho um trabalho, Serge – disse
ela, com a voz mais firme que antes. – Foi imprudente tirar uma semana de
folga. Não sei se poderia conseguir outra.
– Então se demita.
A indiferença de um bilionário. Será
que realmente achava que era fácil para ela?
– Não posso simplesmente largar meu
emprego. É uma carreira e é importante para mim – balbuciou ela. –Além disso,
eu tenho um apartamento e uma vida para custear.
– Clementine, não acho que você esteja
entendendo o que estou oferecendo a você.
Ela puxava o suéter agora. Serge
observou, fascinado, enquanto se esforçava para descobrir qual era o problema e
quanto isso ia lhe custar.
– Duas semanas em sua cama em troca de
uma carreira? Acho que não.
– Eu estava pensando em algo mais
aberto – disse ele, consciente de que Clementine estava prestes a rejeitá-lo.
Como diabos ele se abriu para isso, não tinha ideia. Tudo o que queria era
continuar a vê-la.
No entanto, ele não era capaz de dizer
as palavras vou fazer valer o seu tempo.
Talvez porque nunca tivesse realmente que dizê-las a uma mulher. As mulheres
que ele escolhia para estar entendiam o contrato tácito: sexo mutuamente
agradável, certo estilo de vida disponibilizado e, no final, uma recompensa na
forma de jóias ou qualquer outra coisa que suavizasse as bordas do que era
essencialmente um contrato sexual.
Clementine olhou para ele com aqueles
olhos cinzentos.
– Não sei Serge – disse ela com
dignidade. – Você não fez muito esforço até agora.
Sto? Ele corou. Não fez muito esforço? O
que exatamente isso significa?
– Não vi você hoje, e na noite passada
me senti... Estranha.
– Estranha?
Ele repetiu a palavra como se ela
estivesse falando outra língua.
– Eu me senti um pouco... Usada –
confessou.
Os olhos dele se estreitaram.
Clementine observou a mudança cautelosamente.
– Do que você precisa Clementine?
– Tempo. Com você.
Pedia o mais difícil, pensou ele. Diamantes eram muito mais fáceis.
No entanto, uma espécie selvagem de
certeza sobre como isso se desenrolaria o fez se focar na única coisa que ela
parecia estar pedindo, que era, na verdade, o que ele poderia lhe dar.
Tempo em sua cama. Tempo com ele. Tempo
para ambos.
– Serge?
Nunca se sentira assim com nenhum outro
homem. Não queria que acabasse. Mas não podia perder seu respeito próprio se
ele só pensava nela como uma conveniência.
– Vou arranjar tempo. – Seus olhos
verdes haviam escurecido.
Serge estendeu a mão para ela e de
repente Clementine estava enrolada naqueles braços musculosos, sendo beijada do
jeito que sonhava ser acordada naquela manhã.
CLEMENTINE ACORDOU cedo todas as manhãs pelo resto da
semana. Fez questão disso. Significava que ela dormia levemente e acordava
muitas vezes, mas às 6h da manhã, quando Serge acordava, seus olhos estavam
abertos e ela esperava por ele, falando sonolenta sobre o que tinha previsto
para o dia: uma galeria, um passeio no Centro, uma caminhada pelo Central Park.
Serge ouvia e, gradualmente, falava um pouco do que estaria fazendo. Percebeu
que não parecia acostumado a se explicar, mas estava se esforçando. Era um
começo.
Na sexta-feira, a falta de sono a
venceu. Foi à luz em seu rosto que a acordou, na cama já vazia. Seu coração se
afundou. Porque deixava claro o que ela estava evitando desde a primeira manhã:
não era o início de um relacionamento, era uma aventura sexual.
As pessoas as tinham. Ela possuía
amigas que dormiam com homens com a única finalidade de obter prazer sexual.
Era uma parte natural da vida. Aparentemente.
Não para ela. Apenas fazia sexo em
relacionamentos... Do tipo que tinha um quadro de cuidados mútuos e visão de um
futuro juntos. Que ambos os seus relacionamentos tivessem sido terminados por
ela, nenhum verdadeiramente tocando seu coração, não tornava isso menos
verdade.
Entrara neles com inocência, crença no
amor, até que Joe Carnegie a mostrou exatamente quão básicas as relações entre
homens e mulheres podem ser.
Essa experiência a assombrava, e ela
não percebera o quanto até conhecer Serge. Tinha medo de dar muito de si a ele,
de se abrir e ver Serge reduzir aquilo a algo sórdido.
Pensou que o conhecia, ele era doce,
generoso e atento, mas acordar sozinha agora, como na primeira manhã,
trouxe-lhe tudo de volta. Como eles se conheceram, onde estavam agora... Em um
hotel, ele com sua vida profissional, a vida dela em hiato.
Sentando-se, olhou tristemente ao redor
do quarto. Nunca se acostumou ao luxo. Mas parecia vazio sem ele e, pior, a
fazia se sentir desconfortável. Afinal, eles não tinham um relacionamento.
Serge entrou no quarto com duas canecas
de café.
– Você está acordada, dushka.
– Serge. – Não conseguia esconder seu
prazer ao vê-lo.
– Cubra-se ou não me responsabilizo por
minhas ações. E temos que andar logo. Vou levar você aos Hamptons para o fim de
semana.
– Agora?
O olhar dele pousou no corpo nu de
Clementine.
– Você está propositalmente tornando
isso difícil. Da... agora.
Clementine saltou da cama e correu para
a porta.
SERGE OBSERVOU Clementine.
Gostava de acordar com ela quente e doce, envolta nele, e não fingiria que não,
até teve um impulso de ligar para ela durante o dia e ouvir aquele “Serge” sem
fôlego, como se não acreditasse que ele tinha ligado e pudesse largar tudo para
voar para o seu lado. O que nunca fez. Não a senhorita independente. Em todas
as suas demonstrações de afeto, parecia que ela estava pairando como uma
borboleta, incerta. A analogia era pertinente... Delicada, caprichosa, difícil
de segurar. Sua indefinição permanecia apesar da semana juntos.
Era claro para ele que ser uma menina
de plantão para um homem rico não era um cenário que Clementine realmente
compreendia. Estava começando a suspeitar que era sua primeira incursão nesse
mundo. Se seus olhos arregalados para a suíte de cobertura não lhe dizia isso,
a recusa em usar o colar de diamante confirmava.
Estava começando a suspeitar que ela
não fazia ideia do que isso tudo se tratava... E estavam juntos nesse barco.
O PASSEIO de helicóptero foi emocionante. A
vista da cidade abaixo era como um filme.
– Você não tem medo, kisa – gritou Serge acima do rugido da
hélice.
– Eu tenho alguns, mas não de altura – devolveu-a.
– Diga-me que não é o lugar onde vamos ficar?
Uma grande casa branca, localizada ao
lado das dunas da praia.
No heliporto, ele pegou a mão dela em
um gesto casual.
– Bem-vinda Clementine.
– Você mora aqui?
– Estou pensando em comprá-la. Estou
alugando no momento.
– E São Petersburgo?
– Inverno. Quando puder.
Pela primeira vez ela percebeu que
fazia sentido para ele ter uma base nos Estados Unidos. Seus interesses de
negócios estavam lá. Serge não viveria em hotéis.
Ele estava apenas com ela em um hotel.
Um desconforto a percorreu, mas o
empurrou de lado. Ela estava ali agora.
– Pode me mostrar a casa?
– Vai ser um prazer – disse ele, com
uma nota de formalidade que não devia tê-la surpreendido.
Confiar um pouco mais nele a fazia
querer coisas que não poderia ter.
Era um pensamento perigoso. Bastava
olhar em torno da casa enorme para ficar consciente do abismo entre eles.
Imaginá-lo no banheiro de seu apartamento a fez gargalhar, e ele olhou curioso.
– O que é engraçado, kisa?
– Eu estava pensando no que uma garota
de classe média de Melbourne está fazendo com um russo bilionário em sua casa
de verão em East Hampton! – respondeu ela.
– Apreciando as comodidades – disparou
ele de volta. – Está tudo à sua disposição, Clementine. Quadra de tênis,
piscina, salão de jogos, teatro e, claro, o oceano Atlântico.
Chegaram ao outro lado da casa e saíram
para o deque, estendendo-se como a proa de um navio em direção às dunas gramadas
e ao Atlântico mais além.
– É enorme. Você não pode viver aqui
sozinho.
– Vou usá-la para entretenimento neste
verão. – Ele encolheu os ombros. – E eu não vou viver aqui sozinho no momento.
Tenho você.
Clementine tentou não apreciar demais
esse comentário, mas teve que abaixar o queixo para esconder seu sorriso. Serge
realmente estava sendo muito doce. Desde a conversa no carro ele passara a ser
tudo o que ela precisava que fosse. Foi muito fácil esquecer que estava ali
apenas de passagem.
Embora ele tenha dito que queria mais.
E depois de uma semana, ela também. Olhou para ele, perguntando-se como abordar
o assunto.
Ela ainda estava pensando nisso quando
Serge a deixou para fazer algumas ligações. Pensou tristemente que, com Serge,
não era com outras mulheres que ela precisava se preocupar. Era com os
negócios. Se ela pretendia ficar com ele, precisava arrumar um emprego.
Ocorreu, assim, que com a Marinov Corporation enfrentando um grande problema de
relações públicas no momento, suas habilidades podiam ser úteis.
Estava cansada de moda. Queria algo
para se jogar de cabeça.
Mas, principalmente, seria bom para
mostrar a Serge a menina inteligente embrulhada no pacote de garota sexy.
Serge reapareceu em 15 minutos,
trajando apenas uma bermuda.
Os joelhos de Clementine ficaram
fracos.
– Que tal dar um mergulho, kisa?
Seu rosto se entristeceu.
– Não tenho roupa de banho.
Ele piscou para ela.
– Já cuidei de tudo.
– Não vou vestir algo que pertencia a
uma mulher qualquer que você trouxe aqui.
Por um momento, Clementine pensou que
ele iria dizer algo sobre a tal mulher. Contudo, ele deu de ombros.
– Mandei comprar um guarda-roupa de
verão para você, Clementine. Verifiquei o tamanho de suas roupas.
– Você comprou roupas para mim? –
disse, lutando para manter o controle da voz.
– Da... Sou
um príncipe.
Ela procurou em seus olhos algum traço
de domínio, mas ele parecia relaxado.
Tudo bem, ele estava transformando tudo
em uma brincadeira. Isso não era sobre ela em um vestido de grife em seus
braços. Era casual, apenas entre eles. Tratava-se de sua casa de verão.
Ele a levou para a casa.
Precisava relaxar.
Foi maravilhoso brincar nas ondas frias
do Atlântico. Clementine crescera ao lado da praia e era o que mais sentia
falta na Inglaterra. Havia praias, mas nada como o que estava acostumada em
casa.
Serge nadou com ela. Era um homem
diferente ali. Ria e brincava com ela e parecia ter deixado a cidade e todas as
suas tensões para trás.
Enquanto voltavam da praia, sentiu-se
confiante o suficiente para trazer à tona o assunto que ela vinha ensaiando em
sua mente durante todo o dia.
– Serge, estive pensando sobre o que
você disse... Sobre minha estada aqui.
Ele a puxou para mais perto. Seu olhar
apreciava a pele molhada.
– Isso soa promissor.
– Eu estava pensando que talvez eu
pudesse trabalhar para você. Deve ter um departamento enorme de relações
públicas.
O calor sexual foi encharcado com um
balde de realidade.
– Nyet... Não, definitivamente não. Não é lugar
para você, kisa.
– O que você quer dizer? Sou altamente
competente no que faço.
– Não tenho dúvida, mas você não vai
trabalhar no ramo de luta, Clementine. Não enquanto estiver comigo.
Ela olhou para Serge com tristeza. Por
que ele tinha que trazer isso à tona? Para dizer que havia um limite de tempo
para tudo? Queria esquecer aquilo, curtir o momento com ele, se o momento era
tudo o que ele poderia lhe dar.
– Ouça. – Ele pegou seu queixo com a
mão. – Eu posso lhe enviar para qualquer empresa de moda de alto nível nesta
cidade. Conseguir um emprego não é um problema.
Ela não pensara nisso. Seus contatos.
– Prefiro arrumar meu próprio trabalho,
Serge.
– Isso quer dizer que você vai ficar kisa?
– Ele deslizou as mãos pelos ombros de Clementine.
Ela jogou seu rabo de cavalo.
– Poderia ser persuadida.
Ele a persuadiu. Serge tentou ignorar a onda de calor que o pensamento trazia.
Qualquer outra mulher organizando sua vida para se adaptar à dele o deixaria em
alerta. Mas não ela. Não queria que Clementine voltasse para Londres.
NAQUELA NOITE, o sexo foi rápido e selvagem. Clementine
caiu em um sono profundo, quase imediatamente, mas ele permaneceu acordado por
muito tempo, com o luar derramando-se sobre a cama e o rosto iluminado de
Clementine pela luz pálida no travesseiro ao lado. Ela era a mulher mais bonita
que ele já tinha visto. Mas seus traços eram um pouco irregulares, havia sardas
por todo o seu corpo e ela possuía o mais cativante roncar. Por que tudo isso a
deixava mais bela, ele não sabia. Deixava-a, no entanto.
Ele deve ter cochilado, porque acordou
ouvindo a voz suave dela em seu ouvido. Estava lhe dizendo coisas e, em um
primeiro momento, tudo o que ele fez foi ouvir. Como tinha sido difícil para
ela chegar a Londres três anos antes, sem conhecer ninguém, todos os problemas
que passou os empregos que suportou. Mas sempre continuava pensando: Eu não
posso voltar. Não posso colocar o rabo entre as pernas e ir para casa. Há uma
vida maior para mim no mundo.
Descobriu que apenas estava ouvindo
tudo isso porque seus olhos estavam fechados. Sua misteriosa Clem se abria e
ele não se sentia disposto a afugentá-la movendo-se um centímetro. Podia sentir
seu cabelo deslizando sobre seu braço e peito, a pressão quente de seu peito,
barriga e perna. Estava pensando em como ela era doce, confiando nele dessa
maneira.
Ela encontrara Luke, seu antigo colega
de escola e vizinho, em um pub.
– Você se lembra do Luke? Ele ia dar um
soco no seu nariz.
E de repente sua vida começou a se
abrir. Sob os conselhos de Luke, ela conseguira seu primeiro bom emprego na
agência Ward, representando estilistas emergentes. Até que conseguiu o emprego
com Verado.
Ela disse a ele que Luke sempre lhe
aconselhava a fazer todos os contatos possíveis. Aprendeu a se relacionar, a
tirar o máximo do que tinha e paquerar até não poder mais e, como resultado, conseguira
empregos.
Da, ele já entendera. Tinha imaginado que
ela inventara a personagem de sexy-girl apenas para chamar atenção. Só não
relacionara à sua vida profissional. Mas fazia completo sentido. Por isso nunca
teve aquela garota sexy em sua cama. Tinha alguém melhor, muito mais real,
sensual, genuína.
Ela acariciou seu pescoço e ele abriu
os olhos para olhar para ela.
– Assim que deixei o Exército, estava
perdido, pulei de trabalho em trabalho.
Ela deu um pequeno suspiro.
– Você está acordado?
Ela parecia desanimada.
Ele absorveu seus olhos arregalados e
preocupados, o calor se acumulando nas bochechas. O impulso para não
constrangê-la o fez continuar falando. Sobre a venda de peças mecânicas no
mercado negro, sobre uma tentativa fracassada de criar uma empresa de
exportação, sobre a academia que possuía que ele quase perdeu quando a empresa
de exportação foi à falência, mas acabou se tornando seu trampolim.
– Por que você se interessou pelo ramo
de luta?
– Começou no Exército... Lutando por
dinheiro. Passei a organizar partidas. Não é um esporte suave, kisa.
É melhor estar nos bastidores.
Instintivamente Clementine estendeu a
mão e gentilmente tocou a ponta de seu nariz.
– Foi assim que você o quebrou?
– Duas vezes. Aconteceu há muito tempo.
Nem sequer me lembro da dor.
Ela lhe acariciou o peito.
– Não gosto da ideia de você apanhar.
– Eu sou um cara durão, kisa.
– E a sua família? O que eles pensam
sobre você estar envolvido no esporte? E sua mãe?
– Minha mãe morreu quando eu tinha 19
anos – disse, calmamente. – Ela tomou alguns remédios.
Clementine levantou a cabeça, a testa
franzida.
– Nunca vamos saber se foi suicídio. É
provável que sim. Não fique tão triste, Clementine, isso foi há muito tempo.
– Sua mãe? – disse ela suavemente,
acariciando-o.
– Deixe-me lhe contar algo sobre mães, kisa.
A minha se casou jovem. Meu pai era engenheiro... Idealista, provavelmente
bipolar. – Ela parou de acariciá-lo e seus olhos estavam presos aos dele. –
Meus pais se amavam com uma intensidade que não permitia nem ar no meio do
relacionamento ou qualquer luz em nossa vida familiar. Eram duas apresentações
diárias de Turandot.
Clementine permaneceu em silêncio,
tentando formar uma imagem do que sua infância deve ter sido.
– Papai entrou na frente de um carro
uma tarde, quando eu tinha 10 anos, e tudo mudou. Mamãe se casou novamente
alguns anos mais tarde. Meu padrasto e eu não nos dávamos bem, e eu fui mandado
para a escola militar. Antes de sentir pena, kisa, saiba que foi o melhor lugar para mim.
Eu raramente via minha mãe e minha irmã depois disso. Meu padrasto fez fortuna
com a queda do comunismo e prontamente a perdeu... Colocou uma bala em sua
cabeça. Mamãe não estava muito atrás. Como vê... Uma ópera em quatro atos.
Clementine ficou em silêncio por um
momento e então deitou a cabeça em seu ombro.
– Sim, você é – disse ela suavemente.
– Eu sou o quê? – perguntou ele com a
voz áspera.
– Um cara durão.
Eles ficaram quietos por um tempo e, em
seguida, ela confessou:
– Eu não quero voltar para a cidade.
Foi o mais próximo que ela conseguira
manifestar sobre seu desconforto em viver em um hotel com ele.
– Enjoou do serviço de quarto?
Ele estava brincando com ela, mas havia
algo mais em sua voz. Uma tristeza. Possivelmente uma sobra de suas revelações,
ou talvez estivesse apenas cansado de tentar impressioná-la.
– É um pouco impessoal, não acha? Não
tinha percebido até chegarmos aqui. Estar nesta casa é mais parecido com a vida
real.
Serge se sentiu desconfortável e não
era uma sensação familiar para ele. O impessoal não estava funcionando para ele
também. Ele a trouxe ali para definir parâmetros de seu relacionamento futuro,
mas a mulher deitada em seus braços não se encaixava nesses termos. Nunca
revelará a mulher nenhuma, ainda que considerasse todas juntas, tantos detalhes
sobre sua vida.
– Que tal tornarmos mais como a vida
real?
Ela olhou para cima.
– Eu vou levar você de volta para minha
casa, Clementine. Acho que o cenário do hotel está desgastado, não?
Ele tinha uma casa na cidade. No
entanto, eles ficaram em um hotel por uma semana.
Por um momento, todo o mundo de
Clementine balançou e tudo o que tinha vindo antes assumiu uma luz nova, mais
dura.
– Entendo – disse ela suavemente.
– Não entenda muito, Clementine – falou
ele em voz baixa, e ela balançou a cabeça. Era tudo o que poderia fazer.
Não era pessoal que ele tivesse
escolhido um hotel para conhecê-la, fazer amor com ela, pensou desesperada em
deixar tudo bem novamente, deixar tudo romântico e cheio de esperança outra
vez.
Nem era pessoal que ele tivesse
decidido deixá-la entrar em sua vida, reconheceu dolorosamente. Era apenas uma
escolha que ele estava fazendo, provavelmente para o próprio conforto. Ela se
moveu rápido depois disso, inventando uma desculpa de que precisava usar o
banheiro e se trancando lá dentro, ligando o chuveiro para bloquear o som de
suas lágrimas.
CAPÍTULO
OITO
A viagem de volta
para a cidade deu a Clementine a oportunidade de entender tudo o que havia
acontecido recentemente. Serge estava quieto. Gostava de dirigir.
Ele olhou para Clementine.
– Ponha a mão no meu bolso.
– Serge!
– Vá em frente. Eu não vou morder.
Revirando os olhos, mas curiosa, ela
alcançou o bolso do casaco e encontrou uma pequena caixa. Ela abriu.
– Meu medalhão!
– Mandei consertar.
Ela não o tinha visto desde que o
guardara em uma gaveta ao lado da cama. Serge claramente viu.
Mergulhando a cabeça para colocá-lo no
pescoço, ela experimentou uma onda de afeto e se sentia estranha por expressar.
Não agora que tinha uma visão mais clara de seu relacionamento.
– Não me diga que é uma lembrança de um
antigo namorado – disse ele.
– Comprei para mim quando fiz 18 anos.
– Levantou seu pulso. – Comprei este relógio quando assinei com Verado.
Serge franziu a testa.
– Você mesma comprou?
– Por que não? – disse ela
defensivamente. – Alguém uma vez me disse que se você não tem as pessoas em sua
vida para marcar ocasiões importantes, precisa fazer isso por si mesmo. – Ela
sorriu. – O que para mim é apenas uma desculpa para fazer compras.
Ninguém para marcar ocasiões importantes. Não deveria incomodá-lo, mas incomodava.
– Clementine, uma mulher bonita não
deve comprar jóias para si mesma.
Ela lhe deu um sorriso brilhante de
desprezo.
– Homens estão sempre me comprando
presentes, Serge. Eu só escolho não aceitá-los.
Seus dedos ganharam destaque no
volante. Ele não queria ouvir sobre outros homens. Mas entendeu a mensagem.
Alto e claro. Ela estava pensando sobre o colar de diamantes. Desejou nunca ter
lhe dado a maldita coisa. Dado? Ele deixou para ela encontrar com um bilhete. Obrigado
por seus serviços. Ele não costumava se arrepender, mas esse era um
incidente que desejava que pudesse voltar e mudar.
– Você não falou sobre sua família –
disse ele, limpando a garganta. – Suponho que tenha. Pais?
Clementine olhou para ele bruscamente.
Ele lhe deu um sorriso tranqüilizador e sua defesa vacilou. Ela assentiu
lentamente.
– Infância feliz? – disse ele,
pressionando-a, incerto sobre onde estava indo com isso, mas se sentindo um
pouco como um náufrago se agarrando em toras.
– Na verdade, não. – De repente, ela
ficou fascinada por suas mãos, examinando as unhas enquanto falava. – Eles se
divorciaram quando eu tinha cinco anos.
– Criada pela mãe?
– Era jogada entre eles... Mãe em
Melbourne, pai em Genebra. Ele é correspondente de guerra. Sempre atrás de
algo, seja um conflito, uma história, uma mulher. – Ela encolheu os ombros,
lidando com a mistura de raiva e tristeza que sempre sentia quando falava sobre
os pais. – Mamãe se casou novamente. Tenho três irmãs, mas não as conheço
direito. Saí de casa aos 17 e não voltei mais.
Serge franziu a testa.
– Mas aos 17 anos é cedo para uma
menina estar por conta própria.
– É, mas eu consegui.
Explicava muita coisa. Sua
independência, mas também a vulnerabilidade que o preocupava.
– Então você não sente falta de sua
família? – Não sabia por que estava insistindo, só achava que precisava saber
mais sobre esse lado dela e, até agora, ela nunca falara sobre isso.
– Não há muito para sentir falta –
respondeu, olhando para baixo. – Ainda estava na escola quando saí de casa.
Acabei fazendo uma série de trabalhos braçais durante o dia, e estudava à
noite. Não achava que chegaria a lugar algum. Tomei a decisão de fazer o que
muitos da minha idade estavam fazendo e fui para Londres. Não me arrependo.
Sempre senti como se houvesse oportunidades para mim lá fora, no mundo, e
queria apreciá-las.
Clementine de repente desejou que a
conversa nunca tivesse acontecido. Falar sobre seus pais sempre despertava
lembranças dolorosas. Uma infância na qual nada era certo, todo o poder nas
mãos de dois adultos que pareciam ser nada mais do que crianças grandes,
sozinha e sem proteção entre eles, havia lhe incutido uma forte necessidade de
proteger a si mesma.
Aos 25 ela sabia que o passado começava
a cobrar seu preço. Profissionalmente ela estava bem, mas sua vida pessoal
nunca tinha realmente decolado e agora tinha morrido na praia.
Até este homem.
Não enxergue demais, Clementine.
Não, ela não o faria. Mas ele queria
ter certeza de que ela poderia ser a garota que ele precisava. A menina sem
compromissos. Mas poderia ela
ser aquela garota ou o preço era muito alto?
Era hora de se proteger novamente.
Ela agarrou seus joelhos.
– Serge, posso ser franca?
Ele realmente parecia surpreso e ela
quase sorriu. Havia palavras piores que você poderia dizer para um homem?
Sempre antecediam algo que preferiam não saber.
Ela sorriu levemente. Sorte
sua, Serge, você vai conseguir exatamente o que quer ouvir.
– Não sou ingênua – continuou. – Sei
que você vive para o seu trabalho. Relacionamentos estão longe de ser
prioridade. Também sei que quer me manter longe dessa parte de sua vida.
Entendo que tenha escolhido me levar a um hotel em vez de me levar à sua casa.
Ele parecia querer dizer algo, mas ela
continuou rápido.
– Você está me dizendo para não levar a
sério nada disso. Eu entendo. Entendo que tudo o que está oferecendo é uma
oportunidade, não uma relação de longo prazo. Está tudo bem. É o que eu quero
também.
Mentirosa.
Serge ficou quieto.
Devia ser o seu momento de alívio. Em
vez disso, o atingiu como um soco.
– Uma oportunidade? – disse ele
lentamente.
Pela primeira vez, em mais de uma
semana, lembrou-se da garota que ele conheceu em São Petersburgo. A garota que
imaginara ter uma fila de caras para escolher. A partir de sua primeira noite
juntos o pensamento havia se tornado risível. Dera a impressão de ser arrastada
por seus sentimentos.
Até a pouco, ele teria desconsiderado
sua reivindicação. No entanto, agora, conhecer um pouco sobre o passado dela
lhe dava outra perspectiva. Ela era claramente mais durona do que parecia. Era
uma mulher que sobreviveu sozinha desde a adolescência. Ela não precisava de
sua proteção. Não precisava de mimos. Ela estava dizendo a Serge exatamente o
que ele deveria comemorar por ouvir.
– Assim, encontrar um emprego faz
sentido, não acha?
Ele olhou para Clementine. Ela lançou
um sorriso brilhante.
Nyet, nada fazia sentido.
NO DIA seguinte,
Clementine passou seu tempo sozinha pesquisando o nome de várias marcas de
moda. Seu currículo agora tinha o nome de Verado como atrativo. Todo seu
trabalho duro em São Petersburgo valera à pena. A grife de moda Annelli estava
lançando uma campanha de Natal para marcar seus jeans com uma jovem atriz
emergente. Se ela estivesse interessada em se juntar à sua equipe, eles tinham
um emprego para ela.
O trabalho era em Nova York. Não
haveria problema com seu visto. Estava tudo certo. No entanto, ela hesitou em
aceitar o trabalho. Pensou sobre o que tudo isso significava.
Ela queria muito mais de Serge do que
suspeitava que ele pretendia lhe dar. Você não levava uma garota para um hotel
quando tinha uma casa perfeitamente boa na cidade. Ele nunca quis que isso
fosse nada mais do que uma aventura sem compromisso e nos Hamptons. Desesperada
para manter a dignidade, ela descartou a profundidade de seus sentimentos e lhe
deu seu passe livre para fora da prisão.
Porque ela possuía sentimentos por
Serge e não os negaria a si mesma enquanto os escondia dele. E quanto mais
tempo estivessem juntos, mais profundos esses sentimentos ficariam.
Ela desesperadamente não queria ser sua
diversão apenas. Sabia da impressão que ela lhe dera em São Petersburgo.
Clementine esperava que ele a conhecesse melhor agora. Contudo, uma semana de
amor inebriante, não muito mais, e continuava suspeitando que isso sempre seria
um caso sexual para Serge, e seu estilo de vida de luxo só confirmava. Por que
ele iria querer mais quando sua aparência e dinheiro poderiam trazer belas
mulheres de todo o mundo?
Ele a convidara para sua casa agora,
cutucou sua voz interior. Era algo.
Mas não era um convite para entrar em
sua vida, que era claramente pelos negócios.
Por isso, ela hesitou em trabalhar na
Annelli. Tudo o que Serge disse sobre Clementine não trabalhar para ele apenas
deixara a ideia mais atraente e mais ela pensava sobre isso. Ficar com Serge
significaria muitas visitas de fim de noite em academias e muitas viagens. Para
estar em sua vida ela precisava estar em seus negócios. Poderia provar para ele
que era muito mais do que um corpo quente em sua cama. Talvez fosse um caminho
para eles.
Mas a questão fundamental é a
necessidade de manter sua independência, o que significava encontrar um
apartamento próprio. Estar segura significava ser independente.
Ela saltou do táxi na East 64th e
correu em direção à linha de casas dos anos 1920.
A casa de Serge foi uma surpresa
adorável. Era um lar de fato, com 11 quartos, mais de cinco andares.
Ridiculamente grande para um único homem, mas no que Clementine estava
interessada era no quão despretensiosa parecia. Completamente restaurada, tinha
uma simplicidade à moda antiga que dizia muito sobre o homem com quem estava
vivendo e era estranhamente reconfortante.
Ela ligou o laptop no escritório de
Serge e entrou em seu site. Sabia que ele estaria em uma luta na noite de
sexta-feira, o que lhe deu uma oportunidade de vê-lo em ação.
Ele não precisava saber e aquilo iria
ajudá-la a construir uma noção de como abordá-lo sobre um trabalho. Ela
reservou um bilhete on-line e fechou o laptop com uma sensação desconfortável
de que havia acabado de passar dos limites com Serge. Se ele descobrisse, não
ficaria feliz.
SERGE CONSULTOU o
relógio e, em seguida, olhou para as telas na sala de controle. O estádio
estava lotado e o principal evento logo começaria. Ele poderia, enfim, voltar
para a cidade e jantar com Clementine.
Ele estava gostando de seu pequeno
acordo. Nunca tinha morado com uma mulher antes.
Embora Clementine fosse rápida em
lembrá-lo que ela estava efetivamente de férias e que, uma vez que seu visto de
trabalho expirasse, as coisas naturalmente se alterariam. Eles não estavam
realmente vivendo juntos. Ela disse isso para ele. Nós não
estamos vivendo juntos, Serge.
Como se ele precisasse saber seu lugar.
Como se ela precisasse alertá-lo.
E ela continuava falando sobre essa
ideia do apartamento. Disse a ela que não havia pressa, mas isso não parou seu
falatório...
Era quase como se pensar nela a
evocasse na pequena tela na frente dele, de repente preenchida com o rosto
dela.
– Segure a câmera – disse ao técnico à
sua frente, e se inclinou.
As câmeras sempre paravam em uma menina
bonita e Clementine com seu lindo rosto, sua riqueza de cabelo solto sobre os
ombros, calças jeans e casaco era apenas isso. Possessividade o agarrou por
trás, pelo pescoço.
Ela estava lá fora. Sozinha.
Serge registrou tudo isso, enquanto
Alex disse algo sobre ir lá embaixo e mostrar-se no camarote dos proprietários,
apenas para fazer a mídia feliz.
– Essa menina – disse Serge. – Descubra
qual é o assento dela.
– Você quer que eu vá buscá-la, chefe?
– Não toque nela – rosnou Serge. – Vou
lá embaixo. Mantenha-me informado por telefone.
Alex se encontrou com ele enquanto
corria pelo labirinto de corredores.
– Eu pensei que você estivesse saindo
com uma mulher australiana.
– Estou.
Assento 816 FF. Ele tinha seguranças ao
seu lado quando se aproximou da mulher. Ela possuía aquela expressão tensa no
rosto que ele reconheceu. Não estava confortável com todo o barulho e pessoas
ao redor. Ótimo. Podia ensiná-la uma lição.
Não esperava a expressão de alívio no
rosto dela quando o viu, nem esperava sua reação de satisfação. Ela sabia a
quem pertencia. Então seu olhar deslizou para os seguranças, franziu a testa e
olhou para ele, inquieta.
Ele não disse uma palavra, apenas a
tirou de seu assento. Ela olhou em seus olhos.
– Serge, você não precisava fazer isso.
– Você tornou necessário com suas
ações, Clementine. Tenho certeza de que tem uma explicação para o que pensa que
está fazendo, mas eu não tenho tempo para ouvi-la.
Ele colocou seu braço ao redor dela e
começou a conduzi-la.
Tentando acalmar a situação, ela riu
constrangida.
– Nossa o que você vai fazer?
Prender-me ou algo assim?
– Eu vou colocá-la você em algum lugar
seguro e você vai ficar lá. Eu não tenho tempo para vigiá-la, Clementine. Este
não é um ginásio local e um ambiente controlado.
Clementine sentiu uma pontada quando se
lembrou de sua reação embaraçosa quando ele a tinha levado, por sua
insistência, para assistir a uma luta. Ela interrompera seu trabalho, seu
trabalho importante, e estava fazendo isso novamente.
Ela não queria. Não era para ser assim.
Se ele não tivesse vindo e a arrancado da multidão, ela ainda estaria sentada
lá em cima sem nenhum problema.
Ele é que tinha um problema e ela não
levaria a culpa.
Quando eles se aproximaram do camarote
dos proprietários, ela sussurrou:
– Talvez se você tivesse simplesmente
me dado um convite, eu não teria que comprar uma entrada.
– Kisa, se você fizer algo desse gênero
novamente, não haverá qualquer convite. Nunca mais. Ponto final.
E com isso ele a empurrou na frente de
um grupo de estranhos e disse para a mulher mais próxima:
– Kim, esta é Clementine. Clementine
Chevalier, Kim Hart.
E assim Serge a apresentou a todos.
Então ele a jogou em um banco central e fez alguém colocar um copo de vinho
branco em sua mão. E foi embora.
Clementine observou-o sair, tentando
não parecer muito em pânico. Ele iria voltar para ela? O que ele quis dizer com
não haverá mais convites? Ela ultrapassara algum limite de relacionamento que
não sabia?
Uma loira cujo nome Clementine tinha
esquecido se inclinou para frente e bateu em seu ombro.
– Então, como é ser o aperitivo do mês?
– Ignore-a – disse outra voz à sua
esquerda e a mulher que Serge havia apresentado como Kim deslizou para o
assento ao lado dela. – Primeiro evento?
– Sim, estou ansiosa – respondeu ela,
um pouco surpresa pelas palavras de Serge e, em seguida, pelo comentário sobre
“Aperitivo do mês”. Fazendo o seu melhor para minimizá-la, ela ativou o modo
“trabalho” em seu cérebro. – Então, qual é o lance aqui? Estão todos ligados à Marinov
Corporation?
Kim era do tipo faladora e parecia ter
um conhecimento abrangente do negócio. Discorreu sobre os agentes dos
lutadores, os patrocinadores presentes e então se focou nos lutadores e suas
estatísticas. Clementine não tinha o menor interesse, mas enquanto Kim falava
foi capaz de olhar em volta, mergulhar um pouco na atmosfera.
Mais de 30 pessoas circularam no
luxuoso ambiente com bebidas e petiscos. Havia pequenas telas em todos os
lugares, com lutas diferentes sendo transmitidas de fora da arena.
Ela de repente se sentia feliz por
estar ali.
– Quando começar, nós desceremos e
tomaremos assentos ao lado do ringue – explicou Kim. – Jack, meu parceiro,
trabalha com processamento de dados no topo da pirâmide da empresa.
Completamente sem glamour. Esta é a única parte interessante do seu trabalho...
– Onde está Jack?
– Lá. – Kim apontou para ele, um homem
esguio na casa dos 30, vestindo jeans e uma jaqueta e, de certa maneira,
trabalhando para fazê-los parecer um terno. Clementine conhecia o tipo. Ela
olhou para Kim. – Você acha que eu poderia bater um papo com ele? Estou
interessada em saber como tudo funciona.
Serge voltou para buscar Clementine
para a luta. Encontrou-a com um público masculino... Que novidade. Dois
contadores e Liam O’LOUGHLIN, seu vice-chefe de promoção. O que quer que ela
estivesse dizendo, os caras fitavam-na.
– Por que você não pode ficar com as
meninas e se comportar? – perguntou ele enquanto a levava embora.
– Eu não sei Serge. Talvez eu fique um
pouco entediada falando sobre a cor das unhas.
– Não é isso o que quero dizer, kisa,
e você sabe. Um terço da minha equipe de gestão é de mulheres.
– Eu sei.
Ele parecia estar prestes a dizer
alguma coisa, mas a parede de ruído os atingiu quando saíram do camarote e não
houve chance para mais conversa. Serge colocou seu braço ao redor dela,
instantaneamente separando-a do mundo em seu abraço.
Percebeu que estava tendo seus 15
segundos de fama quando os viu refletidos no enorme telão acima do ringue.
A combinação de luzes, música e uma
animada multidão fez o sangue de Clementine ferver nas veias e ela podia ver
que Serge não estava indiferente. Ele podia parecer concentrado, mas gostava da
algazarra em algum nível. Ela não tinha notado antes, mas havia uma sensação
real de exibicionismo em se colocar em um espetáculo como aquele. Esse outro
lado de Serge a atraía.
Quando chegaram aos assentos, Serge a
apresentou de maneira genérica às pessoas sentadas com eles, incluindo dois
famosos rostos masculinos.
– Da, kisa – respondeu
ele, sentando-se e esticando suas longas pernas.
Ele parecia um rei em seu trono, pensou Clementine, divertindo-se.
– Não estou impressionada – disse ela.
Estava, mas não por qualquer uma das
razões mais óbvias.
– Serge, quanto isto está custando?
Deixando de lado os patrocinadores?
Ele deu um sorriso.
– Não se preocupe Clementine. Eu ainda
posso mantê-la no estilo que você está acostumada.
Por um momento, o volume foi reduzido e
tudo o que podia ouvir era o bater de seu coração. Serge não tinha sequer
percebido, toda a sua atenção em algo que alguém estava dizendo sobre a luta.
Clementine deslizou a mão para longe da
dele e dobrou os braços. Serge nem percebeu. Apenas descansou seus braços sobre
os joelhos.
A luta estava começando, mas isso não
importava mais. Serge havia deixado muito claro como a enxergava. Seus
sentimentos por ela eram tão significativos quanto o espetáculo que estavam
desfrutando.
Ela era como disseram, o “aperitivo do
mês”. Ele não a levava a sério. Mostrar a ele suas habilidades profissionais não
mudaria nada.
A luta começou e Clementine se abraçou.
Era a reação da multidão mais do que o contato dos corpos batendo no ringue que
reverberava através dela. Sentia toda vez que os ossos se chocavam. Podia
sentir a atenção de Serge sendo arrastada para ela e manteve seu queixo para
cima, tentando não vacilar.
O braço de Serge estava em torno dela e
sua boca, em seu ouvido.
– Por que diabos você veio aqui,
Clementine?
Para ter uma ideia do trabalho,
murmurou uma pequena voz sarcástica, mas ela não expressou isso.
– Estou bem, Serge.
Ela levantou a cabeça, obrigou-se a
olhar para o ringue. Serge fez um baixo som e ficou de pé, assustando as
pessoas ao seu redor. Estava segurando sua mão. Ela queria resistir, porém era
constrangedor demais. Ele a acompanhou em direção à saída, seus seguranças
correndo à frente, abrindo caminho. Sentiu-se humilhada, enquanto Serge a
arrastava severamente para longe das luzes e da música.
Serge ficou em silêncio, enquanto eles
dirigiam em alta velocidade ao longo da rodovia. Ele não disse uma palavra a
ela que não “Entre”. Não acreditava no quão autoritário ele estava se
comportando.
Ele permaneceu em silêncio quando
entraram na casa.
Clementine tirou o casaco e foi direto
para o andar de cima. Ela não queria ir para a cama. Não queria fingir que
aquilo era normal. Porém era tarde e não havia mais nada para fazer. Ela entrou
no banheiro para tirar a maquiagem e se despir. Vestiu seu pijama.
Então se deitou na cama e esperou. E
esperou.
Ele não estava vindo para a cama.
Ótimo. Ela não o queria lá. Quem Serge
pensa que é sugerindo que ela estava com ele pelo que poderia lhe dar
financeiramente? Ela era independente, trabalhava. Nunca dependeu de ninguém
para nada.
No entanto, a maneira como Clementine
se sentiu naquela noite não fora tão ruim. Uma parte dela havia gostado de seu
autoritarismo, havia gostado de ser a menina ao seu lado. O puro impacto físico
dele, seu carisma, a maneira como as pessoas pulavam fora de seu caminho.
Serge era dono daquele mundo de uma
maneira que ela não entendera bem antes. Era um homem que reinava sobre um
império que celebrava o machismo e, além do lucro pesado, havia um elemento de
enorme apelo sexual.
Se ela fosse aquele tipo de mulher.
Clementine pôs as mãos em suas
bochechas quentes e sacudiu a cabeça em desespero divertido. Ele estava
encharcado de sensualidade essa noite. Quem ela estava enganando? Tudo em Serge
a excitava e ele sabia disso.
Ela estava se esforçando durante toda a
semana para se proteger, para ser a mulher independente, que tinha a própria
vida e não estava esperando que ele oferecesse nada mais do que o que dera a
qualquer outra mulher. Ela possuía seu orgulho e escondia as próprias
necessidades por trás dele.
Mas agora ela não se preocupou em
esconder seu alívio quando ele finalmente apareceu. Despojado, de jeans e
camiseta, parecia o cara grande e forte que era e ela foi honesta o suficiente
consigo mesma para admitir que gostava disso. Gostava o suficiente para querer
empurrar de lado a raiva e mágoa e escalá-lo como uma árvore. Seu orgulho a
manteve sentada de pernas cruzadas no meio da cama.
– Precisamos conversar – disse ele sem
rodeios.
– Sim, precisamos – disparou. – E eu
vou falar primeiro. Agora, ouça. Sou muito boa no meu trabalho e seu pequeno
império de combate teria sorte em me ter. E se acha que a minha vida aqui é ser
mantida por você, é melhor mudar de ideia. Tudo bem?
Ele ficou em silêncio, apenas olhando
para ela. Clementine se deslocou inquieta na cama.
– Você está me ouvindo? – Sua voz
tremia um pouco.
Em resposta, Serge tirou a camisa.
Conforme os músculos e a pele masculina apareceram, Clementine perdeu um pouco
da concentração.
A camisa caiu no chão.
– Serge?
– Você foi escondida – foi tudo o que
ele disse o olhar descansando em sua boca.
Ela umedeceu os lábios, movendo-se
sobre o colchão.
– Você tem alguma ideia de como eu me
senti vendo você naquela tela e sabendo que estava lá fora naquela multidão?
Sua voz era baixa, intensa, e ele não
estava realmente fazendo uma pergunta. Ele estava fazendo afirmações.
O coração de Clementine começou a
galopar.
No entanto, por algum motivo, ela
pensou que aquele era o melhor momento para lançar-se fora do cais emocional e
deixar escapar:
– Não, eu não sei como você se sentiu,
porque você nunca fala sobre seus sentimentos.
Um sorriso apertado apareceu no canto
de sua boca, como se soubesse de algo que ela não sabia.
– Bem, vou falar agora, kisa.
– Que bom – provocou ela, dando um
pequeno “Oh” quando ele puxou os jeans para baixo. Ele estava nu e excitado e
segurando um preservativo.
Ele a jogou sobre as costas e desceu
sobre ela, prendendo-a com o seu corpo maior. Em um segundo Clementine estava
deitada de costas olhando nos olhos do homem que a tinha resgatado daqueles
bandidos na passagem subterrânea.
– Agora... Vamos falar sobre como eu me
sinto, Clementine. Que tal sobre como eu me senti quando vi você sozinha
naquela multidão?
Ele tirou sua blusa e se inclinou para
acariciar o mamilo rosado com o queixo.
– Que tal sobre como me senti quando vi
você paquerando homens que trabalham para mim?
Ele tomou o mamilo em sua boca.
– Eu não sei como você se sentiu –
engasgou ela, mas começou a imaginar.
Seu corpo começou a cantar quando a mão
dele foi para o sul sob o elástico do pijama, testando sua disposição. Ela
estava pronta desde o momento em que ele disse “Precisamos conversar”.
– Eu me senti assim. – Ele despiu seu
pijama e segurou suas nádegas. Suas coxas se abriram por vontade própria e ela
o acolheu enquanto ele a penetrava com um único movimento de tirar o fôlego.
– Eu me senti assim, Clementine. – E
ele se moveu dentro dela, até que ela sentiu toda a raiva e tensão nele se
transformando em algo que dominou a ambos.
O que foi aquilo?
Serge se levantou e jogou fora o
preservativo no banheiro. Clementine observou enquanto ele caminhava lentamente
de volta para a cama. Ele se deitou ao lado dela e puxou seu corpo. Deu um
beijo em seu ombro, sem dizer nada. Foi então que Clementine percebeu que não
tinham se beijado nem uma vez.
No entanto, aquilo fora mais íntimo que
qualquer coisa antes. Ele não deveria estar com raiva? Ela não deveria estar
também? Em vez disso, Clementine se sentiu mais próxima dele do que nunca.
Serge a apertou mais. Que diabos ele
estava fazendo? Quando ele a tinha visto no monitor, seu único pensamento fora
buscá-la. Todo o resto havia sido apagado, menos a necessidade de mantê-la
segura.
– Foi assim que você se sentiu? –
sussurrou ela, virando a cabeça para olhar para ele, seus olhos meio fechados,
a expressão tão opressiva que ele sabia que estavam prestes a repetir tudo de
novo.
– Não sei como me senti – admitiu em
uma voz profunda, seu sotaque ressaltado. – Mas sei que agora você está segura.
Seus braços se apertaram ao redor dela.
– Sim, estou segura – respondeu ela,
estendendo a mão e acariciando seu grande braço, soando mais confiante do que
se sentia. Em seu interior, tudo estava fora de ordem. Como se ela não mais
pertencesse a si mesma.
Mas o que aquilo significava? Que ela
pertencia a Serge?
CAPÍTULO
NOVE
Serge levou um café e
seu celular para fora. Aquele era seu santuário... Um jardim verde, mantido de
maneira primorosa por pessoas contratadas.
Ter as pessoas em sua vida em uma folha
de pagamento tornava tudo muito mais fácil. Não envolvia emoções.
Seu comportamento na noite anterior tinha
sido o oposto. Difícil, complicado e muito emocional.
O sexo tinha sido incrível. A única
coisa que poderia ter sido melhor era não usar um preservativo. E o fato de ele
considerar aquilo, colocava freios em qualquer plano futuro que tivesse com
aquela garota.
Ele nunca deixara de usar um
preservativo. Nunca.
No entanto, não estava pensando na
noite passada. Foi motivado por seus sentimentos e fizera o melhor sexo de sua
vida. Ele mostrara pouca sutileza, apenas uma necessidade de dominá-la, de
deixar sua marca.
Aquilo balançou os dois e teve
repercussão. Estaria cego se não visse o quão sonhadora ela estava naquela
manhã. Ele a ouviu cantando no chuveiro. Droga, inclusive ele cantarolava para
si mesmo até perceber o que estava fazendo.
Vê-la na noite anterior (sua
fragilidade e independência, sua audácia e a incapacidade dele de impedir que
ela fizesse exatamente o que quisesse) havia liberado algo primitivo nele.
Ele sabia que estava lá. Sua avó tinha
lhe contado histórias sobre a paixão lendária de seu pai por sua mãe, seu ciúme
raivoso, a teatralidade de seu casamento. Ele não se lembrava daquilo tudo...
Somente de um pai cujo humor mudava em velocidade assustadora. Lembrava-se
daquilo... E de uma mãe que tinha sido frágil e etérea e parecia presa em uma
peça de teatro, sem saber suas falas. Ela possuía apenas 18 anos quando ele
nasceu e não muito mais velha do que ele era agora quando morreu.
Não queria esse tipo de paixão em sua
vida. Não queria ficar fora de controle.
Clementine desceu as escadas usando
tênis e calça. Não tinha nem arrumado o cabelo pela manhã, apenas deixou com
sua ondulação natural. Batom e rímel foram suas únicas concessões para fazer um
esforço. Pela primeira vez desde que tinha 15 anos, não sentia que precisava.
Sentia-se bonita. Serge a fazia se sentir bonita. Sentia-se tão poderosa...
Antes de adormecer, decidira largar o
“esta é a sua vida e esta é a minha” e dar-lhes uma chance. Serge demonstrou o
quanto ela significava para ele. Ninguém se comportava daquela maneira sem ser
movido por emoções fortes.
O fato de ele não estar na cama quando
ela voltou do banheiro durante a manhã tinha sido o único alerta em seu radar. Ela queria saltar em
cima dele e fazê-lo provar mais uma vez que não havia sonhado na noite passada.
Ela planejava levá-lo ao mercado essa
manhã e não podia acreditar no quão ansiosa estava. Era a sua atividade
favorita nas manhãs de sábado. Encher os armários, almoçar fora com amigos,
talvez ver um filme à tarde. Era o tipo de coisas que se fazia com um namorado.
Clementine o encontrou ao telefone.
Chamou a sua atenção, mas ele desviou o olhar e continuou a conversa. Ela foi
até a cozinha para pegar as ecobags.
Quando ela se virou, percebeu que Serge
bloqueava a porta da cozinha. Seu cabelo estava bagunçado e ele precisava fazer
a barba.
Seus hormônios estavam pulando e ela
não podia tirar o sorriso do rosto.
Ele sequer sorriu.
– Vou à academia de Mick. Volto às 12h.
Parecia tão distante...
– Às 13h uma equipe virá aqui.
Naquele momento, enquanto segurava as
sacolas na cintura, percebeu o quão apegada estava àquele homem.
– Pode organizar o dia para você,
Clementine.
Então agora ela sabia seu lugar.
Doía. Doía tanto que ela não poderia
suportar olhá-lo. Parte dela queria gritar com ele. É real
demais para você, Serge? Mas
olhando para ele parado ali, emanando poder e autocontrole e um nível de
sucesso que não podia sequer imaginar, sentiu-se de repente terrivelmente
comum, com seus sacos de lona em uma manhã estúpida no mercado, e estava feliz
por não ter tido a chance de abrir a boca.
Ele a queria fora do caminho. Assim,
não seria lembrado de como tinha se perdido em seu corpo na noite anterior.
Serge não confiava nela o suficiente
para entender que ela iria protegê-lo. Ela não seria leviana com seus
sentimentos.
– Eu vou ao mercado – disse ela,
fazendo um gesto com as sacolas. – Pensei que você gostaria de vir.
Mas agora sei que não.
– Você sabe que eu tenho um empregado
para essas coisas.
Estava na ponta da língua dizer “E eu sei
que há mulheres que dormiriam com você por dinheiro”, mas seu
orgulho era muito forte. Ele podia vê-la como outra de suas muitas comodidades,
mas ela estava ali porque o amava.
Ela o amava.
No meio daquela grande cozinha,
Clementine percebeu que certamente ele partiria seu coração.
Ela era apenas sexo para ele e começou
a desmoronar por isso.
Ele tirou sua carteira e começou a
puxar notas.
Por um momento, horrorizada, ela não
pôde se mover, e, em seguida, as palavras saíram como se arrancadas de suas
tripas.
– Eu posso pagar por um saco de maçãs,
Serge – disse se virando.
Ela pulou quando ele segurou seus
quadris, empurrando o dinheiro em seu bolso de trás.
– Compre algo legal para você.
Na verdade, ele acariciou suas costas.
Ele tinha que saber o que estava
fazendo. O quanto a estava machucando. Se ela tivesse coragem, iria embora para
sempre, mas não tinha. Ainda não. Não depois da noite anterior.
Serge não estava compartilhando nada
naquela manhã, exceto sua carteira aberta.
Ardia.
AINDA DOÍA enquanto
carregava as sacolas pelos degraus. As caixas de compras seriam entregues, mas
ela carregara algumas iguarias: queijos e um vinho francês, um chá chinês e
aqueles horríveis arenques em conserva que Serge gostava.
Quando se aproximou da cozinha, pôde
ouvir vozes masculinas. Ela deixou as sacolas no banco e vagou curiosamente,
mas com cautela, para a sala de estar. Serge estava de pé. Cerca de uma dúzia
de homens estavam ao redor.
A atmosfera vibrava com a tensão e
Serge não parecia feliz. Sua autopiedade evaporou.
Como uma avalanche, o foco da sala se
voltou para ela, o mesmo interesse masculino que recebia desde que tinha 15
anos.
Serge olhou para cima. O olhar em seu
rosto dizia tudo e seu coração afundou. Ela deu um passo para trás, em seguida,
manteve sua posição. Treze pares de olhos masculinos, todos dirigidos a ela.
Serge se moveu para o lado dela,
apresentando-a rapidamente e levando-a até a porta.
– Temos muito a discutir, Clementine.
Pode demorar um pouco.
Seu tom de voz dizia claramente desapareça.
– É justo. – Sentindo-se excluída, mas
sabendo que não era pessoal, ela voltou para a cozinha e colocou alguns pratos
com bruschetta, azeitonas, queijos, abrindo uma garrafa de vinho.
Teve uma ideia de que era sobre as conseqüências
do desastre de Kolcek e parecia se tratar de dinheiro.
Um homem corpulento, com tatuagens em
ambos os braços, entrou na cozinha.
Atrás dele estava Liam O’LOUGHLIN, o
cara das promoções com quem tinha falado na noite anterior. Ela já sabia que
não gostava dele.
Em seguida, outros dois homens entraram
na cozinha e de repente ela estava de pé, cercada por cinco homens grandes,
todos, por suas expressões, claramente carentes de companhia feminina.
– Isso é uma convenção ou algo assim? –
perguntou ela, inteligentemente, para esconder seu desconforto sutil.
– Alex Khardovsky... Presidente da
Marinov Corporation. Serge e eu somos velhos amigos.
O corpulento rapaz se aproximou e
apertou sua mão.
– Ouvi muito sobre você, Clementine.
O sorriso de Clementine não vacilou,
mas não podia evitar sentir um frio na barriga pela ideia de que Serge falara
sobre ela.
– Você domesticou Serge Marinov – disse
Liam O’LOUGHLIN, bajulador. – Muitas mulheres tentaram sem sucesso.
Clementine não respondeu. Ela odiava
esse tipo de asneiras e realmente não gostava de caras que não conseguiam
manter seus olhos para si mesmos.
– Ouvi que você trabalhou com relações
públicas para Verado, Clementine – interrompeu Alex.
– Isso. Muitos tacos de golfe e
charutos.
Os homens riram. Clementine empurrou um
copo de vinho para Alex e abasteceu mais alguns. Não se incomodou com Liam O’LOUGHLIN.
– Então, vocês estão todos aqui por
causa desse lutador que está sofrendo acusações de agressão, certo?
– Ele não vai embora – respondeu um
cara loiro com cabelo curto.
Clementine se dirigiu a Alex.
– Seu problema é gerenciar as conseqüências
daquele grande julgamento, certo? Você teve problemas há alguns anos com a
imprensa sobre algumas das atividades extracurriculares de seus lutadores e
agora está sofrendo as conseqüências. – Ela empurrou os pratos de comida para
os outros homens. – Parece-me que o que você precisa é de uma boa publicidade,
mostrando o que é bom no esporte e tirando a ênfase desse lixo machista. Dê
destaque ao atletismo. Faça alguns desses lutadores aparecerem em eventos de
caridade... E não sozinhos. Você quer esposas e filhos também.
Ela olhou para cima e viu Serge
encostado no batente da porta.
– Continue – disse Alex, sorrindo. –
Estou anotando.
– Sim, bem... Você precisa ter mais
mulheres na sua linha de frente. Muitos caras famosos, mas desacompanhados. Perpetua
o problema que você tem com Kolcek... Rapazes jovens, testosterona demais,
dinheiro demais, desrespeitando mulheres.
– Então você está dizendo que as lutas
não são atraentes para a família? – disse Liam com desdém.
– O que eu estou dizendo é que você tem
um problema com uma imagem de bandido e, se quer que isso mude, deixe a
teatralidade no ringue e pense em projetar a realidade do negócio, que é de
atletas profissionais envolvidos em combates de alto nível.
– Você não consideraria vir trabalhar
para nós, Clementine?
– Alex... – Olhou para Serge sobre o
aro do copo. – Pensei que você nunca perguntaria.
Serge tinha assistido nervoso aos
caras, um após o outro seguindo Clementine até a cozinha.
Era uma postura machista. Clementine
podia cuidar de si. Mas disse a si mesmo que apenas verificaria... Faria o
mesmo com qualquer outra mulher que estivesse com ele.
Lá estava ela, mão no quadril, dizendo
a Alex exatamente o que precisava para comandar sua máquina de publicidade.
O que ele esperava? Que ela de repente
ficasse tímida e desempenhasse o papel de sua namorada? Lembrou-se de que não
queria isso. Queria a mulher sexy sem amarras. Bem... Estava conseguindo.
Provocativa. Acostumada à atenção
masculina.
– Espezinhando minha arma secreta, Aleksander?
– Serge não tirou os olhos dela enquanto falava.
Alex sorriu e todos os caras se
agitaram. Liam O’LOUGHLIN já estava saindo de fininho pela outra porta.
Sim, recue. Serge
não podia acreditar em como estava possessivo.
– Ela deveria ter se sentado lá,
cortando nosso trabalho pela metade – respondeu Alex, parecendo realmente
impressionado.
– Só estou oferecendo algumas sugestões
– disse Clementine, docemente.
Alex pegou a bebida.
– Há uma oferta de emprego. Pense
nisso, Clementine.
Ela olhou para Serge com cautela quando
estavam sozinhos, mas ele apenas disse:
– Mantendo-me em alerta, kisa?
– Não sei o que você quer dizer.
– Sim, você sabe.
Ela ficou tensa.
– Qual é o problema, Serge? Surpreso
que eu tenha um cérebro?
– Estou bem ciente de sua inteligência, kisa.
É como você manobra as pessoas, suas habilidades inteiramente femininas, a que
estou me referindo.
– Você nunca se queixou antes – disse
ela, rigidamente.
– Eram dirigidas a mim. Entendo que
seja uma garota simpática, kisa, mas não gosto que você esbanje.
De repente, a casca dura se foi e tudo
o que ele podia ver era o extremo choque em seu rosto e a confusão em seus
olhos.
– Tudo bem. Que seja. – Ela empurrou os
pratos para ele, com as mãos visivelmente começando a tremer.
– Aqui... Fiz para os seus convidados.
Devem entregar as compras por volta das 16h.
Ela derrubou uma garrafa de vidro em
sua pressa para fugir dele.
– Comprei esses arenques horríveis para
você...
Por alguns momentos Serge não se moveu.
Não sabia o que estava acontecendo entre eles. Não entendia por que vê-la
rodeada por outros homens o deixava com tanto ciúme. Ele nem sequer entendia
por que a deixou durante a manhã.
Os arenques também chamaram sua
atenção. Ela estava fazendo compras para ele?
Então notou pela primeira vez o tremor
em seu corpo, sua recusa em olhar para ele. Serge pegou o braço dela.
– Clementine.
Ela se virou e, por um momento, Serge
pensou que ela ia bater nele, mas ela apenas puxou a próprio braço.
– Não se preocupe Serge – disse ela,
bruscamente. – Eu não vou aparecer mais. Sei qual é o meu lugar.
Ela correu da cozinha antes que ele
pudesse detê-la. Não rápido o bastante para que ele não visse o brilho de
lágrimas em seus olhos.
Sim, ele era realmente um príncipe.
Finalmente tinha feito Clementine chorar.
CAPÍTULO
DEZ
Levou dez minutos
para limpar a casa. Alex demorou mais tempo.
– O que você está fazendo com essa
menina, Serge?
– De novo?
– Seu olhar quando você apareceu na
cozinha foi impagável.
– Se você pudesse traduzir Aleksander,
talvez fizesse mais sentido – disse Serge, secamente.
– Isso mesmo, de bobo. Eu vi você na
noite passada. Você se preocupa com ela. Não é mais uma daquelas. É uma mulher
mais experiente. Eu realmente poderia empregá-la, Seriosha.
O que você faria?
– Demitiria você.
– Touché. Você sabe, Mick está certo. Você vai
com ela em alguns eventos de caridade e como será a divulgação da revista? “Em
casa com Serge Marinov e a adorável Clementine.”
– Você ficou maluco ou está querendo
ver estrelas – ameaçou Serge, cruzando os braços.
– Não sou eu que estou dividindo a
minha vida com uma mulher linda e de personalidade forte. – Alex riu e seguiu
para seu carro. – Ela fez petiscos, cara – gritou ele. – Petiscos!
Serge voltou. A porta do quarto estava
entreaberta e ele bateu.
– Clementine?
Ele esperava encontrá-la na cama
chorando, mas o quarto estava vazio. A cama estava arrumada.
Onde diabos ela estava?
Finalmente, ele a encontrou no jardim
do terraço. Ela estava ajoelhada no chão, arrancando o mato.
– Primeiro você vai ao mercado, agora
está fazendo jardinagem – comentou-o. – Precisa parar com o trabalho doméstico,
kisa.
– Sim, bem, eu não tenho mais nada para
fazer.
Ele se agachou ao lado dela.
– Ontem à noite, Clementine...
– Sim, eu entendi Valentão – interrompeu-a.
– Eu ultrapassei o limite. Não vai acontecer de novo.
Serge ficou em silêncio por um momento.
– Eu não queria que você fosse ao
evento na noite passada porque é violento – disse ele com deliberação.
Ela queria dizer “eu não estava falando sobre a luta. Eu estava falando de
depois”.
– Você me colocou em um lugar
privilegiado – protestou ela.
– Porque você estava lá e eu não a
queria fora da minha vista. Fiz um julgamento ruim.
– Você não queria me perder de vista? –
repetiu ela, tentando entender.
– É minha responsabilidade cuidar de você.
Ela não era responsabilidade de
ninguém. Ela cuidava de si mesma.
Ele não a protegeria. Ele não a amaria.
Era apenas um amante. Seu amante atual.
– Você não é meu pai, Serge. Você é
meu... – Ela parou, sem saber o que dizer. Sentia-se mais constrangida que
antes.
– Seu pai vive em Genebra – interpôs
Serge suavemente, deixando-a saber, que ela possuía razão para hesitar. – Você
já o viu?
Ela evitava falar sobre os pais, mas de
repente seu pai parecia um tópico muito mais seguro do que se Serge era seu namorado.
– Há muitos anos. Tivemos um
desentendimento quando eu tinha 15 anos. Eu era um pouco arredia na época.
– Ao contrário de agora, que você é uma
gatinha.
Clementine sorriu.
– Por que me chama de gatinha o tempo
todo?
– Porque você é bonita, brincalhona e
arranha. E sua mãe?
– Ela apresenta um programa matinal de
TV em Melbourne. Ela nunca estava em casa e quando estava, brigávamos. Mamãe e
papai eram adolescentes quando nasci. Por isso se casaram. Nenhum dos dois
tinha muito interesse em um bebê. Então cresci cercada por babás e brigas até
atingir os 10 anos, quando eles finalmente se separaram. Aí a diversão começou.
Duas vezes por ano para Genebra.
– Não é divertido?
– Você está brincando? Um vôo de 24
horas, sozinha, e eu lá por uma semana, até alguma namorada do meu pai me
mandar de volta para Melbourne. Ambos, tanto meu pai quanto minha mãe, são
obcecados por eles mesmos, ou deveria dizer obcecados por suas carreiras? Eu
decidi há muito tempo que quando tivesse um bebê, ficaria em casa com ele.
– Você quer ter filhos?
– Um dia. Você não?
Ela perguntou sem pensar nas
implicações.
– Não. – Ele tirou o garfo de
jardinagem de sua mão. – Mas você está certa, Clementine. As crianças precisam
de um lar estável e pais amorosos. Sinto muito que você não tenha tido isso.
Ninguém nunca havia dito aquilo a ela
antes.
– Agora eu entendo.
– O que? – perguntou ela, desconfiada.
– O apego por sua independência?
Clementine fechou os olhos, sentindo-se
perder o domínio.
– Vamos. – Ele se levantou,
oferecendo-lhe uma das mãos, e ela aceitou, hesitante. – Há um lugar que quero
levar você – disse ele.
– Posso ir assim?
– Tudo bem. Eu gosto de você um pouco
amarrotada. – Ele colocou um braço ao redor dela. – Ontem à noite eu queria
dizer uma coisa.
Clementine engoliu em seco e tentou
parecer casual.
– É?
– Você me perguntou como eu me sentia.
É uma sensação boa, Clementine. Estar com você me faz bem.
ELE A levou
ao centro de caridade. Um edifício no Brooklin que abrigava crianças carentes.
– Há um em cada cidade em que temos
negócios – explicou ele, conforme caminhavam pelo ginásio. – Aqui e na Europa.
– Isso seria uma grande publicidade,
Serge.
– Sim, Mick diz a mesma coisa.
– Mick Forster? O cara que conheci na
academia?
– Da, ele foi o primeiro treinador a trabalhar
comigo quando cheguei aos Estados Unidos. Eu não seria quem sou sem ele.
Serge estava falando tão livremente que
ela decidiu aproveitar o momento.
– Então, qual é a ideia de Mick?
– Bem, primeiro que eu preciso parar de
receber mulheres tirando seus vestidos em festas privadas.
Clementine lhe deu uma cotovelada nas
costelas.
– Isso não é verdade! É verdade?
Seu entusiasmo evaporou e ele percebeu
que ela se afastou. Depois, mais incerta, disse:
– O que são festas privadas?
– O meu ramo de negócios, kisa,
envolve muito dinheiro, jogos de azar, drogas. Embora tenhamos feito o nosso
melhor para limpá-lo. E há sempre mulheres. Eu sou saudável, sempre usei
preservativos. Mas não sou como os caras que você está acostumada. Eu vi e fiz
muita coisa.
Clementine sabia que era bobagem ficar
chocada.
Serge observava as emoções pelo rosto
expressivo de Clementine. Ele não deveria ter dito aquilo. Ele a tinha
chateado.
Ela deu de ombros, mas ele sabia que
estava insegura.
– Ainda não me disse o que são as
festas privadas.
– Não importa. Acabaram.
Uma onda de calor o varreu, conforme
ele olhava em seus olhos ansiosos, e experimentou uma vontade esmagadora de
protegê-la de seu passado.
– Então, quais são as outras idéias de
Mick?
– Você seria o sonho de Mick se
tornando realidade, Clementine.
– Mick é casado?
– Claro que não. Ele não seria tão bom
em seu trabalho se fosse.
Clementine se preocupou.
– Então ele não aprova o seu estilo de
vida porque reflete na empresa?
– Estilo de vida? Não estamos na cama
todas as noites antes de 22h?
Clementine corou e balançou a cabeça.
– Talvez... Você precise de uma mulher
que não tire o vestido – disse Clementine, lentamente.
Serge envolveu os braços nela.
– Que tal tirar a calça e a camiseta? E
posso dizer que este é um visual que cai muito bem em você, Clementine?
Ela revirou os olhos e Serge
experimentou uma ascensão no humor.
– Então, você quer me usar? – disse,
aventurando e, em seguida, olhando para ele.
– Seria deselegante perguntar,
Clementine.
Ele a estava provocando gentilmente,
mas Clementine de repente foi muito clara sobre o que queria. Era uma forma de
fazer o relacionamento ir à direção certa. Na noite anterior, ele havia
revelado que tinha fortes sentimentos, mas estava claramente lutando contra.
– Eu acho que é uma ideia perigosa juntar
a vida pessoal com os negócios – disse ela, lentamente. – Mas eu acho que Mick
tem razão. Se você tem um perfil midiático... Serge, você tem um perfil
midiático?
Sua boca se contraiu.
– Muito básico.
– Mas o suficiente para ser fotografado
saindo de festas com mulheres inadequadas?
Ela tentou ser gentil, mas não
conseguiu.
Na verdade, ele parecia um pouco
envergonhado.
– Talvez fosse bom para você ser visto
fazendo algumas coisas convencionais. Com uma mulher.
– Mas onde poderíamos encontrar uma
mulher assim? Este modelo de virtude, boas maneiras e gostosura?
Ele estava brincando com ela. Aquilo
era bom. Significava que não estava se afastando.
– Não sei Valentão.
– Você está determinada a se envolver,
não é?
Mas havia algo em sua expressão, algo
que a convidava.
– Eu quero ajudar – disse ela, de
repente sentindo-se um pouco tímida. – Eu faço isso para viver, Valentão, deixe
que eu cuido.
Ele colocou um braço ao redor dela, mas
ela notou certa cautela em seus olhos.
– Vamos ver.
– ROSTO PÚBLICO da
Marinov Corporation – disse Clementine, sentindo-se ansiosa. – Vai levar algum
tempo para me acostumar – confessou ela, olhando para Alex. – Eu já fiz esse
tipo de coisa, só nunca fui realmente o produto.
Alex sorriu para ela encantadoramente.
– Você vai se sair bem. Relaxe.
Mick Forster entrou na cozinha antes de
Serge, que claramente não estava relaxado.
Serge os apresentou e Mick se sentou
cautelosamente.
– Ouvi dizer que você causou uma boa
impressão em Alex – disse Mick sem rodeios, estreitando seu olhar para os olhos
azuis dela. – Você acha que consegue na frente de oito políticos e uma equipe
de filmagem?
– Bem, Mick, não sei – respondeu
Clementine, olhando para Serge. – Se eu me lembrar de tirar o chiclete da boca,
será um bom começo.
Ele não sorriu. Não estava sorrindo
desde que ela havia concordado com aquilo. Ele estava com dúvidas? Ela sabia
que ela
estava.
Serge parecia tão intimidante que
Clementine recuou. Mick e Alex se olharam cautelosamente.
– Ela sabe o que fazer, eu convoco a
coletiva de imprensa e depois vamos embora. Sem bate-papo. Ela não vai falar
com a imprensa.
Clementine sabia o que estava fazendo.
Era uma oportunidade de ajudá-lo.
– Quero ter certeza de que Clementine
sabe seu papel – disse Alex, lentamente. – Você estará respondendo a perguntas,
Serge, mas ela estará enfrentando a imprensa.
– Nyet. Sem paparazzi. Vamos por trás. Apenas a
imprensa oficial – falou Serge, calmamente, mas, com efeito.
– Ouçam, estou ciente de que serei um
acessório amanhã – interrompeu Clementine, forçando a voz para ser alegre. – Eu
sei o que eu faço, ficarei quieta.
Ninguém riu. Ninguém sequer se
contraiu.
– Não, nós queremos que você fale – disse Mick,
finalmente. – Se não falar, parecerá mais uma daquelas cabeças de vento...
A voz dele caiu em um tenso e
desconfortável silêncio.
Mais uma daquelas cabeças de vento. Clementine não sabia para onde olhar.
Desde que fez a proposta a Serge,
Clementine se perguntou se estava fora de si. Agora Mick mostrou que ela
estivera muito cega ou deslumbrada com a noção de tornar a relação deles
pública.
Clementine de repente se sentiu
terrivelmente exposta. Ela respirou fundo. Não era burra. Poderia lidar com
aquilo.
Cuidado com o que você deseja Clem,
disse a si mesma no chuveiro. Ela mostraria suas habilidades, mas não da
maneira que queria.
Ela faria o que prometeu e nunca mais
de novo. No desespero por seu amor, esquecera a própria lição de vida de seus
pais.
“Venha viver comigo e ser minha
companheira, a fim de neutralizar a especulação da mídia sobre o meu até agora
estilo de vida de playboy” deixava um gosto amargo na boca.
Ela queria um compromisso real com
Serge.
Estava começando a se sentir como se
tivesse ido correndo atrás dele. Não era uma boa sensação.
Ela estava saindo do banho quando ouviu
seu telefone tocando. Com o coração pesado, atendeu e deu um suspiro sincero.
– Luke!
Serge ouviu sua voz e continuou a se
vestir no outro quarto, tentando executar.
Ela não pareceu tão animada durante o
dia e isso o incomodava. Aconteceu tudo de uma vez: a conferência de imprensa,
os conselhos de Mick que ele normalmente atenderia para seu benefício e a
oferta de Clementine, a resposta às orações de Mick. Ela estava tão disposta a ajudar.
Usar Clementine daquela maneira
tornaria mais brutal do que precisava ser quando rompessem.
– Não, eu não sei – disse ela,
diminuindo o tom de voz de repente. – Não, eu não aluguei nada. Talvez eu
volte. Não sei.
Seu batimento cardíaco desacelerou.
– Não é bem o que eu esperava.
Ela estava pensando em voltar para
Londres?
Cada músculo de seu corpo ficou em
estado de alerta.
Clementine longe.
A casa vazia.
Ele ficou ali, com a cabeça inclinada,
respirando de maneira constante e profundamente. Ele disse a si mesmo que era o
melhor.
NORMALMENTE, UM bate-papo
com Luke melhorava o astral, mas naquela noite Clementine se sentiu pior do que
nunca.
Mesmo agora, a intimidade parecia
forçada e girava em torno dos negócios. Em vez de fazer ela se sentir mais
segura, ela se sentia perdida.
Pior, a intimidade emocional da noite
da luta não se repetiu. Serge foi atencioso como sempre, mas ela sentiu sua
restrição como um tapa na cara.
Ela inalou profundamente, conforme
avançou na cozinha. Cheiro de comida. Serge tinha apenas uma equipe e eles
nunca estavam no fim de semana à noite, então ela sabia que ele estava cozinhando.
Incapaz de acreditar, ela permaneceu à
porta, apenas assistindo. Ele parecia sensacional.
– Você está cozinhando.
– Eu também posso arrumar camas, varrer
e limpar banheiros. Treinamento do exército.
– Estou impressionada.
– Eu pensei que pudéssemos comer e
assistir a um filme antigo.
Clementine disse para seu coração não
saltar, mas ele não obedeceu.
– Antes do dia D?
– Você não precisa fazer isso,
Clementine.
Ele estava de repente muito sério e seu
coração batia em resposta.
– Não, eu quero Serge. Eu quero fazer
isso por nós.
A expressão de Serge não mudou. Ele
apenas lhe entregou uma taça de vinho tinto.
– A nós – disse ele, tinindo seu copo
com o dela, mas seus olhos permaneceram frios e quase vigilantes.
EMBORA ELA tivesse
um vestido escolhido para a ocasião, no último momento, parecia tudo errado.
Clementine deveria ser boa naquilo. Ela
usava aquela habilidade o tempo todo em seu trabalho, fazendo as pessoas verem
o que ela queria que vissem.
Serge colocou a cabeça na porta.
– Você tem 15 minutos, Clementine.
– Sim, tudo bem – disse ela, distraída,
não querendo arruinar o momento de hoje com um atraso. Serge devia estar
nervoso. Enfrentaria uma imprensa hostil. Ele hesitou e, de repente, seu braço
disparou, e ele puxou o vestido verde com o cabide.
– Vista isto.
Ela o usou em seu primeiro encontro e
se perguntou se ele se lembrava. Provavelmente não.
– Obrigado. Estarei com você em dez
minutos.
Ela propositadamente lhe virou as
costas e colocou de volta o vestido de cetim verde em seu lugar, pegando outro
vestido com muito mais material.
Serge consultou o relógio. Ele podia
ouvir Clementine correndo, os sons das gavetas fechando, as portas rangendo,
alguns palavrões. O barulho que ela estava fazendo mexeu com ele. Vou
sentir falta disso.
Mas ela estava descendo lentamente as
escadas, como se os últimos 15 frenéticos minutos não tivessem acontecido,
trajando um vestido amarelo de gola alta que deslizava por seus seios e quadris
e caía até os joelhos. Sem a cintura apertada, suas curvas extravagantes
pareciam muito mais discretas. Ela estava cumprindo seu papel.
Ela olhou para cima e usou as duas mãos
para alinhar imaginariamente o paletó. Em seguida, sorriu para ele:
– Acho que estamos prontos, Valentão.
Ela era tão linda que lhe tirava o fôlego.
Mas havia outras mulheres bonitas no
mundo. Outras mulheres com cabelo cor de caramelo, pernas longas e olhos
cinzentos. Mas não tão doces.
– Alguma coisa que eu precise saber
Serge, antes de irmos? Algum conselho?
– Só que você está linda.
– Estou? – disse ela, olhando para ele,
seu rosto aberto e subterrâneo. Mas não havia nada em seus olhos. – Estou
bonita? Porque eu não estou, na verdade. Acho que é apenas mais maquiagem e
confiança.
Ele curvou a mão ao redor da parte de
trás da sua cabeça e a beijou. Sua boca vibrou surpresa, cautelosa, e ela
cedeu.
Clementine o fez sentir-se como o único
homem que tivesse feito aquilo com ela. Era uma fantasia, mas ele se
permitiria.
E era um lembrete de por que ele devia deixá-la ir, porque o que havia entre
eles era muito, muito poderoso. Ameaçava acabar com muito do que ele tinha
construído.
– Nenhuma outra mulher chega perto –
disse ele, suavemente, contra sua boca. – Clementine, você está com seu
passaporte?
– Perdão?
– Nós não vamos para a cidade. Kisa,
eu vou levar você para Paris.
CAPÍTULO
ONZE
– Não podemos fazer
isso. E a coletiva de imprensa? – perguntou Clementine.
– Alex pode cuidar disso.
Clementine não conseguia tirar os olhos
dele. Por que ele estava fazendo aquilo?
– Serge, não tenho bagagem. Estou sem
nada.
– Você tem a mim, kisa.
Ele lhe lançou aquele preguiçoso
sorriso russo que dizia que ela não precisava de roupas. Não seria muito vista
em Paris.
Distraído por um momento, balançou a
cabeça. Ela não ia deixá-lo escapar tão fácil.
– Serge Marinov, fale comigo.
Ele fez um gesto de desdém, como se não
valesse a pena falar.
– Não é nada importante, Clementine.
Tudo o que você precisa saber é que não tenho a intenção de usá-la agora ou
nunca. Foi uma ideia ridícula e não ia funcionar. Feliz?
– Não... Sim. – Ela fez um barulho
frustrado. – Estou confusa. Há quanto tempo você vem planejando isso?
– Desde a noite passada. Eu ouvi você
no telefone com seu amigo e tenho a impressão de que está com saudades de casa, kisa.
– Não, eu... – Ela parou incapaz de
começar a frase que terminaria em porque eu amo você. Ela colocou a mão em seu
braço. – Serge, o que estamos fazendo? O que está acontecendo?
– Estou levando você para Paris,
Clementine, porque em dois dias é seu aniversário. Eu pensei que gostaria de
comemorar com uma viagem a um lugar especial... Para nós dois. Algo para se
lembrar.
Tudo estava tão terrível e agora, de
repente, não estava mais. Era mais do que maravilhoso.
A felicidade borbulhava dentro de
Clementine e ela tomou a única atitude que uma garota poderia fazer naquele
momento. Atirou-se sobre Serge, envolveu-se em torno dele e cantou:
– Obrigada, obrigada, obrigada.
E não tinha absolutamente nada a ver
com Paris e tudo a ver com aquele homem doce e generoso.
– Você não pode chorar Clementine, será
divertido.
Ela recuou para enquadrar o belo rosto
masculino com as mãos.
– Sim, muito divertido – concordou, com
os olhos molhados, mordendo o lábio.
Será que ele tinha a menor ideia do
quanto aquilo significava para ela? Provavelmente não.
– Você é tão emocional, Clementine –
brincou ele. – Onde está a minha menina feliz e divertida?
– Está aqui. – Jogou-se de volta em
seus braços. Ela se esforçaria para ser mais do que ele queria.
AQUELE ERA o
segundo hotel que ela entrava com Serge e era um estilo de vida que ela poderia
se acostumar.
Havia surpresas em todos os lugares: a
vista da Place de La Concorde, gavetas cheias de calcinhas, o armário dividido
em vestidos de noite e vestidos para o dia.
Como ele fez aquilo tudo?
– Agente de compras pessoal.
Ele deu de ombros, vendo-a mexer na
seda de um vestido de noite. Com a camisa aberta no colarinho, mangas
empurradas para cima, cabelos desgrenhados, descansando sobre a cama enorme,
parecia um rei ostentoso, examinando tudo o que possuía.
– Coloque-o, Clementine, para que eu
possa tirá-lo.
Ela sorriu para ele por cima do ombro.
Ele estava fora da cama e ela, contra
seu corpo. Tudo aconteceu tão rápido que a única coisa que ela pôde fazer foi
dizer:
– Não ouse estragar o meu vestido!
E depois suspirou.
Eles jantaram em um restaurante com
vista para o Sena, para as luzes de Notre Dame. Clementine estava usando seu
vestido.
No dia seguinte, vagaram pela cidade,
visitando alguns poucos locais turísticos com tranqüilidade. Até chegarem à
porta de uma joalheria exclusiva, quando Serge pegou sua mão e disse, quase
formalmente:
– Permita-me fazer isso pelo seu
aniversário, Clementine.
O que poderia dizer? Era uma sensação
totalmente nova. Tudo era muito caro. Sentiu-se incrivelmente especial. Ele a fez se sentir especial.
No final, ela escolheu um par de
brincos de diamante rosa.
Seu gosto foi elogiado pelos
funcionários.
Serge apenas disse:
– Feliz?
– Feliz.
Era uma palavra inadequada para
descrever como ela estava se sentindo, mas Serge parecia contente com ela.
O dia do seu aniversário amanheceu frio
e um pouco enevoado – muito incomum em junho –, mas foi se transformando em um
perfeito dia de verão.
Serge havia planejado um vôo de balão
sobre Loire e um almoço e um pernoite em um château privado,
que disse pertencer a amigos que estavam felizes por eles usarem. Clementine
parara de se beliscar, mas inclinar-se contra a grade de um terraço de pedra,
bebendo champanhe em um castelo do século XVI, perto de seu lindo amante russo,
não era algo que ela esqueceria tão depressa.
– Quero que seja memorável Clementine.
– Não consigo imaginar nada mais
perfeito. – Ela fez um som e fechou os olhos. – Ai, Deus, não acredito que
acabei de dizer isso. Foi tão clichê.
Serge observou, divertindo-se.
– Você está muito doce – respondeu ele.
– Péssimo! – Ela riu. – Acredite
Valentão, nenhuma mulher quer ser descrita como doce.
– Incrivelmente sexy, então. – Ele
arrancou a taça de sua mão e deslizou as mãos pelos seus quadris. – Hora de ir
para a cama, Clementine.
– Ainda é muito cedo, Serge – brincou
ela.
– Sim, mas teremos uma noite longa –
respondeu ele.
Ele era incrivelmente habilidoso, pensou Clementine na manhã seguinte, enquanto comia ovo e
bebia suco de laranja na varanda do quarto e olhava para a floresta escura que
protegia o castelo.
Tudo ia muito além do sexo, que era
excepcional. Ele era romântico em um sentido formal, como se estivesse
procurando maneiras de agradar saídas de um catálogo do tipo “O Que as Mulheres
Gostam”. Mas ela sabia o quão diferente poderia ser entre eles, quando ele
permitisse que tudo fluísse. Teria sido o seu melhor presente de aniversário,
ela teria renunciado a todo o resto: castelo, brincos, a perfeição do dia, por
apenas alguns momentos, quando ela se sentiria uma vez mais como uma parte dele.
– Serge... – disse Clementine em voz
alta.
Ele andou até se juntar a ela,
completamente vestido em trajes levemente formais, como se a volta para Paris
merecesse um pouco de estilo. Clementine, em seu robe e com os cabelos
despenteados, se sentiu um pouco nua ao lado dele, mas ela possuía um vestido
com camadas de chiffon para vestir hoje e estava usando os brincos que ganhou
de aniversário.
Era imaginação sua ou ele estava um
pouco distante naquela manhã?
– O que foi kisa?
– Podemos falar sobre a noite passada?
– Ela umedeceu os lábios. – Foi incrível, mas... Há algo que eu deveria estar
fazendo? Algo que você queira de mim?
– O que você acha que deveria estar
fazendo, Clementine?
– Eu... Eu não sei. Você apenas parecia
um pouco distante, às vezes, quando estávamos juntos, e eu quero falar sobre
isso.
Ele pegou um pedaço de torrada.
– Sim, bem, dushka,
algumas coisas podem ser conversadas. Se eu quisesse uma profissional na minha
cama, pagaria por uma.
Ela respirou.
– Eu não estava falando sobre a
técnica, eu estava falando sobre emoções. Nós não parecemos mais estar
conectados da mesma maneira.
Ele fez um gesto de impaciência e
voltou para o quarto.
– Você está falando em enigmas,
Clementine. Qual é o problema? Orgasmos infinitos não são suficientes?
– Não é isso.
Por que ele estava ficando com raiva?
Ela entendia que homens podiam ser
sensíveis com essas coisas. Então se levantou e foi até Serge, deslizou seus
braços ao redor de sua cintura, encostou o rosto contra as costas dele. Ele não
retribuiu, mas também não se encolheu.
– Sexo não é apenas um orgasmo, Serge.
Você sabe disso tão bem quanto eu.
Todo o seu corpo parecia crescer,
endurecer, se afastar de Clementine, mas ela segurou.
– Da, kisa. É entre nós é.
E foi assim que ela perdeu o chão.
– O quê? – Ela deu uma pequena risada
nervosa e deslizou os braços de sua cintura, enquanto ele literalmente se
afastou dela.
– Clementine – disse ele, suavemente,
mas não foi até ela. – Paris, abandonar o mundo por um tempo, isso tudo é muito
romântico. Mas sempre tivemos apenas um vínculo sexual. Você é uma garota
incrível e eu sou um homem de muita sorte, mas não vai, além disso.
– Você está terminando comigo? – As
palavras saíram em voz baixa, que ela dificilmente reconheceria como sendo sua.
– Você me trouxe a Paris para terminar comigo?
– Claro que não.
De repente, ele parecia desconfortável
e as informações a atravessaram como a lâmina de uma espada. Ele tinha ido para lá para romper com ela. Foi
apenas por algum motivo que mudou de ideia.
Mas ele não iria amá-la. Nunca.
– Você sabe que isso vai acabar. Tudo
acaba. – Ele encurtou a distância entre os dois e segurou as mãos dela. – Eu
não vou mentir e dizer que você não representa muito para mim, você representa.
Ela queria se enrolar no canto da sala
e morrer.
Mas seu orgulho não a deixaria fazer
aquilo.
– É bom saber, Valentão – disse ela,
suavemente.
Ela puxou as mãos e caminhou de volta
para a varanda. Ele a deixou ir, não a seguiu. Sabia que ela queria chorar.
– Clementine, não acabou.
Sua voz era rouca e uma parte dela se
apegou àquilo na espera que fosse uma prova de que ele não era tão inabalável
como fingia ser.
– Não – disse ela, forçando a alegria
em sua voz. Mas estava com a cara no chão. – Eu só não gosto de falar sobre
isso. Podemos mudar de assunto?
– Estaremos dirigindo de volta para
Paris em uma hora, mais ou menos. Não há pressa – disse ele lentamente. – Eu
pensei que poderíamos ir a Versailles. Acho que Maria Antonieta provavelmente
agrada a você, Clementine.
Ela fechou os olhos. Ele a conhecia tão
bem. Ainda que não bem o suficiente para saber que ela estava apaixonada por
ele. Se Serge soubesse, certamente não seria tão cruel.
Bem, ela mentiria para si mesma. Clementine
fingiria que poderia estar com um homem que nunca iria amá-la, se tudo o que ele
poderia oferecer era “um grande negócio”.
Significar “um grande negócio” para
alguém era bom. Não era?
Ela soube então o que tinha de fazer.
Reservar um vôo para casa. Era o fim.
SERGE ESTAVA com
raiva. Ele achava que nunca sentira tanta raiva em toda sua vida. Era uma raiva
fria e resolvida que poderia ficar em suas entranhas por dias, semanas, meses.
Ele manteve silêncio na viagem de volta a Paris. Ele tinha uma boa ideia do que
estava mantendo Clementine em silêncio. O que ele esperava? Que ela estivesse
tagarelando e cantando músicas bobas e trocando doces beijos com ele, como
antes? Ele havia perdido aquela garota para sempre. Em um ato de sabotagem
necessário.
Sim, sua raiva era do tipo resolvida e
não mudaria, mas ele podia senti-la crescendo exponencialmente enquanto
percorria as belas ruas de Paris no carro esporte. Clementine começou a falar
sobre como Paris era limpa em comparação a Londres.
– Gostaria de ficar um tempo sozinha –
disse em um tom de falso doce, enquanto o manobrista cuidava do carro. – Você
se importaria se eu fosse até a suíte sozinha?
Foi naquele momento que a raiva
estourou.
– Da – disse
ele. – Eu me importo.
Ela lhe lançou um olhar que poderia
incinerá-lo e saiu à sua frente pelo hotel. Ele não tinha pressa. A raiva
estava boa, justificada, e não tinha nada a ver com Clementine.
Ela fechou a porta do quarto e se jogou
na cama.
Ele arrombou a porta.
– Vá embora – disse ela, tirando as
pernas da cama.
– Eu durmo aqui também, kisa.
– Eu já disse para você sair. – Quando
ele não respondeu, ela perguntou: – Sabe qual é o seu problema, Serge?
– Vamos lá, conte-me.
– Você é um porco chauvinista. Vive em
outro século.
Ele lançou um olhar sombrio.
– Da, kisa. Você sabe, eu tinha um antepassado
do século XVI que manteve 15 esposas, um par para cada dia da semana. Ele não
teve problemas para mantê-las na linha, mas acho que ele não a conheceu.
Em algum lugar ali havia um elogio, ela pensou inquieta, mas se perdeu no conceito de 15
esposas e no jeito que ele olhava para ela. De repente, Clementine não queria
estar na cama. Ela se sentiu inteiramente vulnerável a Serge.
Ela sabia que ele poderia dominá-la em
momentos, não com sua experiência, apesar de ser considerável, mas com sua
masculinidade pura e um sentimento tão vulnerável que ela não sabia como
poderia lidar.
Ela sabia que poderia dizer não e Serge
pararia. Mas o “não” não estava vindo e, de repente, a única coisa que
funcionaria era pele sobre pele.
Tudo o que Serge sabia quando se
aproximou dela na cama era que o desejo que sentia era mais forte que tudo que
já havia sentido antes. Ele era impelido a possuí-la e assim ele o faria.
Seu pai fora assim com sua mãe. Cenas e
mais cenas. Quebrando portas, gritos, gestos dramáticos. Para uma criança,
havia sido terrível. Para o homem adulto, ele escapava do legado de seu pai:
uma grande paixão causava destruição em um piscar de olhos.
E justo naquele momento ele
simplesmente não sabia mais o que aquilo significava.
Ele precisava do núcleo doce e quente
de seu corpo, sentir-se adentrando nela, o esquecimento de chegar ao ápice, de
não saber nada além do prazer com aquela mulher que o estava levando a
extremos.
No entanto, quando ele ficou sobre ela
e começou a lhe beijar, o beijo foi ficando mais lento, mais profundo,
prolongando aquele momento juntos. Serge não se sentia fora de controle, nem
frenético, e ele sabia contra o que estava lutando.
Não era Clementine. Nem o seu passado.
Era ele mesmo.
Do que ele era capaz e o medo que o
impedia.
O verdadeiro amor, profundo e
duradouro. Como se uma grande paixão em toda a sua glória arrebatadora fosse
tudo o que pudesse existir e ele pudesse renegá-la. Renegá-la por algo de outro
tipo: o tangível. Mas o outro lado daquela moeda controlada por aquele menino
hesitante era um desejo de ambos: amar exaltada, pura e verdadeiramente.
Os cílios de Clementine se agitaram,
toda a resistência foi embora. O rosa se espalhou por seu peito, seu rosto e
suas bochechas. Ele soltou suavemente o cabelo do prendedor e, em seguida,
sentiu seus dedos espalhados naquele cabelo sedoso e suas mãos acariciando
delicadamente seu pescoço, seus ombros, suas costas, como uma tentadora pena.
Ela o beijou como se estivesse se alimentando do beijo. Clem se agarrou a ele e
pronunciou seu nome.
Ele passeou para baixo em seu corpo e
lhe deu um prazer com a boca até que Clementine tremesse, e continuou até que
ela chegasse ao êxtase. Então ele se posicionou e a esticou, preenchendo-a,
balançando-se dentro dela lenta e suavemente até ela murmurar incoerências e
apertar as coxas ao seu redor. A sensação dos seios subindo e descendo entre
eles e as cócegas suaves da respiração em seu pescoço eram quase melhor do que
podia suportar.
– Tão bonita Clementine – sussurrou
ele, incapaz de não olhá-la. – A garota mais bonita que eu já vi.
Seus olhos transbordaram de lágrimas.
Ele gentilmente pressionou a boca contra cada pálpebra.
– Doce Clementine – murmurou contra sua
pele, com o aumento do ritmo de seus movimentos.
Ela levantou os quadris, levando-o
profundamente dentro de si, jogou a cabeça para trás e fez um som soluçando,
enquanto seus músculos internos se contraíam ao redor dele. Serge cedeu com um
gemido profundamente satisfeito, sentindo um prazer pulsando com força através
de seu corpo. Porém não era o suficiente. Mais duas vezes, ele a teve conforme
a noite avançava, absorvendo o calor do seu corpo, o cheiro de sua pele, o
choque de seu corpo dando lugar às suaves contrações dela. Até estar mole e
quieta, respirando suavemente ao seu lado.
Clementine soltou uma respiração
irregular e se perguntou por que, após a experiência sexual mais intensa de sua
vida, ela não poderia ter fôlego suficiente em seus pulmões. Ela inspirou o
mais profundamente que pôde e virou a cabeça, devorou seu olhar, fechou os
olhos, com o peito se esforçando, enquanto prendia a respiração e um brilho de
suor levemente cobrindo sua pele. Serge fora tão generoso, tão apaixonado, tão
tudo que ela queria. Só que ele não a amava e não iria amá-la.
Ela esteve errada o tempo todo. Ele
nunca a tinha visto de maneira diferente das mulheres que teve antes e,
provavelmente, teria depois dela. Clementine não confundiria sua ternura, sua
gentileza no ato do sexo, por sentimentos que ele não tinha por ela.
Ele rolou e, de repente, aqueles olhos
verdes de dragão estavam enredados nos dela. Sentiu um desespero. Daqui a
pouco, ela estaria se perdendo novamente, desejando que aquilo fosse real. Mas
não era. Lágrimas impossíveis de serem contidas encheram seus olhos,
transbordaram, derramaram-se pelo seu rosto.
Serge reclamou e a puxou contra ele.
Seus braços estavam apertados em volta dela, mas em vez de conforto, ela apenas
se lembrava do que havia perdido.
– Não chore doce Clementine, não chore
– murmurou ele.
Mas aquelas palavras não significavam
nada, não é? Nada mudaria. Um dia, mais cedo ou mais tarde, tudo estaria
acabado e seu coração, despedaçado.
– Diga-me, o que está errado?
– Eu não quero que acabe – chorou ela,
incapaz de esconder seus verdadeiros sentimentos.
Seu sangue de Tártaro transformou sua
expressão em selvagem e feroz, enquanto ele segurava seu rosto entre as mãos.
– Não vai acabar. Ouça-me, Clementine,
nada vai acabar.
Por um momento interminável, Clementine
se apegou ao círculo brilhante de sua certeza. As palavras “Mas você não me ama” morreram em seus lábios,
porque as palavras seguintes seriam “E eu amo
você... Tão completamente”. Aquilo destruiria o momento.
Ela não poderia fazer aquilo. Não
poderia lhe dizer como se sentia quando não havia nenhum sentimento nele para
uma resposta à altura. Em vez disso, ela se deixou encaixar em seus braços e
ouviu quando ele começou a niná-la em russo, sentindo os círculos imaginários
criados pelas mãos dele em suas costas nuas. Aos poucos, sua crise de choro
cessou e ela ficou imóvel e dilacerada.
Permaneceu lá por um longo tempo, até
que teve certeza de que ele estava dormindo pela profundidade de sua
respiração. Não eram nem 21h, porém ela sentia que era muito mais tarde.
Parecia que o dia nunca chegaria ao fim.
Clementine enfrentou aquilo quando
ainda era uma menina de 17 anos de idade, sabendo que a única maneira de não
deixar que as emoções a destruíssem seria partir por conta própria para o mundo
e construir uma vida nova.
Naquele momento, ela era uma mulher de
26 anos de idade e tudo deveria ser mais fácil. Só que não era. A dor a
despedaçava como as garras de um animal selvagem e ela não poderia impedir. E
quanto mais tempo ficava ali na cama, mais difícil seria se levantar e se
forçar a ir embora.
Livrando-se de seu corpo o mais
cuidadosamente possível, ela silenciosamente se vestiu, fez a mala com suas
roupas velhas e se sentou para escrever um bilhete para Serge no papel timbrado
do hotel.
Ela não sabia o que dizer e, no final,
simplesmente escreveu seu nome – Clementine. Um nome a mais para sua coleção.
Ela colocou o bilhete na mesa de cabeceira, prendeu-o com a caixa de jóias
vermelhas e olhou pela última vez o modo como dormia. Seu belo rosto masculino
parecia tão calmo, como se estivesse se libertado de algo que o havia machucado
e tudo o que ela visse, por fim, fosse uma espécie de alívio.
Um dia eu me sentirei assim também, disse a si mesma.
– Eu vou superar
você, Serge Marinov – sussurrou ela.
Mas a força de suas emoções ameaçou
dominá-la, algo lhe dizia que ela jamais conseguiria. Não completamente.
Ela precisava se proteger.
Chegara a hora de ir embora.
CAPÍTULO
DOZE
As luzes brilhantes
no terminal principal do aeroporto Charles de Gaulle queimaram os frágeis olhos
de Clementine, obrigando-a a fazer uma parada em uma farmácia e comprar um par
de óculos de sol, uma venda e alguns comprimidos.
Ao cruzar o saguão, ela se viu
procurando por ele. Na fila, enquanto esperava, até mesmo quando passou pela
segurança, metade dela esperava ouvir aquela profunda voz russa, para virar e
mergulhar em seus olhos novamente. Mas que bem aquilo faria? Ele não a amava.
Ele não a amaria. As últimas semanas foram uma fantasia. Clementine estava
certa na pequena loja de calçados quando o viu pela primeira vez: Serge era um
cossaco de uma história épica. Ele não iria atrás dela. Não mais.
Realmente acabara. Era hora de seguir
em frente com sua vida.
Ao se sentar em seu assento no
corredor, seus pensamentos se voltaram para o jato particular e ela percebeu o
quanto aquele período com Serge havia sido surreal.
Em menos de duas horas, ela estaria em
seu país adotivo e a vida começaria de novo, mais ou menos como tinha sido
alguns meses antes. Ela se lembrava de como se sentia em São Petersburgo,
quando pensou que o perdera, a pequena palestra que deu a si mesma sobre sua
experiência com Joe Carnegie, sobre como começar sua vida de maneira proativa.
Mas agora ela estava achando difícil
imaginar, tinha esquecido Joe Carnegie e não conseguia achar um jeito de viver
nos próximos dias e muito menos pensar sobre seus sonhos e ambições de novo.
Porque ela se permitiu sonhar com Serge e seus planos agora estavam em ruínas.
Um passo de cada vez, reconheceu sua
mente cansada.
Quando encostou a cabeça no assento,
fechou os olhos. O ruído no avião deixou de incomodá-la e ela dormiu.
ERAM 5H da
manhã quando Clementine chegou ao aeroporto com sua bagagem. Ela se perguntou
como pegaria um táxi, e considerou rapidamente telefonar para Luke até perceber
a hora.
As pessoas a acotovelavam por ela estar
parada no saguão, mas Clementine possuía uma mala, uma bagagem de mão e uma
bolsa e apenas dois braços. Ela se atrapalhou buscando em sua bolsa o dinheiro
para um café. Precisava de um fôlego antes de se recompor e voltar para casa.
Com o canto do olho, viu sua mala ser
levantada e retirada de sua linha de visão. Ela deu um grito:
– Ei!
Até seus olhos alcançarem aquele homem
de 1,95m, musculoso, vestindo calça jeans, casaco e uma camiseta que a
recordava da intensidade do verde de seus olhos. O choque deu lugar a uma
confusão emocional. Então ele tirou a bagagem de mão de debaixo do braço e
saiu.
– Serge!
Por um momento de choque ela ficou
imóvel enquanto ele se afastava. Com seus pertences.
– Serge! – Ela correu atrás dele. –
Espere! O que você está fazendo?
Ela se esquivou e se enveredou pela
onda de pessoas que vinham na outra direção, mas estava quase o perdendo de
vista. Ele estava com a cabeça e os ombros acima da multidão e parecia não ter
pressa. Era apenas o comprimento daqueles largos e decididos passos.
– Pare! Pare! – gritou Clementine, sem mais se
importar com o que achariam dela. Serge fora até ali por ela. Jogou-se em suas
costas no exato momento em que ele parou.
Ele jogou toda a sua bagagem e se virou
sua expressão tão feroz que ela deu um passo para trás.
– Da – disse
ele, ferozmente. – É bom que você me persiga um pouco. Como se sente,
Clementine?
– Eu não sei – falou ela sem pensar,
ainda tentando se estabilizar com sua presença. – Como você chegou aqui?
Foi à questão menos importante que veio
à mente, mas seu cérebro parecia ter entrado em um curto-circuito.
Ele fez um gesto de “não importa”,
assim como o Serge que ela amava, rei de seu próprio feudo. Como se as questões
práticas da vida que incomodavam a população em geral não tivessem nada a ver
com ele.
– Você gosta de fugir, não gosta, kisa?
Desde a primeira vez que pus os olhos em você, tive que ir atrás. Por que seria
diferente agora?
Seu tom era quase meditativo, mas seus
olhos estavam carregados e selvagens como ela nunca tinha visto.
– Eu não estou fugindo. Estou voltando
para casa. As férias acabaram Serge. Você deixou bem claro. Você me levou a
Paris para terminar comigo. – Sua voz vacilou. – O momento mais romântico na
minha vida e você simplesmente jogou fora.
Seu rosto ficou sem cor conforme as
palavras se afundavam e por um momento ela experimentou um pouco de satisfação
por ele entender quão verdadeiramente terrível tinha sido aquela experiência
para ela. Em seguida, uma profunda tristeza começou a invadi-la, ramificando-se
por cada canto de seu corpo.
– Não era minha intenção – disse ele, com
uma voz profunda e quebrada. – Clementine, por favor, acredite em mim, nunca
foi minha intenção magoar você.
Mas magoou.
Seu corpo inteiro gritava e ele estava
ali, de pé, parecendo feroz, perturbado e desesperado.
– Vá e encontre outra menina, Serge – disse
ela, com pesar. – Tenho certeza de que há milhares de mulheres sozinhas em Nova
York que ficariam felizes em tomar o meu lugar.
Ele estendeu a mão para ela,
inclinando-se e, de repente, tudo o que ela podia ver era uma agitação dentro
dele e algo mais. Algo despertado por suas palavras.
– De onde você tirou isso? Quando foi
que eu olhei para outra mulher desde que conheci você?
Por um longo momento, seu coração
parecia grande demais. Se ele ao menos estivesse sendo verdadeiro. Mas ela
sabia que não poderia ser verdade.
– Você tem um histórico, Serge. Acha
que eu estava vivendo em uma bolha em Nova York? Aonde quer que eu fosse, ouvia
sobre suas mulheres cabeça de vento. É assim que você é com as mulheres.
– Não com você, Clementine.
– Nós estávamos fazendo sexo, Serge –
bramiu ela. – Tudo se resumia a sexo. Você me disse. Como eu deveria me sentir?
Como vou lidar com isso? Eu não tenho aventuras casuais. Não sou assim.
– Eu sei que você não é assim.
Ela balançou a cabeça, sacudindo o tom
suave e persuasivo de suas palavras. Palavras sem significado, vazias.
– Eu não vou voltar com você, Serge.
Está tudo acabado.
Ele pegou sua mão.
– Não.
Não era uma declaração. Era um pedido.
Um argumento. Não.
Aquilo lhe deixou com mais raiva do que
podia suportar.
– Eu esperava mais de você, menino
rico. Você não é tão irresistível assim.
Ele não replicou e, de repente,
Clementine queria que Serge soubesse o quanto havia ferido seus sentimentos.
Mas ela também queria que ele soubesse que ele não tinha nada de especial.
– Eu conheci outro cara como você,
Serge, um ano atrás. Um cara rico que achava que só tinha que jogar seu
dinheiro para o alto e tudo passaria a lhe pertencer. Ele namorou comigo por
seis semanas. Comprava roupas para mim, pedia que eu usasse as jóias que ele me
dava e, então, ele me ofereceu um apartamento porque não queria visitar o lugar
de baixo nível onde eu morava. O problema era que ele estava noivo o tempo todo
e não tinha intenção de que eu fosse outra coisa que não sua amante. Apenas
mais um cara procurando sexo sem compromisso com uma menina fácil.
Serge estava olhando para Clementine
como se ela o tivesse socado.
Ela respirou fundo, baixando a voz.
– Só que eu não dormi com ele. Porque
compartilhar meu corpo com outra pessoa significa muito para mim, Serge. E a
única razão pela qual estou lhe contando isso é para que saiba o que eu
coloquei em jogo quando eu fui com você para Nova York.
– Clementine...
Ouviu-o pronunciar seu nome, mas ignorou
cheia de emoção, sem saber mais o que estava dizendo ou revelando e sem se
importar.
– Eu não me encontro com ninguém há um
ano... Até conhecer você e arriscar. Você se encaixa no perfil, Serge.
Dinheiro, carisma, o tipo de cara que é dono do mundo. – Ela balançou a cabeça
com desgosto. – Mas eu pensei que você fosse uma boa pessoa. Mas no final,
Serge, você é pior que ele, porque me fez acreditar que se importava comigo.
Tudo o que o outro cara fez foi me fazer de idiota.
Serge estava em silêncio. Então ele
disse, parcamente:
– Você deveria ter me contado isso.
– Estou contando agora. Eu só queria
ter um namorado – disse ela, friamente. – Eu queria ser uma garota normal para
variar um pouco, que recebe proposta de namoros em vez de propostas de
negócios.
– Eu nunca fiz uma proposta de negócios
para você.
– Claro que fez. Você me pediu para ir
com você a Nova York e meu primeiro pensamento foi: “Ótimo
outro idiota.” E adivinha? Eu estava certa.
– Nós ficamos sem tempo – disse ele,
suavemente.
– Eu sei. Por isso eu aceitei. Porque
pensei que talvez pudesse lhe privilegiar com o benefício da dúvida. Pensei que
você havia me enxergado Serge, como eu sou de verdade. Mais eu me enganei.
– Eu enxergo você. – Serge tocou sua
bochecha e, quando ela se encolheu, virou seu rosto para fazer com que ela
olhasse para ele. – Eu enxergo você de verdade – repetiu ele, com o dedo segurando
possessivamente seu queixo.
– Não, você não me enxerga de forma
alguma. Tudo o que vê é o que todo mundo vê: a Clementine sexy vivendo em seu
mundo – disse ela, com amargura. – Ontem você deixou isso muito claro. É só
pelo sexo, você disse. Apenas sexo.
– Isso não é verdade, Clementine. Eu
menti para você.
Ela ficou quieta.
O corpo inteiro de Serge estava
tensionado.
– Eu não queria sentir o que sinto por
você. Meus pais tinham muita paixão em seu casamento, Clementine, e isso acabou
com tudo. Meu pai achava que amar significava aniquilar a outra pessoa. Eu
jurei que nunca faria isso e sempre que eu me via me aproximando de uma mulher,
recuava. Até você aparecer.
Seus olhos se suavizaram ao vê-la.
– Tudo com você têm sido diferente. A
partir do momento em que a vi naquela pequena loja, vi seu sorriso, você me
convidou a entrar. Foi como ser criança de novo, seguindo você por aquele
caminho. E quando não deixou que eu cuidasse de você, fiquei perplexo. Eu não
poderia deixar você lá.
Seus olhos verdes, tão ferozes enquanto
ela lançava acusações contra ele, foram ficando ternos e seus olhares se
encontraram.
– Eu estou seguindo você desde então.
Ela piscou.
– Estou apaixonado por você,
Clementine.
Ela sentiu as pernas vacilarem.
Sentou-se pesadamente em sua mala e Serge caiu de joelhos ao seu lado, no meio
de um terminal do aeroporto, sob luzes implacáveis. Mas tudo o que Clementine
conseguia ver era o homem que ela amava à sua frente, de joelhos, declarando-se.
– Então por que você quis me afastar? –
sussurrou ela com a voz rouca, realmente não acreditando no que ele estava
dizendo.
– Medo.
Seu queixo caiu. Era uma grande
confissão para um homem como Serge e ela viu a sinceridade em seus olhos.
Acreditava nele.
– Eu não queria ser como meu pai – admitiu-o,
cheio de tensão. – Não queria destruir a mulher que eu amava. Mas, Deus me ajude
Clementine, quando eu acordei e percebi que você havia ido embora, eu sabia que
tinha destruído tudo de qualquer maneira. Eu fui exatamente igual ao meu pai.
Ele segurou suas mãos, com um gesto
estranhamente formal que a sacudiu para o chão.
– Você me diz que eu não enxergo você,
Clementine, mas eu enxergo. Porque somos parecidos de alguma maneira. Em você,
eu vejo uma menina que está sozinha há muito tempo. Vejo uma menina que se
arrisca e nem sempre acerta. – Ele foi a sua direção até estarem olhos nos
olhos. – Eu vejo uma garota que, quando fica com medo, foge. Eu não vou deixar
que você fuja de mim, Clementine. Vou persegui-la até os confins da terra, se
for necessário. Eu amo você. E sempre vou amar.
Ele respirou profundamente, como se
fizesse uma declaração.
– Sou um Marinov e é assim que amamos
nossas mulheres.
O coração de Clementine titubeou e
então começou a disparar com uma batida profunda. A esperança estava
florescendo dentro dela e doía demais, porque ela havia se decepcionado muitas
vezes no passado. As pessoas prometiam amor, mas o amor não era o bastante.
Carreiras e desejos pessoais entravam no caminho. Ela aprendeu aquilo com seus
pais.
Serge pareceu sentir sua reticência.
Ele soltou suas mãos e segurou ao redor
de sua cintura, ficando de repente tão perto que ele era o seu mundo.
– Minha vida tem sido um inferno,
Clementine, porque eu sabia que estava afastando você. No castelo, eu quis
retirar minhas palavras. No carro também. Tentei mostrar a você o que sentia no
hotel, mas não foi o suficiente. Quando eu acordei e vi que você havia ido
embora, sabia que não tinha sido o suficiente. Eu não lhe disse as palavras de
que você precisava porque para mim são muito difíceis de dizer. Sabia que uma
vez ditas, não haveria caminho de volta para você e para mim. Seria para
sempre. Você entende de verdade que
é para sempre, Clementine?
Um fluxo de emoção empurrou os pilares
rígidos que ela erigiu para proteger a si mesma e ela colocou a mão em seu
peito.
Serge olhou para sua mão, reconhecendo
o gesto familiar.
– Por favor, não diga isso da boca para
fora – disse ela.
Seus olhos se encontraram e ela ficou
impressionada com o olhar de esperança que viu. Ele não estava mais contendo
nada.
– Fique comigo, Clementine. Seja meu
amor. Seja minha.
Todo o ar parecia ter deixado seu
corpo. Seria tão fácil simplesmente desistir. Mas ela não era mais uma
garotinha, esperando que os outros lhe dessem o que precisava. Ela sabia que
precisava pedir.
– Eu quero primeiro saber como seria
ser sua – disse suavemente, com cada vez mais confiança. – Porque eu valorizo a
minha independência, Serge.
Ela lhe deu um pequeno sorriso e seus
olhos brilharam com uma luz tão forte que a oprimiu.
– Eu vou dizer o que quero – disse ele,
com seu sotaque engrossando as palavras. – Eu quero viver com você, trabalhar
ao seu lado, encher nossa casa com amigos e família e ter filhos com você. Eu
quero tudo. Mas não sei o quanto você quer, Clementine.
Ela engoliu.
– Você me disse uma vez que não queria
ter filhos.
– Clementine, eu disse um monte de
coisas que queria que você não tivesse ouvido. Quando meu pai morreu, ele
deixou para trás um caos. Eu jurei que nunca faria isso. Mas eu estava vivendo
uma vida incompleta até conhecer você. Eu quero viver plenamente, no momento, e
eu quero ter filhos com você e quero envelhecer com você.
– Eu arrisquei entrando naquela
limusine – disse ela, timidamente. – Não vejo por que não deveria me arriscar
de novo agora.
– Esqueça a limusine. Você se deparou
com um homem que mal conhecia. – Os dedos de Serge a apertaram. – Mas, kisa,
nunca faça aquilo de novo. Tem ideia de como é perigoso?
Ela olhou para suas mãos unidas,
perguntando-se como aquilo tinha acontecido.
– Você nunca pareceu perigoso para mim.
Sempre me sinto segura com você, Serge.
– Quero que você se sinta segura. Quero
cuidar de você, Clementine. Não quero você em outro país. Passaria anos
pensando nisso.
– Então não pense Valentão.
Ele a beijou suavemente, com ternura,
com uma profundidade crescente. Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele,
forjando a profunda conexão física que tiveram desde o início, simplesmente por
meio do contato de seus corpos. Mas agora ela sabia o que estava lá o tempo
todo, a ligação emocional que havia sido forjada entre eles, que ficou
evidenciada na noite anterior, que mostrava que ele a amava, porque ele não
tinha como dizer o que sentia.
Agora ela entendia. Serge nem sempre
tinha as palavras, mas ele lhe mostrou o tempo todo.
Ele olhou em seus olhos.
– Você quer ser minha esposa,
Clementine Chevalier?
Uma série de sentimentos passaram por
ela, mas o predominante era a certeza.
– Sim, claro que quero. Houve alguma
dúvida?
Serge começou a rir, seu peito vibrava
com o som.
– O que há de tão engraçado?
– Ah, minha evasiva Clementine, já
houve dúvida. Mas eu a tenho, finalmente.
– Você sempre me teve Serge. Só tinha
que pedir.
– Estou pedindo, moya
lyubov.
Meu amor.
O coração de Clementine compreendeu
aquele sentimento. Lágrimas de felicidade saltavam de seus olhos e Serge a
tomou em seus braços e a beijou.
– Vamos lá – disse ele, com profunda
satisfação. – Vamos encontrar um hotel. Quero ficar sozinho com você.
Próximo
Lançamento
PERDÃO
COM DIAMANTES
LINDSAY ARMSTRONG
– Você está louca?
Um estranho desceu do carro, já fazendo
perguntas e balançando os braços.
Uma nuvem de poeira os encobria, quando
o estranho, que quase batera em uma árvore para atender ao pedido de ajuda,
surgiu à sua frente. Ele havia desviado o carro esporte no instante final antes
de se chocar contra a árvore.
– Desculpe-me – disse ela, afobada. –
Sou Kimberly Theron. Estou com muita pressa, mas fiquei sem gasolina. Você
poderia me ajudar?
– Kimberley Theron? – indagou o
estranho.
– Se ainda não ouviu falar sobre mim,
provavelmente já deve ter ouvido falar sobre minha família – disse ela,
enxergando-o melhor quando a poeira começou a baixar.
Só então que reparou naquele homem
alto, moreno e lindo. Na verdade, lindo era pouco para descrevê-lo. Ele era
deslumbrante, devia ter 30 e poucos anos. Os ombros largos estavam cobertos por
uma camiseta cinza sobre calças cargo. Os olhos eram escuros e o cabelo, curto.
– Kimberley Theron – repetiu ele,
analisando-a dos pés à cabeça, para depois prestar atenção no carro prata
conversível, com o estofamento coberto de poeira. – Bem, Srta. Theron será que
ninguém – cruzou os braços sobre o peito – nunca lhe disse que ficar em um
acostamento subindo e descendo as saias e revelando as próprias pernas poderia
causar um acidente?
– Sinceramente – pausou ela, por um
momento, e passou à mão na testa –, ninguém nunca mencionou nada semelhante. –
Olhou para a saia e depois ergueu os olhos tão azuis quanto duas safiras. –
Sinto muito mesmo, mas até que foi divertido. Na hora não pensei em nada que
pudesse ser mais eficiente para fazer você parar.
Ele não parecia estar se divertindo. Ao
contrário, blasfemou baixinho e olhou os arredores. O sol estava se pondo,
enquanto os dois se encontravam no meio de um campo verdejante de ambos os
lados da estrada. Não havia vestígio algum de civilização e nenhum sinal de
outro carro.
– Não posso ajudá-la porque meu carro é
a diesel, diferente do seu. Onde está indo?
– A Bunbury. Bem, creio que estávamos
indo na mesma direção. Será que eu poderia pegar uma carona?
O estranho analisou Kimberley Theron
novamente e concluiu que ela devia ter 20 e poucos anos, além de ser uma mulher
deslumbrante, de cabelos avermelhados, olhos azuis, com corpo esbelto e, claro,
pernas maravilhosas.
Kimberley tinha uma incontestável
vivacidade nata, mesmo que quase tivesse causado um acidente. Mas não era só
isso. Por trás daquele humor exuberante havia uma convicção de que não era uma
mera mortal. Kimberley era uma Theron! E como se não fosse suficiente, estava
ali, implorando para um completo estranho por uma carona, sem temer os riscos.
– Tudo bem, mas você vai deixar o carro
aqui? – perguntou ele, sorrindo.
– Não – respondeu ela, hesitante. –
Além da falta de gasolina, a bateria do meu celular descarregou. Será que você
poderia me emprestar o seu? Preciso pedir a alguém em minha casa que solicite o
serviço de reboque. Não se preocupe, pois vou pagar pela ligação e faço questão
de pagar pelo diesel usado para me levar até Bunbury.
– Não é preciso...
– Eu insisto – disse, interrompendo-o e
empinando o nariz, imperiosa. Ele deu de ombros e tirou o celular do bolso,
estendendo a ela. Momentos depois testemunhou uma conversa entre familiares.
– Alô, mamãe? Sou eu, Kim. Querida, por
favor…
Em seguida, ela deu a descrição exata
do local onde estavam, disse que pegaria uma carona até Bunbury e descreveu o
carro em que estaria e o número de sua placa. Quando terminou a ligação, com um
ar de culpa, devolveu o aparelho celular.
– Espero que não tenha se importado por
eu ter dado detalhes sobre você e seu carro, mas ela se preocupa muito.
Ele a olhou com certa ironia.
– E dessa maneira não fico parecendo
tão boba – continuou ela. – Minha mãe pegou meu carro emprestado e se esqueceu
de completar o tanque. Eu estava tão apressada que nem chequei.
– Por que você está com tanta pressa? –
perguntou ele.
– Posso responder no caminho?
E leia também em Labirinto
do Coração, edição 198 de Harlequin Jessica, Na cova
do leão, de Elizabeth Power.
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